Uma breve história

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Antoniodospratos
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Uma breve história

Mensagem não lida por Antoniodospratos »

Boa tarde a todos, eu nasci na "verdade", filho de um ex ancião, mas não me batizei, só minhas 2 irmãs. A minha família deixou de ser tj por volta de 2006. O meu pai perdeu o cargo de ancião e não foi mais. A minha mãe que já era "fraca" tbm não foi. E minhas duas irmãs, que eram pioneiras regulares, já haviam desistido da vida tejotiana, porque ela estavam namorando "mundanos". Até hoje eu não sei exatamente o porquê do meu pai ter perdido o cargo. Eu dirigia carro aos 13 anos, escondido, quando fui pego por um ancião chatô daqui. Eu acho que foi por causa disso. Já minha mãe nunca gostou dessa vida de serviço de campo e de tá indo pro salão regularmente. Eu acho que, pelos meus cálculos, eu passei uns 20 anos lá dentro, contando as idas e voltas. Aos 14 anos comecei a namorar escondido em finais de bairros, em ruas escuras. Algumas vezes meu pai andava à noite pelas ruas a minha procura quando os seus gritos de me chamar ao pé do portão de casa não funcionava. Já as minhas irmãs tbm já namoravam com "mundanos". As duas já haviam desistido de serem pioneiras. Isso foi uma decepção para o meu velho. A sua família estava desmoronando. A mãe sempre fraca, xingando os irmãos e chamando os pretendentes tjs de minhas irmãs de pé rapado sem emprego, já eu nem me batizei e dava dor de cabeça para ele, e então as duas filhas que ele tanto gabava estavam namorando à noite. Isso foi a gota d'água. Uma vez, eu e ele saímos no encalço delas à noite para pegá-las no flagra, era hipocrisia minha porque eu tbm namorava escondido, mas procurá-las era uma diversão. Eu ia atrás delas na pracinha da cidade que se amontoava de estudantes à noite. Às vezes, elas me contaram depois, que ao nos ver, escapuliam pela multidão. Alguma vez a mais velha chegava em casa à noite chorando, raivosa. O pai a chamara de forma ríspida no meio da galera da escola que estava pracinha. E quando ele chegava em casa havia uma briga entre ele e minha mãe. E foi assim por uns 3 anos. Ele vigiando os filhos para não fazerem as coisas erradas. No salão eu não prestava atenção, era apenas um pré adolescente que comentava duas frases da sentinela sem dar explicação nenhuma. Como não me batizei, me davam discursos de leitura. O saco de ir no serviço de pregação era muito chato. Eu só ia no último domingo do mês para fazer 2 horas no relatório. E dava voltas no quarteirão só pra não bater de frente com o grupinho da rua, que ficava me encarando com zombaria ao me ver todo arrumando com a bolsa, mas eu olhava para eles, dizendo mentalmente, vcs vão me pagar seus fdp. A minha família era tida como exemplar aqui na congregação e algumas vezes fomos entrevistados no salão, mas em casa era só briga, a mãe com raiva do fuxico no salão, as duas irmãs com a cara emburrada só querendo saber das amizades da escola, toda aquela família linda estava acabando, não era mais aquela família que se vestia às 5 da manhã para ir caminhando até o salão para ir na programação de ônibus até a assembleia. A nossa programação de marcar a sentinela no domingo à tarde não mais acontecia e a leitura do livro Examine antes do almoço estava acabando também. As novelas das 8h não eram mais desligadas e até o meu pai, quem diria, quando ia jantar, assistia um pouco a novela enquanto comia. Até o BBB a gente já assistia. Eu já via as vizinhas banhando nos quintais e já tinha perdido a virgindade, ou achava que tinha perdido, porque eu até tinha revista de mulher pelada escondido no quanto, e aquilo me dóia, eu sabia que ia ser destruído e acreditava na “única religião verdadeira”. A nossa casa hospedava os superintendentes que tinham um quarto só para eles e um banheiro também, e uma vez a mulher do super meu viu assistindo tevê as 2h da manhã, na band, que tinha filme erótico, e no outro dia falou com a mãe. Já estamos no final da família perfeita aos moldes da org. Nosso carro gol não era mais táxi para irmãos que moravam longe e nossa casa deixou de ser guarida de superintendente e não fazíamos mais recreações como antes. E também foi quando meu pai perdeu o cargo de ancião e ele passou a assistir novelas da globo, jantando e bebendo coca cola no sofá. A gente não tinha mais o hábito de comer em família na sala da cozinha e agora cada qual se servia a hora que quisesse. E ele não me gritava mais no pé do portão e as meninas chegavam até mais tarde. E as revistas sentinelas e despertai se amontoavam na estante da sala sem ninguém tocá-las. Nesse tempo os dois sofá da sala eram furados nos assentos e a gente encobria os furos com as almofadas quando os irmãos apareciam, mas agora a gente não se envergonhava mais, e o pai os recebia sem parar de comer e assistir tevê, como se não tivesse mais aquele decoro cristão de prestar atenção no que os outros diziam. Os irmãos apareciam, conversavam e iam embora sem imaginar que a gente até nos escondia para não atendê-los. Apesar dele ter perdido o cargo de ancião, o pai continuava indo, chamando minha mãe que dizia a ele que não queria ir mais. E lá deram a ele o privilégio de volante e indicador, coisas que ele não fazia antes, já que dirigia a sentinela. O meu velho era tão garboso naqueles paletós caros quando fazia discursos e tinha um jeito até bonito, de intelectual, quando olhava para a assistência. E depois quando perdeu o cargo, parece que até tinha ficado mais velho e ele fazia algo que parecia não saber e ficava atarantado ao andar com o microfone a ponto de os fios o fazerem tropeçar. Nesse tempo emagrecera por causa da diabete. As meninas já haviam trazido seus namorados “mundanos” para namorar na porta de casa e a mãe os recebia com muita atenção. As propostas das meninas namorarem irmãos sem futuro já haviam sido descartadas pela minha mãe. E acho que nem os tjs queriam ao verem “fracas”. E a mais nova até ria ao dizer que um dia tinha beijado um irmão como se tivesse beijado um pedaço de isopor e não tinha sentido nada. Eu continuava namorando nos escuros, em finais de bairro. E foi nesse tempo da novela das oito, quando a Debora Seco queria fugir para os Eua, na novela América, que o meu pai se tornou um noveleiro de carteirinha. E parece que ele não ligava se alguém o pegasse no flagra assistindo. Eu também não ligava mais se algum irmãozinho me pegasse jogando Mortal Kombat nas locadoras. A família feliz da organização parecia não existir mais. Foi nesse tempo que o meu pai começou a faltar nas reuniões. Como ainda trabalhava, parecia que chegava tarde de propósito em casa. As horas de campo já eram poucas e nossa casa deixou de ser saída de campo. O superintendente nem dava às caras e uma irmã meio que profetizara que um dia meu pai ia trair a minha mãe ao saber que ele assistia novela. O meu instrutor ainda vinha em casa me ver. Aquela alegria do instrutor quando via os livros da torre de vigia na estante da nossa sala de estar ia acabar anos depois, pois ele achava que aqueles livros à amostra iam nos incentivar a voltar, mas com o tempo o cupim os corroeram e ficaram úmidos e eu e minha mãe amontoamos todas as revistas e livros no final do quintal e tocamos fogo. Tem a parte 2, mas já está bom até aqui, obrigado por me receberem
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TheScientist
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por TheScientist »

Nao tao "breve historia" mas confesso que me prendeu a atencao, e esperando a parte 2.
"O sonho acabou. O que mais eu posso dizer? O sonho acabou ontem... Deus é apenas um conceito." (John Lennon)
Linotim
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por Linotim »

Foi interessante o seu relato. Prendeu a atenção.
Livre de autoridades eclesiásticas e do sentimento de culpa.
Aoutra
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por Aoutra »

Olá
Seja bem vindo!
Quando possível, conte-nos a parte 2.
Abs
TJdesapontado
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por TJdesapontado »

Seja bem-vindo! Sua história de vida me prendeu, conte-nos a parte 2. Abraços!
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jurado8
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por jurado8 »

Bem vindo meu friend!

Você escreve de um jeito gostoso de ler. E sinto uma "inveja branca" ao ver sua história pois, como já disse aqui, meu maior arrependimento da vida é um dia ter sido muito certinho. Acordei, ainda fiquei um tempo PIMO sem aprontar e só fui aprontar perto dos 30...daí você já fica sem jeito [e também sem com quem] para praticar essas peripécias que são comuns na adolescência, como você colocou aí. São fases passadas e não vividas, não adianta tentar viver artificialmente e atrasado.

Aguardo a parte 2 e sua participação conosco nos tópicos.

Acho muito bacana a libertação de sua família mas gostaria de saber também se vocês tem consciência que tudo lá é uma grande prasepada, sabe? Porque não adianta só sair. É importante sair e ter consciência que tudo não passa de um grande engano. Porque se não, depois, numa fase diferente da vida tipo aos 40, 50 anos ainda corre o risco de voltar achando que é o lugar certo, que Jeová sempre está de braços abertos ou que é um bom lugar para criar filhos.

Abraços

"Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso.”
Melanie Klein
Lolah
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por Lolah »

Gostei do seu relato! Você narra os acontecimentos como sendo alguns na época da novela América, então já faz muito tempo. Seus pais e suas irmãs como estão hoje? Outra coisa que me deixou curiosa, alguns termos que você usa como quando diz que namorava "no final dos bairros". No caso é no Brasil ou em outro país? Achei interessante. Volte pra nos contar mais!
"O inferno são os Outros” (SARTRE)
:D1
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Tyrrhena
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Re: Uma breve história

Mensagem não lida por Tyrrhena »

:w3lcome:

Não tinha lido sua apresentação antes e nem tinha te desejado boas vindas.

Mas prendeu minha atenção também, gosto de ler as histórias e conhecer um pouco da experiência dos colegas. E nossa, para você ver que até quando vocês eram uma família TJ exemplar - de acordo como você mesmo colocou - isso só o era na "capa" em casa, muitos dos problemas que tem como causa a repressão e a consistente necessidade de ostentar uma vida cristã perfeita.

Espero a parte 2 ou vou procurá-la caso já tenha postado.
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