Vale a pena a leitura para quem não viu.
É possível que a maioria dos colegas aqui do fórum saibam que Percy Harding é o nickname que uso em lugar do meu nome. O que muitos talvez não saibam é quem foi o verdadeiro PERCY HARDING. Porisso, tomo a liberdade de postar uma breve história da vida desse homem. Trata-se de uma singela homenagem e lembrança que presto a alguém que dedicou toda a sua vida a uma organização religiosa, para ser descartado como se fosse um leproso. Obrigado pela atenção.
Em 1910, aos vinte anos de idade, Percy, nascido no oeste do Canadá, começou a ler as obras do Pastor Russell e em seis meses tinha lido cerca de 3.000 páginas de matéria. Renunciou à igreja protestante da qual era membro e viu-se totalmente só com sua nova crença entre seus conterrâneos. Começou a "dar testemunho", formou dois grupos na região e realizou batismos num rio próximo. Ele escreve:
Em 1918 deixei um bom emprego para tornar-me colportor [pioneiro]. Meu território cobria centenas de quilômetros quadrados, na maior parte ao longo das ferrovias, do sul de Alberta à costa do Pacífico. Cobri também o território rural a pé, carregando duas pequenas sacolas de livros. Muitas vezes caminhava até 25 ou 40 quilômetros por dia.
Após sete anos nesta atividade, em 25 de maio de 1925, ele foi para Brooklyn, Nova York, para servir na sede mundial da Torre de Vigia. Cerca de quatro anos depois, vendo a atitude desenvolvida sob a presidência de Rutherford e a conduta de alguns da superintendência, Percy desiludiu-se. Em 1929 ele encerrou seu trabalho na sede mundial.
Apesar disso, permaneceu associado e ativo na mesma congregação de Brooklyn pelos cinqüenta e seis anos seguintes. Sobre o que aconteceu então, ele escreve:
De maio de 1925 até dezembro de 1981 permaneci na mesma congregação, até que fui desassociado por conversar sobre a Palavra de Deus com uns poucos amigos. Isto foi incrível, e no que diz respeito à Sociedade, uma atitude lamentável. A comissão judicativa tinha uma carta do corpo de anciãos de outra congregação. Eles tinham desassociado um amigo meu. Eles o interrogaram demoradamente a respeito de outras pessoas com quem tinha conversado sobre a Bíblia. Ele cedeu e disse o que queriam, mencionando meu nome dentre outros. Então, esta carta enviada pelos anciãos, incluindo coisas que eu e os demais tínhamos dito, foi-me apresentada junto com o pedido para que eu as comentasse. Eu disse à comissão que nada tinha a dizer, que o que se passara entre eu e meus amigos era assunto estritamente particular e não era da conta de mais ninguém. Prometeram-me uma cópia da carta, mas eu nunca a recebi.
Depois, começaram a fazer perguntas, e a mais importante era: "Crê que a Sociedade é a organização de Deus e que está transmitindo a verdade?" Então eu disse: "Não há nada na Palavra de Deus que indique que Deus alguma vez usou uma 'organização' para transmitir a verdade. De Moisés, passando por todos os profetas até João e Revelação, tratou-se sempre de indivíduos."
Houve três reuniões da comissão, a última em Betel. Na noite em que fui desassociado, Harry Peloyan [membro veterano da equipe de redação] fez um discurso no Salão do Reino, apresentando uma acusação que nem sequer fora considerada nas reuniões da comissão, romper a unidade da congregação. Ele distorceu 2 João 10, 11, enquanto instruía 175 pessoas a me evitarem. Após a reunião, todos saíram ordeiramente, passando por mim como se fosse um leproso.
Percy tinha 91 anos e saúde fraca. Quer se considere certa ou errada sua compreensão de certos textos bíblicos, permanece o fato de que a questão foi suscitada, não porque estivesse causando perturbação, algo que fosse evidente na congregação, mas devido a conversas particulares com amigos. Ninguém na congregação se queixara dele como "agitador" e o assunto só se tornou problema em resultado da carta da outra congregação que deu início à investigação e ao interrogatório dos anciãos a respeito de seus comentários particulares sobre temas bíblicos, feitos a amigos pessoais. (Confira a acusação contra o apóstolo Paulo e sua defesa em Atos 24:5-13.) Em viagem ao nordeste [dos EUA] em 1982, visitei Percy Harding em sua casa na Rua 6, em Brooklyn. Parecia minúsculo em relação à cadeira grande onde estava sentado, um homenzinho de aparência frágil, obviamente debilitado pela idade e pela doença.
Perguntei-me como era possível que alguém, de mente sã, pudesse considerar que uma pessoa assim, sem posição ou influência especial, constituísse um perigo tal que, apesar de seus setenta anos de associação, fosse necessário desassociá-lo e afastá-lo de seus conhecidos de toda uma vida. Achei que a organização deve se sentir extremamente insegura de si mesma, sentir uma incrível sensação de vulnerabilidade, para ver uma ameaça neste homem frágil e idoso. Com relação ao efeito que a desassociação teve em suas circunstâncias pessoais, ele escreve:
Antes disso, havia duas enfermeiras [Testemunhas] que me visitavam, quase toda semana. Faziam para mim algumas coisas que eu não conseguia fazer, e, o que era mais importante, podia chamá-las se precisasse delas. Visto que farei 92 anos em 18 de agosto, quem sabe quando virá uma emergência? Depois que fui desassociado, liguei para uma das enfermeiras. O marido dela atendeu e disse: "Ann não tem permissão para falar com você."
Quero dizer novamente que a única coisa que os anciãos têm contra mim é que conversei com uns poucos amigos sobre a Bíblia.
Em conversa com Percy, percebi que ele falava de modo muito franco. É possível que tenha usado de excessiva franqueza quando se reuniu com os anciãos que o julgaram. Mas, mesmo que tenha sido mais que franco, tenha sido cáustico, até impertinente, como justificar a expulsão de um homem de 91 anos, solteiro, sem parentes por centenas de quilômetros, descartando- o, junto com seus mais de setenta anos de associação ativa, como alguém a ser ignorado e esquecido? Que crime hediondo cometera ele que justificasse isto? Acho difícil entender como alguém que diz ser discípulo do verdadeiro Pastor das ovelhas, Jesus Cristo, possa tomar parte em tal ação, que em minha opinião só merece ser chamada de cruel. Todavia, conforme já dito, isto ocorreu exatamente às portas da sede mundial da Sociedade Torre de Vigia.
Percy agora está morto, pois faleceu dormindo em 3 de fevereiro de 1984. Durante os vinte e cinco meses seguintes à desassociação dele, nem uma única pessoa da congregação com a qual ele se associara por 56 anos veio vê-lo ou saber se precisava de algo.
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