Apresentação Lilac

[Lilac]

Olá a todos.
Obrigada por me aceitarem no fórum, eu já frequento aqui há alguns meses, mas só agora tive “coragem” para me cadastrar.
(Se é que se esconder atrás de um perfil falso pode ser considerado coragem :/)
Minha história é parecida e ao mesmo tempo diferente com a de todos. Parecida no sentido de anos de dedicação, acreditando cegamente estar no caminho certo, de ter a certeza que encontrei a “igreja certa” que eu tanto procurava.
E posso dizer que é diferente pq não nasci num lar Tj, nem tive parentes ou acesso a elas antes de estudar a bíblia. E eu era só uma criança quando sai em busca do que eu chamava de a “igreja certa” onde Deus certamente estaria.
Eu tive uma infância muito difícil, infância de abandono, fome e abusos. Ao mesmo tempo minha mãe, que era o lado bom da minha infância, me ensinava a amar a Deus, ser grata e Tb que eu deveria ser uma pessoa estudiosa pq só assim eu poderia mudar minha realidade. Muito novinha comecei a frequentar a biblioteca pública da cidade, éramos pobres e não tínhamos TV, então ler livros era meu passatempo. Sempre fui muito reflexiva e mesmo lendo um livrinho infantil eu refletia em coisas maiores do que a história contada. Eu lembro de uma vez que li um livrinho que mostrava o pai voltando pra casa depois do trabalho e o filho pedia pra ele ajudar nas tarefas da escola, ele respondia que faria isso depois do jantar. O livro mostrava a figura da família na mesa de jantar e depois os dois, pai e filho, fazendo as tarefas da escola. Eu tinha 7 anos e chorei muito. A moça da biblioteca me perguntou pq eu estava chorando... Eu lembro que respondi que queria muito ter aquela comida na mesa e um pai pra me ajudar nas tarefas. Naquele dia orei muito a Deus pedindo pra ele me mostrar que Ele existia e o que eu estava fazendo de errado, eu queria corrigir pra ter uma vida melhor. E foi assim que passei a frequentar várias igrejas em busca de Deus. Dos 8 aos 12 anos eu fui em todas as igrejas que vc possa imaginar e tb centro espíritas. Às vezes, eu ia sozinha outras vezes com algum conhecido ou parente. E é claro que conforme eu ficava mais velha, minhas dúvidas eram maiores e mais “profundas”, mas nunca me senti satisfeita, até que... Recebi uma visita de duas mulheres no meu portão, elas eram muito inteligentes e com muitas respostas. Senti que era Deus finalmente olhando por mim, me enviando ajuda, um resgate. Na primeira visita, elas deixaram o livro Conhecimento, me disseram o que fazer e marcaram de voltar na semana seguinte. Eu nem dormi, li e marquei aquele livro todo de uma só vez...
Eu estava em êxtase! Aos 13 anos já estava ativa na organização, com a certeza de que se a verdade existisse era aquela ali, caso o contrario, não havia verdade em lugar algum pq eu tinha procurado demais até encontrar. Arrastei minha família toda pra dentro dela e mais tarde formei minha própria família ali dentro Tb.
Meu marido se tornou um ancião muito querido e popular, orador de congresso e conhecido como alguém divertido e acessível aos jovens... Nós éramos a família exemplo... Foi exatamente aí que comecei a me sentir incomodada.
A pressão que vinha disso, de parecer perfeita, de ter uma conduta impecável... Onde o parecer era mais importante que SER, estava me destruindo. Sou muito emotiva, injustiças me afetam muito. Acredito que pessoas mais emocionais do que racionais sofrem muito ali. Eu fiquei pq tinha convicção que Jeová corrigiria tudo no tempo certo. Jeová tem seu próprio tempo, afinal eu supliquei por 6 anos até alguém bater na minha porta, isso fazia eu entender que o tempo de Jeová é diferente.

Meu “despertar” começou quando vi o documentário no canal A&E, eu estava sozinha em casa quando coloquei nesse canal, eu não vi a princípio do que se tratava, vi uma moça descrevendo o abuso q sofreu, eu estava trabalhando num projeto e só escutando, achando o maior dos absurdos o que eu estava ouvindo (eu fui abusada antes de entrar na organização e sei exatamente o que é, a vergonha, o medo e a culpa) eu estava enojada quando de repente ouvi “Jeová” “Testemunhas de Jeová” Tudo ficou preto por alguns segundos e eu tremi muito, meu chão caiu, achei que iria morrer naquele instante.
Não sei nem descrever, senti medo pq achei que era conteúdo apostata, mesmo com medo continuei assistindo, eu reconhecia os documentos timbrados as coisas faziam tanto sentido... Como assim? Sempre achei que as pessoas são imperfeitas, mas CRIMES?
Esconder para não manchar o nome de Jeová? Seria muito mais honroso termos a fama de que a organização de Jeová não aceita pedofilia, que caso alguém no nosso meio cometa um crime, nós mesmos tratamos de colocá-lo na cadeia. O nome de Jeová seria glorificado se todos soubessem que a comunidade é unida e se apóia pra fazer o certo.
Hoje eu me encontro em depressão... A vida não tem feito sentido e desejei muito apenas dormir e não acordar mais. Minha vida é uma mentira. Não posso sair disso sem causar um imenso estrago. Minha mente está desperta e meu corpo preso, como numa eterna paralisia do sono. Quero gritar, mas não posso. Quero sair correndo, mas não consigo. Amo demais meu marido, e ele não quer sair, é muito conhecido e tem muitos amigos, incluindo toda nossa família. Pela 1º vez, em mais de 20 anos de casamento nós discordamos. Além do mais ele ainda não está totalmente convencido. Não sei o que fazer... Só queria q tudo acabasse. Queria que pelo menos o Armagedom fosse verdade pra levar uma pedra de saraiva na cabeça e acabar com esse sofrimento. Eu sou daquela decidida, se isso é o certo, então é o que vou fazer. Meu esposo é daquele que precisa de mais tempo pra processar. Mas já entregou o cargo de ancião pelo menos. O que ta sendo muito repercutido aqui. Esse fórum e suas histórias tem me ajudado a não me sentir sozinha. Comecei a terapia e tenho um longo caminho pela frente.
Quero que saibam que sinto que são meus amigos... Dou risada e choro com vcs (como podem perceber eu choro muito rsrs) Vários tópicos quase me fizeram registrar só para poder comentar, mas o que me fez tomar a decisão foi quando o Rapha estava triste por não ir ao casamento do irmão (eu chorei naquele dia, de novo) eu queria colocar minha opinião ali, mas não tinha registro ainda.
Eu teria muito mais coisas pra escrever, mas acho que escrevi demais, foi mal galera...
Acabei de descobrir que não sou tão boa em resumos, aliás, dá pra resumir 27 anos de organização em algumas linhas? Rsrs
Talvez não tenha me saído tão mal assim...

[Daenerys]

Sinta-se acolhida, Lilac

Que o fórum possa te ajudar a atravessar esse momento difícil!
Cuide de sua saúde mental, procure ajuda especializada, aqui no fórum mesmo tem algumas pessoas que podem orientá-la quanto a isso. É muito difícil passar por tudo isso sozinha.
Conte conosco!

[Pepita]

Não, não precisa pedir desculpas por escrever bastante. Um respeitoso e significativo texto longo é bem vindo, quem não quiser que não leia. Sua história é comovente e ajuda muitas pessoas que passam por situações parecidas. Naquele tópico do Rapha também fiquei com vontade de estar ao lado dele pra dar um abraço, pois passei por um acontecimento similar. Essas situações tocam nosso coração, mexem com nossas emoções.

E sim Lilac, você é muito corajosa sim. Pense no tanto de barreiras psicológicas que uma TJ tem de enfrentar até conseguir chegar aqui e se apresentar.

Seja muito bem vinda.

[ROCKEIROSM]

Lilac, seja bem vinda!

Sinta-se acolhida. Sei bem como é esse sentimento de vazio quando a venda da organização é tirada de nossos olhos.
Conte conosco.

[MateusBarbosa]

Lilac, com certeza é uma barra muito pesada a pessoa ser bastante emotiva, dar tudo de si por 27 anos, e depois descobrir esse monte de engano que envolve as TJ. O que você vai fazer dependerá muito dos pontos de vista que estiverem estimulando sua mente. Eu por exemplo achei que seria mais honesto comigo mesmo se tornasse claro para as pessoas lá dentro que eu não acreditava mais, que o corpo governante representava um sujeito impostor dentro do cristianismo (porque eu me importo com este assunto). Porém o resultado foi que consegui ajudar somente uma das milhares de pessoas que conhecia (duas com minha esposa) e em questão de dias a comunicação acabou definitivamente para com todos estes outros milhares. Por isso a coisa ficou confusa pra mim porque, resumindo: não tenho mais nada com essa organização, porém não consigo ajudar ninguém a sair! Para meus objetivos não seria melhor eu ter simulado "fraqueza espiritual permanente" e ficar lá, conversando, jogando verde, simulando e nunca mais ajudar ninguém a entrar e também nunca mais ajudar com um mísero centavo, limpeza ou qualquer outra coisa que favoreça tal organização? Sinceramente não sei qual o melhor caminho e tem também as motivações de quem desperta.

[Lourisvaldo Santana]

É uma história e tanto, Lilac!

Na descrição de sua infância, a peregrinação por igrejas à procura de respostas, à procura de Deus, meio que peregrinei com você, envolvido por suas palavras. A tática de convencimento das TJs é muito bem elaborada, de modo que pega muito facilmente algumas pessoas. Pegou você, pegou a mim e a milhões de outros. A parte boa é que pega a um ritmo cada vez menor. Torcemos para que um dia pegue menos do que o número de pessoas que deixam a religião.

É isso, bem vindo a uma nova família!

[jurado8]

Lilac, que apresentação ein!

Que legal que se registrou. Comentando alguns pontos:

Obrigada por me aceitarem no fórum, eu já frequento aqui há alguns meses, mas só agora tive “coragem” para me cadastrar.
(Se é que se esconder atrás de um perfil falso pode ser considerado coragem :/)

É coragem sim. A colocação das barreiras que uma TJ enfrenta antes de se apresentar aqui é muito real. Eu mesmo demorei anos para me cadastrar aqui. Quando eu fiz minhas pesquisas e descobri "a verdade sobre a verdade" demorou um ano para eu enviar um email para um 'apóstata'. Minhas mãos tremiam e tudo mais. No início, até ler este fórum ou ver vídeos também me causavam muito mal estar. Portanto, se cadastrar no fórum é um ato de coragem. O fato de cada um de nós aqui [ou a maioria, pelo menos] se esconder por detrás de um nome e imagem falsos é porque ninguém aqui é otário de colocar a foto e ter todas as relações familiares rompidas.

E é claro que conforme eu ficava mais velha, minhas dúvidas eram maiores e mais “profundas”, mas nunca me senti satisfeita, até que... Recebi uma visita de duas mulheres no meu portão, elas eram muito inteligentes e com muitas respostas.

Me lembrou de uma frase: "O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas estão cheias de certezas..."

Sobre sua situação com seu marido, a Torre, seus sentimentos.
Acredito que você nao precisa exigir que seu marido saia, apenas que respeite seu momento de não acreditar mais. Pelo jeito, ele não é tão bitolado porque entregou os privilégios. Se fosse um TJ padrão, jamais entregaria o privilégio que traz a ele respeito na comunidade e iria exigir que a mulher o acompanhasse. Não foi o caso dele, mostrando que ele é um sujeito equilibrado. Talvez ele aceite você não ir mais. A decisão de se dissociar formalmente é sua. Eu me sinto 100% livre sendo apenas afastado. Eu sempre falo: "Não assinei nada para entrar, não vou assinar nada para sair." Na minha opinião, me dissociar e jogar de acordo com as regras deles, que eles inventaram, que ninguém me perguntou se concordo. As minhas regras são: amo minha família, não fiz nada para ter minha reputação arruinada, e se não quero ir num lugar, simplesmente não vou. Não sou obrigado a dar satisfação ou assinar alguma coisa, ainda mais se não assinei para entrar. Portanto, me afasto e me sinto livre. Já outros, como colocou MateusBarbosa, sentem a necessidade de se dissociar. Isso é individual.

Seja bem vinda novamente, nos vemos pelos tópicos.

[YukimuraSanada]

Seja bem-vinda!

[Lilac]

Obrigada pelas boas-vindas.
Suas palavras bondosas me serviram como "abrigo contra o temporal".

Sei que tenho um longo caminho de desconversão pela frente. Minha mente ainda está muito doutrinada; se livrar disso não vai ser fácil. Mas não vou desistir.

[Lilac]

Pelo jeito, ele não é tão bitolado porque entregou os privilégios. Se fosse um TJ padrão, jamais entregaria o privilégio que traz a ele respeito na comunidade e iria exigir que a mulher o acompanhasse. Não foi o caso dele, mostrando que ele é um sujeito equilibrado.

Meu marido era "muito teocrático", na verdade, eu também era. Só acordei do transe porque o assunto abordado era algo que mexia comigo, uma ferida profunda. Ouso dizer que ele só ouviu "apostasia" porque saiu da minha boca, alguém em quem ele confia e que não seria facilmente enganada. Que ironia, não é?!

Mas ele ainda acha que a organização pode ser de Jeová e que ele pode limpar toda a sujeira no tempo certo. A saída de TM3 mexeu com ele no sentido de que pode ser Jeová começando a faxina :/
Ele não conhece outro mundo, e o lado de cá soa extremamente perigoso para ele. Sei que ele vai entender, só precisa de tempo. Eu também não estou forçando... Ele está sofrendo demais também.

Normalmente, eu diria que vou orar e colocar o assunto nas mãos de Jeová, mas estou reaprendendo a viver e nem sei o que dizer...
Obrigada pelos bons conselhos.