Os que defendem a autoridade da Bíblia em assuntos morais costumam basear tal autoridade em passagens que tratam de família, sujeição dos filhos e da mulher, ou então trechos dos evangelhos que incentivam ao perdão, ao amor, ao trabalho árduo e ao respeito mútuo. Muito oportunamente, costumam deixar de lado trechos que transmitem padrões morais de outro tom.
Um bom exemplo pode ser encontrado no relato das campanhas militares da invasão da Terra Prometida. Vamos examinar Josué 6:20,21 seguindo a dica da Sentinela de maio de 2019 pág. 30, que nos ensinar a dar vida à nossa leitura da Bíblia. Vamos nos colocar no lugar dos personagens para sentir o que eles sentiam. Os versículos dizem:
De acordo com Estudo Perspicaz vol. 1, pg 1097, "Jeová deu aos israelitas o dever sagrado de servir como executores da parte dele na Terra da Promessa, à qual os levou." Os soldados do povo de Israel não eram considerados como assassinos, mas antes como servos de Deus que cumpriam uma designação sagrada.Então, quando as buzinas foram tocadas, o povo gritou. Assim que o povo ouviu o som das buzinas e deu um grande grito de guerra, a muralha caiu por terra. Depois disso, o povo avançou, cada um em direção à cidade, e tomou a cidade. Entregaram à destruição pela espada tudo o que havia na cidade, homens e mulheres, jovens e idosos, também touros, ovelhas e jumentos.
O que passava pela cabeça daqueles soldados enquanto entravam na cidade de Jericó? Imagine a cena: a muralha tinha acabado de desabar milagrosamente. Apesar de estarem prontos para lutar, os soldados de Jericó estão atônitos com esse incidente inesperado. Confusos, com medo, tossindo em meio à poeira da muralha caída, os homens de Jericó se põem em formação.
Os israelitas entram confiantes, animados pelo sinal claro de que seu deus está presente. Brandindo suas espadas e lanças, atacam os soldados inimigos sem piedade. Consegue sentir a cena? Há gritos por todos os lados; os israelitas gritam de júbilo e confiança, enquanto os jericoenses tentam fomentar fagulhas de coragem entre si. Junto com os gritos você escuta o som de espadas batendo em espadas, espadas batendo em escudos de madeira e couro, espadas furando barrigas, cortando braços, pernas, peitos, pescoços. O cheiro de sangue vai ficando cada vez mais forte, o ar pesado de morte, e os seus companheiros parecem inebriados desse vinho macabro.
De dentro das casas vem o choro abafado das mulheres e das crianças. Elas temem pelo seu futuro. Elas escutam a matança lá fora, gritos, gemidos e o choro dos caídos. As mulheres tremem ao pensar no que as aguarda. Elas conhecem bem as histórias de cidades invadidas e sabem o que virá a seguir.
Coloque-se na pele de um soldado israelita que depois de invadir Jericó e matar e ferir um incontável número de homens, agora precisa completar a designação. Sem pensar muito, ainda sob o efeito da batalha, você anda a passos largos em direção à casa mais próxima. A porta está trancada, e você a derruba a chutes. Lá dentro está o que restou de uma família: duas mulheres, uma jovem e outra mais velha, talvez mãe ou sogra da jovem, e quatro crianças. Assim que a porta cede, os gritos enchem a casa. As mulheres pedem piedade à você, pedem ajuda dos seus deuses, as crianças gritam "não". O bebê, no colo da mãe, apenas grita, o rosto vermelho de esforço.
Você estremece. Lembra da sua esposa, da sua mãe e dos seus filhos, que lhe esperam no acampamento. Se Jeová manda amar o próximo e socorrer até seu animal, porque preciso fazer isso? Se ele quer as crianças jericoenses mortas, que as mate ele mesmo!
A mulher mais jovem, provavelmente a mãe das crianças, sente a sua confusão. Ela se ajoelha na sua frente e pede que por favor, não mate seus filhos. Que mate a ela, que a leve como escrava, que faça o que quiser com ela, mas não mate seus filhos. Eles não merecem. Por favor. Lágrimas escorrem dos olhos da mãe, que grita. A velha deitou-se no chão e apenas chora. Lágrimas descem pelos rostos das crianças, que se encolhem contra a parede atrás da mãe.
Uma lágrima escorre dos seus olhos. Sua mão direita aperta firme o cabo da espada, suja de sangue e pó. Você sente um nó na garganta. Você sabe que isso não está certo.
Então você lembra do porquê está ali. Você é um representante de Jeová, deus dos exércitos, que derrota o monstro marinho e o despedaça com seus pés. Você é um soldado do exército do deus mais poderoso que há, e ele não tolera rivalidade nem desobediência. Jericó deve ser destruída, e será. Você tem o privilégio de participar da realização do propósito de Jeová.
Seus olhos se fecham e silenciosamente, você ora a Jeová pedindo forças.
Como se tomado por um espírito, sua mão direita brande a espada no pescoço da mãe ajoelhada. O sangue espirra e tinge o chão de terra, molha o couro rasgado da sua veste, mas você não sente nada, e como uma máquina em uma linha de montagem, executa a velha e cada uma das crianças. Quando você enfia sua espada na barriga do bebê e a puxa, trazendo para fora seus intestinos, você não sente nada. É o espírito de Jeová que lhe capacita.
Ainda acha que a Bíblia tem alguma autoridade para falar de moral?Se você for à guerra [...] não tenha medo deles, pois Jeová, seu Deus, [...] está com você. Quando vocês estiverem para entrar em batalha, o sacerdote deve se aproximar e falar ao povo. Ele deve lhes dizer: ‘Ouça, ó Israel, vocês estão para entrar em batalha contra os seus inimigos. Não desanimem. Não tenham medo, nem fiquem apavorados, nem tremam por causa deles, pois Jeová, seu Deus, está marchando com vocês para lutar por vocês contra os seus inimigos e salvá-los.
Deuteronômio 20:1-4
Antes de ir, pergunte-se:
O que esse relato lhe ensina sobre Jeová?
Como esse trecho das Escrituras se relaciona com a mensagem da Bíblia?
Como você pode aplicar isso em sua vida?
Como você pode usar esse relato para ajudar outros?