A Torre de Vigia certamente possui influências de sua cultura, afinal todos nós temos. A própria ideia de interpretação Sola Scriptura foi exatamente difundida nos EUA, visto que dos estados modernos os EUA foi o primeiro país a levar realmente a sério o Estado Laico*, sendo bem diferente do estado da Suécia por exemplo, que até hoje está intimamente ligado à Igreja Luterana, ou da Grã-Bretanha, muito ligada à Igreja Anglicana, visto que os Pais Fundadores americanos temiam que a religiosidade específica do Estado levasse os EUA ao surgimento de uma monarquia, o que lutavam contra.
Honestamente, discordo de você quando diz que os EUA podem “ajudar a humanidade. Todavia não fazem”. Em minha observação, os EUA (governo) obviamente não podem fazer isso, não podem sequer ajudar os próprios americanos que necessitam melhorar a qualidade de vida trabalhando para outros cidadãos e empreendedores em geral, não através do governo. Um dos mitos sobre os EUA citado no seu artigo aponta exatamente o oposto disso, onde mostra que per capita os EUA são o país que mais doa dinheiro a outros e que mais possui iniciativas de cidadãos para combater problemas sociais dentro do país e fora também (item 3 do artigo que você citou).
Quanto à Torre de Vigia acabo divergindo por tabela, creio que parte de sua cultura seja advinda da cultura americana por motivos óbvios, afinal a cultura cristã da qual a ideia de Sola Scriptura foi formada, e o cristianismo em si, é muito forte na América no âmbito cultural. Em termos estruturais, a Torre de Vigia é exatamente
oposta à cultura nos estados unidos. A Torre de Vigia possui uma estrutura de tomada de decisão centralizadora, enquanto que os americanos tem culturalmente uma noção muito descentralizadora de tomada de decisão e poder, por isso os Estados possuem em diversos termos muito mais poder do que o poder executivo central, e as cidades muita autonomia sobre os Estados, o que explica a existência atual das chamadas “cidades santuário” dentro de estados terminantemente contra essa política. Na cultura americana há o conceito de família e comunidade muito fortes, especialmente nas cidades rurais, o que na mente de muitos americanos devem ser uma barreira à centralização de poder. Outro conceito cultural muito forte é o que chamam de “do it yourself”, onde o governo não deve dizer como gastar seu dinheiro, como te obrigar a pagar por exemplo por um sistema de saúde estatal(conforme mostra seu artigo), e o poder central não dizer a você ou sua comunidade como viver (por isso a federalização muito forte), e você que precisa ir atrás de fazer suas coisas do jeito que desejar. Na Torre de Vigia é o oposto, caso você queira realizar alguma mudança estrutural abrupta, sempre é importante buscar a orientação de uma pessoa acima, e as orientações advindas do poder central devem ser prontamente acatadas.
KOSTA escreveu:
No fundo, o CG é um produto de seu próprio ambiente. Não tem nada de espiritual. É capitalismo religioso puro e duro levado ao extremo. Ainda por cima, é parasitário porque a Torre não consegue sobreviver sem estar em permanente simbiose com o "mundão" que tanto criticam.
A questão de a Torre de Vigia ser "capitalismo religioso puro e duro levado ao extremo", acho bem esquisita e contradizente. O capitalismo é simplesmente uma organização espontânea da sociedade onde a alocação de recursos pode ser feita com base na busca de quem queira lucrar provendo serviços a outras pessoas que volutariamente estejam dispostos a pagar por eles. Como em meu caso sou Testemunha de Jeová, honestamente não vejo uma vontade de lucro em cima de mim, no meu caso, se eu somar o que já contribuí em minha congregação de donativos e o que tenho acesso em termos de livros, os acessos que possuo através da estrutura de servidores mensalmente e manter desenvolvedores de software no Site JW e outras pessoas que são mantidas com o dinheiro dos donativos, a produção do Broadcasting, dentre outras coisas que faço uso no salão do reino e em outras esferas, com certeza estou em déficit levando em consideração o que dou e o que individualmente faço uso. Ainda assim, caso alguém se sinta “lucrado” em cima disso, os donativos são voluntários, então se alguém tem a sensação de estar sendo “lucrado”, é livre pra diminuir a quantidade de donativos e até extingui-la, portanto não considero a Torre De Vigia um “capitalismo religioso puro e duro levado ao extremo”, pelo contrário, vejo a socialização de recursos através do voluntarismo.
*Entende-se Estado Laico por sua significância original, não a impossibilidade de membros da esfera pública concorrerem por motivos religiosos (1ª emenda americana) ou crenças pessoais que levam em conta em tomar decisões na hora de votar, mas sim a impraticabilidade do Estado estar ligado a uma instituição religiosa específica.