Apresentação - Phoebe

[Phoebe Buffay]

Olá boa noite a todos!
Venho visitando o site regularmente há vários meses e embora já tivesse sentindo vontade de contar minha história, sempre havia algo que me fazia desistir. Juro que tentei encurtar, peço desculpas pelo tamanho rss

Tenho 27 anos e fui mais um caso de filha que cresceu “na verdade”. Não me batizei muito cedo, porém levava aquela vida de tj não batizada bem a sério. Mas sentia que era muito mais por hábito. Até que passei a me perguntar “o que quero fazer da minha vida?” Decidi estudar a bíblia por mim mesma, passar a de fato ler as publicações e tentar orar pra esse jeová que até a época era muito mais um nome que uma pessoa. Só me batizei aos 16 anos quando tava certa de que ele era uma pessoa real, meu deus. Pra mim, a org era a única religião certa e verdade sobre qualquer assunto que envolvesse deus e vida, o canal né. Daí em diante amigos, foi só “sucesso”. Li a bíblia inteira, preparava todas as reuniões, comentários, limpeza, combo completo de jovem tj exemplar. Acabei o ensino médio e em vez de procurar logo estudos e cursos, saí de pioneira auxiliar, depois regular. Eu era muito sincera, tentava mesmo viver o que aprendia. Foram 4 anos no serviço.

Agora vem a parte do que deu errado, que daria pra definir numa palavra: culpa. Por fora esse exemplo de irmã feliz, por dentro uma culpa, uma sensação de perdida na vida. Um peso, uma pressão. Nesse momento fará muito mais sentido pra quem lê se eu compartilhar que sou bissexual. Hoje eu sei. Hoje isso ta assumido pra mim. Hoje ta tudo bem. Mas jamais tive sequer coragem ou força de lidar com isso nem pra mim mesma a vida toda! Só meu intimo que dizia que tinha algo “errado” comigo.. Tá feito o estrago né, e daí a culpa, a falta de identidade e sentimento de perdida. Porém continuando...

Por mais que todas as ajudas que busquei dissessem que ler a bíblia, orar e pregar seriam a cura de todos os males, eu não consegui fugir do famigerado desânimo. Não conseguia mais fazer as horas, não conseguia sentir alegria, me sentia afundando. Me via desperdiçada e sem objetivo. Pelo menos eu decidi fazer faculdade. Depois de 2 anos seguidos sem fechar as horas, fui amorosamente convidada a deixar de ser regular e “ter o privilegio de servir a jeová como uma publicadora exemplar”. Dali em diante foi ladeira abaixo. Eu tentei muiiiito mas muito mesmo não me abater, mas me senti falhando no proposito da vida, que como havia aprendido, era servir a deus de toda alma bla bla bla. Ser pioneira havia sido minha escolha de vida, e me senti um fracasso. Meu fundo do poço na época foi um início de depressão. Foi bem sério. Felizmente arrumei força de vontade não sei de onde, e reagi o melhor que pude sozinha mesmo contra tudo aquilo. Melhorei sim, mas jamais voltei a ser a tj de antes.

Busquei fugas da realidade e comecei a desconsiderar ao tão conhecido princípio da má associação (nossa, esse eu seguia à risca até então). Graças a gostos em comum por séries, fiz amigas na internet. Nem fazia nada de ~~ errado ~~ exceto que lá podia ser uma pessoa mais livre. Só conversava sobre coisas normais e nunca revelava nada sobre meu lado tj. Vi por experiência própria que as pessoas do “mundo” podem ser boas, que amigo não é alguém que precisa concordar com todos os seus pensamentos, como se todos tivessem que seguir um regime. Que é possível levar minha vida e ter amigos que pensam diferente, são diferentes, não julgar, não ser especial nem melhor. Vi com meus próprios olhos o quanto a diversidade é maravilhosa! Então a bíblia não foi infalível sobre nenhuma daquelas “verdades absolutas”. Eu vivi coisas boas demais nunca experimentadas antes. Não teve mais volta. Como por exemplo me apaixonar da forma mais legal, natural e inocente. Como isso podia ser errado? Não era como todas as matérias falavam e nem era ninguém me contando, eu mesma estava vivendo aquilo. Como o que eu tava sentindo ali podia ser tão errado?? E mais importante, por que???

Foi um processo lento e extremamente doloroso. Com muitas ondas de culpa, medo e desespero. Minha teoria é que quanto mais sincera você for ali dentro, mais você sofre. Primeiro tive que aceitar que não tinha mais volta, eu não pertencia mais lá. Então tentei aceitar que só seria destruída mesmo. Eu sentia tanta culpa, que o plano era me confessar e daí ser julgada e expulsa, como a pecadora que eu tanto me sentia. Olha a que ponto chega a mente da gente! Sofri por isso, mas esperei o tempo. Ainda bem, pois superei isso. Com orações chorando, eu perguntava pra deus por que. Por que é errado, se eu nunca escolhi, se eu nunca tive culpa? Por que eu não podia ser feliz também? Por que não poderia amar? Não tive respostas de deus. Nada do que eu já sabia sobre ele, nada que eu pesquisei, nada nada mais justificava nem se aplicava a realidade. O preço seria escolher obedecer completamente às cegas e abdicar de tudo que eu finalmente vivi e enxerguei. Uma vida sem ser eu mesma, sem ser feliz e sem amor. Não valia mais a pena. Daí em diante desacreditei do deus que eu conheci a vida inteira juntamente com o livro sagrado dele. Perdi meu chão. Foi difícil demais. Me dar conta que eu não tinha ideia do que seria do futuro, encarar que não tinha as respostas que tanto me orgulhava de ter achado.

Todo esse processo eu levei sem dividir com nenhum amigo de lá. Nos meses finais, me afastei e diminui muito o ritmo, ficava no máximo nos carrinhos e me arrastava pras reuniões, porém já não prestava atenção em nada. Nunca cheguei nem a ficar inativa, porque ficar inativa e parar de uma vez chama muita atenção, eu não tava com estrutura pra lidar com o tanto de amigos que eu tinha tentando me ajudar rss. Fiz das tripas coração buscando fazer as coisas o mais planejado possível, me preparando pra sair. Meu coração sangrava só de pensar na dor que causaria nos outros, sobretudo minha família, minha mãe. Mas eu entrei por Jeová, porque acreditava, e se ele não era mais meu motivo de estar lá, nenhum outro me era suficiente, nem todos os meus amigos e família. Eu precisava viver minha vida, não aguentaria mais seguir infeliz e nunca conseguiria ser feliz vivendo pela metade assim, nem de aparências. Chega de culpa! Quando me senti pronta, mais de ano nesse inferno todo, pensei muito no que falar e até onde falar e então juntei minha família. Nervosa, suando e tremendo sentei de frente pra eles e abri meu coração até onde deu, chorei muito e falei que dali em diante, seguiria minha vida sozinha.

Essa apresentação ficou enorme!! Desculpa gente, é coisa demais. Atualmente sou dissociada, já tem uns 8 meses. Nunca me arrependi nem por 1 minuto da decisão que tomei.
Bom é isso! Obrigada se você chegou até aqui hahah

[kooboo]

Olá Phoebe,

Sua historia teve dedicação, descoberta, culpa, coragem e libertação...
Seja bem vinda a essa família virtual.

[Debora]

Moça... Você é muito corajosa. Seu relato poderá servir de exemplo para outras pessoas.

Eu não consegui compreender se você concluiu seu curso superior. Tem contactos com seus familiares?

Seja muito bem-vinda !!!
Sinta-se acolhida.

[Residente Temporario]

Seja Bem-vinda, realmente você foi muito corajosa.
Considerando minhas atuais circunstâncias, nunca terei a coragem de fazer o que você fez, se dissociar. Pretendo um dia me afastar e apenas me tornar inativo, assim poderei manter algum contato com minha família.

Com 27 anos você ainda está nova, da pra recuperar o tempo perdido. Boa sorte e tudo de bom pra você.

[Samurai Kazuo-San]

Puxa, que história! Adoro relatos longos. Você escreve muito bem. Espero que tenha terminado a faculdade. Sua história tem partes parecidas com a minha. Também perdi boa parte da vida lá na organização. Quando me assumi gay, descobri a "verdade". Foram quase 15 anos suprimindo minha identidade, vivendo a vida dos outros, não a minha. Quando não suportei mais, pedi dissociação. Passei a "viver", sem grilos. O mundo não é só devassidão como querem nos fazer crer. É necessário muita coragem para vivermos nossa vida sem ter que "atuar", sendo nós mesmos, nos aceitando. Se Deus é mesmo Amor, Ele nos entende e nos ama da mesma forma. Seja bem vinda e parabéns pela bravura!

[Fêconfusa]

Que história maravilhosa, você é muito forte e corajosa! Me identifiquei em muitos pontos, estou passando por uma situação muito parecida com a que você passou. Fiquei curiosa pra saber como foi a reação da sua famíla quando você abriu seu coração, conte mais. Seja muito bem vinda!

[Piloto]

Que história linda de libertação! Tens a sorte de ter saído e de lidar bem com isso, mesmo com os "traumas". Bem-vinda a nossa família!

[Estrangeiro]

Bom dia Phoebe Buffay.
Parabéns pela coragem. Sabemos como é difícil.
Apenas quando precisamos do amoroso amor cristão é que percebemos que ele nunca existiu. Puro marketing.

[lobo guará]

Parabéns pela coragem!
Tomara que faça mais bons amigos por aqui. Bem vinda!

[Jeferson Bento]