Apresentação de Samurai Kazuo-San

[Samurai Kazuo-San]

Olá a todos os foristas... (Desculpem-me pelo longo texto a seguir). Segue minha apresentação:

Meu nome é Kazuo, sou nissei. Fui católico até meus 18 anos. Permaneci TJ durante mais uns 13~15 anos, quando me dissociei. Depois fui morar no Japão por mais uns 4, e retornei. Hoje estou com 55 anos, sem religião definida. Mas, ultimamente tenho assistido reuniões num salão que foi construído ao lado de minha casa!

Bem, minha história é assim . . . Minha família estudou a Bíblia (exceto meu pai, já falecido), mas apenas eu e duas irmãs nos tornamos TJs. Hoje somente a mais nova continua na Torre-Que-Te-Vigia. Portanto, posso "enxergar" melhor como é o lance do "amor cristão" agora, que estou do lado de fora.

Eu fui “católico praticante” quando era jovem. Até visitei o seminário local aos 18 anos pensando em me ingressar na vida religiosa. Mas como tinha que sustentar a família, deixei a ideia de lado. Mas procurei me envolver mais dentro da igreja, na “comunidade eclesial de base” e nos grupos de jovens. Sempre questionei a existência de Deus e como achegar-me mais ao Ser Supremo, se é que isso fosse possível. Comecei a ver muita formalidade na religião! Cheguei até mesmo a ir atrás da Ufologia...! Pra completar, me sentia diferente dos outros homens, sexualmente falando...

Não é que minhas "preces" foram ouvidas e as TJs surgiram?!? Como eu gosto de ler, foram deixadas duas revistas com minha mãe, porém foi um tratado que me chamou a atenção... "Está o Planeta Terra à Beira do Desastre?" Foi tiro e queda! Escrevi para Betel e o resto da história vocês já imaginam! (Revisita + Estudo + Batismo). Fiquei uns 13 anos na Torre e ao longo disso, os familiares foram conhecendo a "verdade"!

Após uns 12 anos de "serviço", e já com várias dúvidas quanto à "verdadeira religião", eu já estava quase inativo, indo às reuniões por formalidade. Dois bons amigos meus (que se tornaram estudantes) também diminuiram o passo... [ainda bem!] e por volta de 1995/96 decidi pedir minha dissociação, pois minha vida pessoal começou a ser bisbilhotada...

A congregação não entendia como um rapaz que teve um grande "avanço espiritual" e com um "bom conhecimento bíblico" (segundo eles), parecia estar enfraquecendo sem motivos aparentes. Ainda porque durante vários anos, sempre que eu podia, servia como "pioneiro" (na época, o requisito era 60 horas, e o regular tinha que fazer 90!!!)... Também cheguei a considerar a possibilidade de servir em "Betel". Nessa época já estava sendo "observado quanto à aptidão" pelos anciãos para cargo de "Servo Ministerial". Mas, então eu diminuí o passo! E, comigo, meus dois estudantes (um rapaz e uma garota), que também eram amigos íntimos.

Meus questionamentos me perturbavam, e como se não bastasse, eu vinha trazendo comigo já há longos 15 anos a repressão de meus sentimentos quando à minha sexualidade...

(Um parênteses aqui...)

Visto que, coincidentemente, vocês aqui do grupo tem tocado nesse assunto de sexualidade entre as TJ´s, vou expor mais abertamente o que se passou:

Como vocês sabem, a pressão é muito grande para se manter a castidade. Ser puro e imaculado. Sexo só na lua-de-mel, e olha lá!!! Se, para os héteros isso já é um fardo, imaginem para alguém que trazia consigo há anos sua homossexualidade reprimida! Sim, não me envergonho em assumir que sou homossexual. Sou apenas um homem como qualquer outro, com o diferencial de que não sinto atração sexual por mulheres. O que tem sido para mim muito angustiante, vocês já devem imaginar! Há muita cobrança para que me case...

Mas, visto que eu tinha muita intimidade com essa minha amiga/estudante, e que eu já havia também declinado pedidos de namoro por várias vezes com algumas irmãs, não demorou muito para os "da dianteira" se reunirem para saber se o motivo de minha fraca espiritualidade não seria algum "pecado oculto", tipo, "fornicação"... Bem, a essa altura, eu já estava frequentando mais assiduamente o "mundo", e isso até incluía ir às vezes dançar com "colegas mundanos" em clubes (night clubs)... O que foi a gota d´água, é claro... Mas, os anciãos já sabiam que alguns jovens "espiritualmente fracos" também estavam frequentando tais ambientes!

Como eu já havia iniciado o processo de ir em busca da "verdade" sobre a "verdade das TJs", decidi pesquisar com muito mais interesse o que a Bíblia dizia sobre sexo e homossexualidade... (ou, “homossexualismo”, como a dona Torre insiste em rotular!) Participei de dois outros fóruns no início dos anos 2000 (quando morei no Japão, conhecido como Ex-TJ-Gays & Paralelos e Perpendiculares), além de pesquisar outros sites. E o que descobri me ajudou muito a aliviar-me da excessiva carga de culpa que pairava sobre meus ombros! E foi assim que reuni coragem -- em uma de suas reuniões de pastoreio ou "encorajamento" (leia-se, bisbilhotar sobre o que eu fazia nos fins de semana) -- coragem para dizer a eles que minha vida privativa, particular, interessava só a mim mesmo!

Embora eu fosse virgem até aquela data, tendo me esforçado ao máximo para agradar ao Deus da Torre, sem ao menos sentir o que era o prazer de um orgasmo [lembrem-se, masturbar também não pode!], decidi que a partir de então, eu seria livre! Redigi minha carta pedindo dissociação por não concordar com certos ensinos da STV...

Foi bastante duro para os amigos entenderem o porquê de meu desligamento. (A maioria nunca o soube). Vários chegavam a pedir que eu repensasse e voltasse. Minhas irmãs ficaram muito tristes, e minha mãe tentava entender.
Não me arrependo do que fiz, na época, apenas sinto ter perdido boa parte da juventude sem viver “minha” vida.

Quando eu disse que aos 18 anos desisti de seguir a vocação religiosa, foi também por ter naquela época me apaixonado, pela primeira vez, por alguém que correspondia a meus sentimentos. Mas essa alegria durou pouco, pois logo deixei meu namorado em troca da "verdade" da Torre. E como orei a Jah para que tirasse de mim aquele "sentimento", aquela "carga" pesada de se carregar! Mas foi em vão. Foi quase 15 anos dentro da Torre, carregando o fardo duplo [ser gay e ser TJ]...

Depois que deixei de ser TJ, fiquei sozinho, como ocorre com a maioria. “Amigos”, só aqueles dois, que foram também estudantes das TJs. De fato, eu havia tentado converter vários colegas e meus dois bons amigos, mas eles não fizeram progresso esperado. (Graças a Deus!) Com minha saída, estávamos os três no "mundo"!... Quanto a mim, experimentei quase de tudo aquilo que éramos alertados para não fazer.

Cinco anos depois eu ainda tinha um vazio dentro de mim... Era como se eu tivesse retornado ao ponto de partida, quando questionava a existência de Deus, etc... Afinal, minha consciência vivia me martelando... E, confesso, ainda não estou em paz comigo mesmo neste aspecto!

Sei que vai ser difícil para vocês aqui compreenderem, mas eu cheguei mesmo a considerar o retorno à "organização" nos anos que se seguiram. Antes mesmo de sair do Brasil, (fins dos anos 90) eu já assistia às reuniões, e cheguei a escrever solicitando minha readmissão. Foi me dito para aguardar algum tempo ainda. Nisso, eu fui para o Japão. Lá chegando, encontrei um Salão do Reino com reuniões em inglês, para imigrantes. Passei a frequentar, sem revelar que eu era dissociado.

Após algum tempo, os irmãos me localizaram, no trabalho de campo. Eram TJs brasileiros. Conversamos, e depois um ancião veio considerar a possibilidade de meu retorno. Assim sendo, voltei às reuniões por algum tempo. Eu gostava, pois apreciava aquela atmosfera, aquele ambiente familiar (de imigrantes conterrâneos) quando se vive num país estrangeiro com cultura bem diferente. Sei lá, acho as pessoas legais, mesmo que algumas não estejam tão propensas a querer fazer amizade com você... Afinal, as pessoas têm suas individualidades... Mas, sendo dissociado, eu ficava no meu cantinho, como devia ser. Logo, o pessoal do Salão passou a me evitar.

Contudo, meu trabalho secular lá começou a dificultar assistir às reuniões, então parei. E o tempo foi passando... Um mês, um semestre, um ano... Conheci alguns colegas e estava no mundo novamente... Curtindo, como a gente faz.

Certo dia, numa visita por TJs japoneses no campo, resolvi pedir um livro para ver se me ajudaria no aprendizado do idioma. Visto que o japonês é muito complexo, utilizando 4 sistemas de escrita, um deles sendo o chinês, pedi um livro infantil, que seria mais fácil (Histórias Bíblicas), e com isso ganhei uma “revisita” deles, é óbvio, me trazendo o tal livro (Watashi-no Seisho-no Monogatari-no Hon = 私の聖書の物語の本). Como os irmãos foram tão bonzinhos, e eu já estava com a espiritualidade lá embaixo, decidi aceitar a oferta deles e “estudar a Bíblia” um pouco com eles, em inglês mesmo, pois o japonês era sofrível... Já fazia tempo que nem ia mais às reuniões. Porém, desta vez, não disse a verdade sobre mim. Agi como um morador contatado “no serviço de campo” aceitando um estudo bíblico. E confesso, com o passar do tempo, fui gostando daquilo... Era como se estivesse começando tudo de novo... E era natural que eu soubesse muito bem "a matéria do estudo"... E com isso, o motivo deles ficarem surpresos com meu progresso! Eu justificava isso por ter membros da família que são TJs e por gostar de ler as publicações. Mas parei com aquele estudo depois de algum tempo pois não achei justo desperdiçar o tempo dos "irmãos"...

Resumindo a ópera: Eu gostava de ser TJ, mas vivia atormentado por ser homossexual e estar sozinho naquela amargura. Rompi com a Torre, na tentativa de viver minha vida no mundo novamente, mas não tenho sido 100% feliz. Um pedaço de mim ficou lá, e outro aqui. Estou dividido, é isso. Se eu pudesse, seria TJ & homo, e viveria do meu modo, sabendo que prestarei contas a Deus e não a homens... Mas isso parece uma loucura, uma incoerência e, por que não dizer, hipocrisia!!! Hoje eu sei o que a Torre é e o que ensina, portanto, ser eu novamente um TJ seria quase o mesmo que eu voltar a ser católico... Mera formalidade, para ter amigos e algo a mais para fazer nos fins de semana... Ah, e ainda tenho parte da família lá... É assim que parece que muitos têm feito, passando por “infiltrados”... Por que também eu não??? Gostaria de poder voltar a ter fé em Deus...

Há dois anos e meio minha mãe de 75 anos teve dois AVCs e ficou debilitada e acamada, perdeu a fala e precisa de cuidados 24h. Minha irmã TJ tem ajudado bastante. Mas não é fácil a não convivência por causa do ostracismo imposto. Tentar ser readmitido e viver como infiltrado tem sido algo que venho considerando ultimamente. Sinto-me solitário e afastei-me do ambiente LGBT, mas, obviamente sei o que sou por dentro. Apenas busco um pouco de paz.

Espero poder colaborar de alguma forma com o Fórum. Tem sido bastante reconfortante este último ano em que tenho lido a troca de experiências de todos. Um abraço a todos os foristas.

(SAMURAI) KAZUO
[em cima do muro]

[BrunoBernardes]

Bem vindo!

[RafaelCioran]

Enfrentei literalmente o inferno pra ser readmitido.
Por que não tinha como ter uma relação saudável com meus familiares por causa da minha desassociação.
Fiquei 2 anos desassociado, por capricho dos anciãos. Assim que vieram me falar que eu seria readmitido naquela reunião, antes do anuncio eu sai do salão e nunca mais pisei novamente.

Bem o que quero dizer é, não tem nada de errado em você querer ser readmitido, pelo menos eu entendo sua motivação. Acreditar na religião como sendo verdadeira ai ja é outra historia.
Você gostar de homens isso só diz respeito a você.

Ser ex Testemunha não é fácil quando se tem a maioria da família la dentro.

No mais seja bem vindo!

[Lehh]

Eu sou infiltrada e me sinto extremamente mal, gostaria muito de sair, ter liberdade e paz, continuo lá por família também, por isso, entendo como você se sente. Eu tenho medo de perder toda a minha família por sair de lá, é um dilema muito difícil. A razão me diz que de nada vale relacionamentos condicionados, mas ainda assim o afeto, o amor e a vontade de estar perto dos nossos existe. Como você disse, o ostracismo provoca muita dor.

Embora eu seja desesperada para sair, e no meu caso, nasci lá e nunca gostei de ser tj, compreendo seus motivos, realmente, é difícil e doloroso viver isolado de pessoas que amamos.


Você pode ser adorar a Deus e ser homossexual, basta você adorar o Deus de amor, o Deus bondoso que Jesus nos ensinou sobre.
Se Deus existe e for bom, ele irá aceitar você como você é. Se ele é o projetista, ele sabe que você não quer ser homossexual, você simplesmente é. Você merece ser amado como todo ser humano.




Seja bem vindo, que possamos trocar experiência e nos fortalecer.

[Estudante da Bíblia]

かずおさん、はじめまして！

Seu relato é bem emocionante. Espero que o fórum possa continuar ajudando a aliviar o peso de estar na condição em que você se encontra.

よろしくおねがいします！

[Optimus Prime]

Que história hein!!!
Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo!
Seja bem vindo!!!

[Ctzn4]

Bem vindo!

[Urim&Tumim]

Seja bem vindo. Este tem sido um ótimo ambiente para a troca de ideias sem preconceitos.

[Debora]

Olá,
Que o fórum lhe fortaleça e conforte.

Seja bem-vindo !

[Samurai Kazuo-San]

Obrigado pela acolhida, amigos... Sei que não estarei sozinho nessa caminhada. Vamos nos fortalecendo sim, com a ajuda uns dois outros.