Já acompanho o fórum há pouco mais de 1 ano e havia tentado acesso ao fórum, mas, até onde eu sabia, não tinha sido liberado antes. Porém, vamos voltar um pouco no passado e explicar como cheguei até aqui no fórum dos "temidos apóstatas" [peço perdão de antemão caso o relato fique extenso e pelos erros de português].
Não tenho família TJ (com exceção de uma tia-avó, irmã da minha avó paterna), no entanto, desde a infância tive contato com a seita. Na rua em que eu residia também moravam outras três/quatro famílias de TJ, então sempre via as TJs irem para Assembleia, Congressos, campos e etc. Como também pais expulsando filhos de casa por terem pecado. Ainda assim, era uma criança e pouco entendia disso tudo, no máximo eram pessoas que se "vestiam bem" e ótimos vizinhos para os meus pais.
Paralelo a isso, minha tia-avó - que morava na cidade ao lado - tinha alguns contatos com as TJs, mas não abria estudo, pois o seu marido - que era abusivo - não a permitia.
Como, então, cheguei na Seita? Não lembro bem o ano, mas essa minha tia-avó perdeu um filho num acidente de moto e o seu marido simplesmente saiu de casa para morar com outra mulher. Toda essa reviravolta foi um prato cheio para as TJs que logo iniciaram um estudo bíblico e a apresentaram a "bela promessa" da ressureição. Após esses eventos, meus pais acordaram com a minha tia-avó para que minha irmã e eu alternássemos e passássemos os fins de semana fazendo-lhe companhia (ela tem outro filho, porém, por razões pessoais e de trabalho não parava muito em casa).
Foram nesses fins de semana - e também alguns dias durante as férias escolares - que o meu contato com as TJs começaram a aumentar a nível de doutrina.
Nessa época eu tinha 8 anos e lembro de acompanhar o estudo da minha tia-avó e assistir às reuniões e às vezes assembleias/congressos. Cheguei até a ir na reunião que era chamada de Estudo de livro (acho que o livro era o de Revelação, na época, não entendia muito bem). Como eu gostava muito de ler, as instrutoras da minha tia me deram uma brochura
Logo eu me interessei pelos ensinamentos e comecei um estudo no Grande Instrutor com a esposa do meu vizinho, que logo me encaminhou para estudar com o marido.
Os fins de semanas/dias de férias com a minha tia-avó cessaram, pois minha avó mudou-se para mais próximo da minha tia [especificamente na mesma rua]. E, como minha tia "progredia" mais a cada dia, lógico que logo estava cercada do amor que nunca acaba.
Meu primeiro estudo não durou muito, pois meus pais também se mudaram para próximo da minha avó. 1 ano depois quando retornamos para a cidade de antes, basicamente todas as famílias de TJs haviam se mudado (muita história que não cabe aqui nesse relato). Enfim, quem dera se o meu que meu contato com a seita chegasse ao fim.
A realidade que não muito tempo depois (já nos meus 9-10 anos) fui contatado pelas TJs e aceitei novamente um estudo no livro Grande Instrutor. Meus pais, que são católicos, sempre me colocaram duas restrições: não poderia pregar e nem me batizar antes dos 18 anos. E assim começou mais uma jornada. Foram 4 anos estudando o livro Grande Instrutor com duas irmãs (sim, foi bem demorado kkkk E sim, eram duas irmãs que dirigiam). Nesses três anos as duas irmãs se tornaram amigas da minha família, quando eu aprontava, minha mãe ameaçava me entregar para elas... No entanto, eu não "progredia" porque não assistia às reuniões, mas era visto como um grande prodígio. Alguém que tinha potencial. "Jeová atraiu você". E, além disso, eu tinha bastante contato com outros irmãos da congregação. E eu, na pré-adolescência, acreditava que havia encontrado a verdade.
Quando comecei a estudar o finado Bíblia Ensina (ainda o amarelo), precisei me mudar novamente por algumas questões pessoais e passei a morar com minha avó. Dessa vez foi mais um período sem estudar com as TJs [e quem dera tivesse continuado assim], porém sempre que eu ia visitar meus pais, eu passava na casa das irmãs que foram minhas instrutoras e sempre incentivado a procurar um varão para dirigir o meu estudo.
Resumo da ópera: fui contatado num campo, disse que já havia estudado, o ermão ofereceu um estudo e eu novamente aceitei.
E aí foi só ladeira abaixo: 8 anos de invalidação pessoal, de tramas e fofocas e muita repressão. Além de brigas familiares por não participar de festividades.
Comecei a jornada de "progresso" aos 14-15 anos. Todas as brigas familiares eram ainda mais combustível para a cena que foi pintada em minha mente "Jeová escolheu você!!!". Pela minha "história bonita", muitos se aproximavam e acabei fazendo muitos "amigos". Era considerado exemplar para a congregação e outros do circuito (e não digo isso com orgulho, ou querendo me aparecer). Além disso, como minha tia-avó havia se tornado TJ, buscávamos o apoio um do outro.
Retornando à restrição dos meus pais, depois de muita briga, consegui ser liberado pela minha avó para ser publicador não-batizado aos 16 anos. A restrição do batismo continuou, então eu decidir "perseverar" [e realmente me batizei aos 18 anos].
Eu era um prático beato JW, seguia a cartilha direitinho com uma exceção: graças à minha família não-TJ, eu ingressei na faculdade após o Ensino Médio - aos 16 anos. Como a congregação que eu fazia parte era de classe média-baixa, exista sim um preconceito quanto ao Ensino Superior, no entanto existiam alguns membros que já haviam feito. E como eu era um bitoladinho de primeira classe, eles não pegavam no pé. Até porque, até as amizades que eu fazia lá, eram mínimas e conheci vários outros TJs na Instituição de ensino.
Pela manhã eu estudava e em outros horários pregava ou participava de outras atividades teocráticas. Estava sempre ocupado com a Torre.
Porém nunca fui designado SM, pois eu tinha a "língua solta". De que maneira? Eu nunca me calava e lançava a real independente de quem o ermão fosse. Fui várias vezes "aconselhado amorosamente" para mudar, pois era apena isso que me impedia. kkkkkk
De resto, até do território da congregação quem cuidava era eu.
Porém, o bitoladinho tinha um "espinho na carne": a minha sexualidade. Foram anos lutando contra mim mesmo, achava que o que eu sentia era errado. Me martirizava quando via pornografia ou semelhante. Corria para ler fontes de matérias dos ermãos que eram LGBT, mas Xofá os libertou, li de cabo a rabo várias vezes todas essas fontes e estudei várias vezes os livros Jovens Perguntam. Mas orações e estudos não me mudavam.
Cheguei a me abrir com dois anciãos (separadamente) sobre meus sentimentos e, por incrível que pareça, ambos foram o menos preconceituoso possível a nível TJ. Além de terem sido discretos, não contaram para nenhum outro ancião (isso eu afirmo com certeza por provas que tive posteriormente). Me deram conselhos e todo o blá blá blá. E nunca me trataram diferente depois disso.
Até que em 2020 veio a pandemia. No início das mudanças, eu era bem ativo e ajudei com alguns arranjos, porém, como minha internet de casa era horrível, eu passei a ficar de câmera desligada e já nem fazia mais partes nas reuniões e muito menos comentava. Pregação eu entrava (inclusive dirigia uma saída), mas era mais pra enrolar e ficar botando o papo em dia.
Acredito que essa começou a ser minha virada de chave. Como já não me encontrava ocupado com as questões TJs, passei a dar menos importância para essas atividades.
Até que, por coincidência, consegui um emprego durante a pandemia, o que me ocupou ainda mais em relação à Torre. Ainda tinha contato com os ermãos (às vezes contrariávamos as orientações do CG e nos juntávamos para se encontrar pessoalmente) e também fazia umas horas de enrolação. A empresa que eu trabalhava era de TJs e aí os meus olhos começaram a abrir ainda mais sobre a real face desse povo santo. Também nessa época conheci alguns paqueras de fora da Torre e comecei a ficar com eles (no começo a consciência bitolada gritava).
Adiantando meu monólogo (kkkk), chegou uma época em que eu já não suportava mais a ideia de ser TJ ainda que eu continuasse a acreditar que era a verdade, eu pensava que gostaria de viver minha vida como a pessoa que eu realmente era. Ainda assim, me questionava diariamente se era a escolha correta a se fazer. Se eu saísse das TJs, para onde eu iria? Não tinha amigos achegados fora da Torre, além disso, havia se passado 10 anos desde que eu tive contato com esse universo religioso, minha família já não ligava mais para minha religião.
"Vou jogar toda a minha história fora?", era o meu principal questionamento.
Em dezembro de 2021, pedi dissociação pela primeira vez (isso mesmo, primeira vez kkkk). Enviei uma carta que, de certa forma, revelava muitas dúvidas em querer sair ou não. O ancião que recebeu minha carta, não acreditou e me implorou por um encontro presencial.
A torta de climão foi grande, ninguém acreditava e nem imaginava o motivo. Além de me pedirem várias vezes para reconsiderar. "Você é amado", "Vai ser uma queda na congregação" e "Imagine o que você passou". Um dos anciãos que anos antes eu havia desabafado sabia, mas me pediu permissão para falar o motivo. Depois disso, ainda assim não mudaram. Me pediram para reconsiderar. E nem perguntaram muitos detalhes: apenas se a pessoa com quem eu tinha pecado era conhecida (desconfiavam que era o filho de uma irmã kkk). Por fim, me pediram tanto que eu reconsiderei.
Não fui repreendido, não fui desassociado. Nada. Apenas passaram pano e vida que segue.
Logo, meses depois, as reuniões presenciais voltaram. E ainda assim me convidaram para continuar cuidando do som, já que eu cuidava antes da pandemia. Por incrível que pareça, nenhum dos tratos comigo mudaram. Então eu pensava que "o amor que nunca acaba" era muito real. Ledo engano.
Meses depois, quando foi anunciado o retorno da pregação de casa em casa em setembro de 2022, eu me vi novamente confrontado com a decisão de cair fora. Resolvi passar 1 mês longe das atividades torreanas e poder me decidir. Também tive o apoio de alguns amigos não-tjs.
Nesse mês que passei fora, o love bombing foi enorme. Mensagem atrás de mensagem, ancião me mandando mensagem, inclusive até pessoas que em eram da mesma congregação. Alguns eu ignorava, outros eu respondia. Existem alguns outros detalhes que só tornariam o relato maior, mas adiantando: certo dia tomei minha decisão e, quando um ancião me contatou, mandei logo a real.
Outra reunião, vários outros apelos, mas dessa vez eu fui irredutível: Não quero mais ser TJ.
E foi aí que o amor que nunca acaba, acabou. Cheguei a ir no dia do anúncio e fui recebido por um love bombing, até que no final o anúncio foi dado e minha vida - no meio TJ - virou um inferno. O ostracismo, que já era esperado, veio também acompanhado de muitas histórias criadas com o nome. Histórias que até hoje são criadas e reinventadas. Histórias essas surgindo de pessoas que eu jamais imaginei.
Para minha sorte, não tenho família TJ, porém o ostracismo não deixou de me atingir emocionalmente por um bom tempo.
Conheci o fórum no período que me preparava emocionalmente para a saída da Torre (através de uma tese de Mestrado que falava sobre o ostracismo). Por um tempo relutei em aceitar acessar os tópicos e também relutei em aceitar as coisas que eram ditas aqui, mas, com o tempo, tudo isso foi esclarecendo na minha mente.
A nível pessoal, minha família me apoiou bastante na saída da Torre e aceitaram minha sexualidade, me aceitaram como sou. Atualmente faço terapia para lidar com algumas questões do tempo da Torre. Ainda tenho muito poucos amigos fisicamente, mas tenho alguns grupos de amigos virtuais, inclusive estou em um grupo de Telegram que encontrei aqui no fórum. Já estou por lá há 1 ano (ou pouco mais) e somos bem engajados.
No mais, a vida está indo e espero conseguir contribuir para o fórum com várias outras histórias que ainda não consegui contar aqui nessa apresentação!