"Isso não é para você!"

Fatos da atualidade e do passado que contam as conquistas sociais, tecnológicas e as lutas constantes para uma sociedade mais justa e solidária.
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kooboo
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"Isso não é para você!"

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Como de costume, um assunto com várias abordagens.

Vou começar por esses links -

https://extra.globo.com/noticias/viral/ ... 12104.html

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https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano ... ural.shtml
https://www.cartacapital.com.br/cultura ... ai-rodney/
https://revistacult.uol.com.br/home/ide ... -cultural/

O primeiro link é a historia que dá inicio a tudo, os seguintes são discussões sobre o tema.

Resumindo - A garota branca que faz tratamento contra cancer, perdeu os cabelos e estava usando um turbante - se sentindo linda com o estilo - foi abordada por duas garotas negras que disseram que aquilo era apropriação cultural.

Já antecipo que não tenho opinião formada para essa discussão, mas que uso esse assunto (que também seria interessante a discussão) para propor outra discussão.

E quando uma ideia é ótima, junta uma monte de seguidores, e a coisa descamba para um lado totalmente errado?

Exemplos - Jesus e o Rock n Roll

Jesus - foi aquele cara legal, que lutou contra a hipocrisia do sistema religioso judaico, que criticou duramente o tanto de regras que os sacerdotes impunham para quem queria adorar a Deus, e simplificou a coisa:
Ame a Deus de coração, pratique o bem.
Foi além disso - Deu exemplos, perdoou, condenou o julgamento (o julgamento pertence a Deus), dividiu, partilhou, incentivou a pessoas a amarem.
O sistema de Jesus tinha erros - como por exemplo não abolir a escravidão, mas tinha grandes avanços para aqueles dias.

Jesus nomeia Pedro para dar sequencia. Aí vem Paulo, se senta com os Judeus e cria as primeiras regras morais. Enquanto Jesus perdoou uma adúltera, Paulo dizia que isso era pecado... Ou seja, o primeiro cara que se intitulou "seguidor" de Jesus, já começou mudando o que Jesus falou.
Paulo é um caso de apropriação indevida - pegou uma ideia de liberdade, de rompimento com o sistema, de amor... e pôs as regras para agradar à defasada cultura judaica.
Se Jesus era a contra cultura...Paulo era a cultura.
E depois de Paulo, e graças a Paulo, veio a igreja institucionalizada. Com regras, mestres, hierarquia e seguidores radicais que usam o nome de Jesus para falar de moral e bons costumes. Ou seja, quem usa o "turbante" do nome de Jesus não entende nada da proposta de Jesus.

Vamos ao segundo ponto.
O Rock n Roll nasceu nos guetos. Sob influência do blues - música de preto.
Se no início o Rock era só um estilo dançante... ah, aí já tinha coisa. Eram os anos 50, super moralistas, conservadores, cristão no estilo mais radical da moral e bons costumes. E as meninas se soltando na d a n ç a. Algo sexy.
Aí veio a rebeldia. Algo contra o sistema. E o rock virou a trilha sonora para a revolução sexual e contra a guerra.
O rock tomou dois viesses principais - a liberdade de transar e amar sem ser julgado e ser contra o sistema proibitivo.
Os lemas eram vários - é proibido proibir, sociedade alternativa etc.
Bandas como Rage Against The Machine, Pink Floyd, System of a Down e tantas outras foram na linha contra os sistemas. Outras falaram de sexo. Outras de liberdade. Outras combatiam a opressão dos sistemas - Bono Vox do U2, Sting do Police levantaram bandeiras de apoio a povos oprimidos.

Porque toda essa história? - Quando Roger Waters se apresentou no Brasil (acho que Madonna também fez isso) soltou mensagens contra a política do atual presidente.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/ ... -lei.shtml

Onde o mais curioso são os comentários de "supostos" fãs dizendo que "seria bom se Roger Waters apenas cantasse e não falasse de política", ora RW sempre cantou política. Pigs, Dogs, musicas antigas são temas com altas críticas contra o sistema.



Diante disso lanço a pergunta - Estariam os fãs do Rock e de Jesus prontos para entender a proposta dos mestres?
Ou estariam apropriando indevidamente da cultura cristã e/ou do Rock?
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EduardoexTJ
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por EduardoexTJ »

Caraca, quando eu crescer, quero ser que nem você, e enxergar essas coisas.

Nesse ponto que você citou, me lembrei do Tico Santa Cruz, da banda Detonautas. Quem não conhece a banda direito, acha que ele canta músicas legais com letras maneirinhas, algumas até um pouco românticas. Tão por fora! Na página dele do Facebook, ele é bastante ativo politicamente e muitas vezes é bombardeado com gente estúpida que diz que ele deveria estar cantando. Gente que se diz fã e nunca percebeu que a pegada da banda é bastante política, várias músicas deixam isso bem claro.

O povo brasileiro não tem educação, não tem cultura, não tem empatia. Não acho que seja um problema só nosso, mas como eu sou brasileiro e como eu moro no Brasil, não posso deixar de observar isso. A minha resposta a sua pergunta é um NÃO bem claro, principalmente porque faltam educação, cultura e empatia para respeitar o espaço do outro.
Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br
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Neo Matrix
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por Neo Matrix »

Interessante este tópico.
Acho que quando uma cultura é divulgada e imitada, os praticantes dela deveriam se sentir orgulhosos e não prejudicados como o caso da moça negra que abortou a jovem com câncer.

Alguns acham que tem direito de se apropriar e falar como se fossem donos de coisas que não lhe pertencem (pois na verdade pertencem a humanidade).
"Matrix /// - Por que doem os meus olhos? (Neo) - Porque você nunca os usou. (Morpheus) "
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Daenerys
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por Daenerys »

Tema interessante, que envolve muitas coisas, acredito que entre elas, identificação.

No caso das bandas, muitos brasileiros não compreendem inglês, portanto, ouvem as músicas de bandas como o Pink Floyd e não entendem a mensagem, apenas apreciam o som e acreditam ser "cult". Geralmente, esse público menospreza artistas brasileiros, especialmente aqueles que vem das periferias.

Outros, não conseguiam interpretar letras de artistas brasileiros, como Chico Buarque. Quando descobriram sobre o que as músicas se tratam, passaram a odiar.

Também, já vi pessoas que deixam de ouvir determinados artistas ou ler determinadas obras por discordarem da vida dos autores.
Marion Zimmer Bradley é uma autora que eu gosto muito, mas existem fatos sobre a vida dela (não sei se comprovados) terríveis. Não consegui deixar de gostar da ficção dela apesar disso, eu sou fã do trabalho, não da pessoa.
Eu, particularmente, evito misturar o artista com a obra. Porém, acho importante conhecer a obra e o artista também.

É importante conhecer a respeito da cultura que se consome, da mensagem, da proposta, mas não é necessário concordar com aquilo.
É possível ser fã de Pink Floyd e não concordar com a mensagem que passam? Talvez.
Mas, reclamar devido às manifestações do artista não é válido, pois o posicionamento dele está evidente no trabalho. Logo, quem estava no show e discorda do Roger é que deveria assistir sem reclamar, ou não ir ao show, ou não ser fã dele. Deveriam já saber sobre ele.

Aconteceu também quando a música "Bella Ciao" tocou na série La casa de papel. Um grupo se revoltou ao descobrir o teor da música.

Ainda, a respeito do caso do turbante, eu também não tenho conhecimento sobre o assunto para opinar. No entanto, particularmente, não vejo como apropriação cultural. Entretanto, acredito que essa questão seja bastante complexa e não me sinto apta para afirmar algo.

Portanto, na minha opinião, as pessoas que consomem algo, usam algum tipo de produto, não necessariamente precisam seguir/concordar/fazer parte de determinada causa ou ideia. Também não penso que estejam se apropriando indevidamente porque gostam.
A grande questão é: é possível ser ultrarreligioso/apolítico/conservador e apreciar determinada coisa? É uma pergunta cuja resposta é muito individual.

Só acho que é mais fácil gostar e consumir algo que nos identificamos com as ideias.
Conhecer a respeito é uma questão cultural e de entrosamento, identificação com o que se gosta.
É melhor conhecer antes de se dizer fã, ou antes de usar o produto, a marca.

Eu penso que essa revolta que aconteceu contra o Roger Waters, contra La Casa de Papel, Chico Buarque se dê mais pela ignorância de parte do público do que qualquer outra coisa.
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"É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós".
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MarcosSC
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por MarcosSC »

Como diria o burro do Shrek: esse artigo é igual uma cebola, possui várias camadas.

Primeiro: apropriação cultural. Minha mente acostumada a certo ou errado, branco ou preto ainda não conseguiu ver qual a tênue linha que separa apropriação cultural de uma homenagem ou de até mesmo globalização. Isso no caso do turbante.

Segundo: lugar de fala. Roger Waters teria lugar de fala para criticar Bolsonaro? Não sei a resposta. Mas eu, por exemplo, me abstenho de exprimir minhas opiniões sobre diversos assuntos. Não significa que eu não tenho opinião, significa apenas que as vezes tenho preguiça de entrar em uma discussão. Se o Roger Waters escolheu a luta anti Bolsonaro mesmo sendo de outro país acho que ele possui o tal lugar de fala.

Acho essa história de Lugar de Fala muito #mimimi interneteiro algumas vezes e outras vezes acho extremamente correto, por exemplo, não cabe a mim exprimir se uma pessoa negra está ou não sofrendo preconceito, não tenho o lugar de fala para isso. Apesar de me interessar profundamente por essas questões. Na verdade o lugar de fala que eu tenho é apenas sobre Testemunhas de Jeová e alguns outros assuntos, o resto é apenas pitaco mesmo visto que nunca sofri praticamente nenhuma forma de preconceito.

MAS sobre o Bolsonaro daria um prato cheio para conversar.

No mais, respondendo a sua pergunta Kooboo, e já emendando o main theme de Dark por aqui: o fim é o começo e o começo é o fim. Essa galera que faz arte igual ao RW ou filosofia igual Jesus Cristo é tão cheio de camadas quanto uma cebola. Quem criticou o Waters por ter falado do Bolsonaro não captou a essência da arte dele.
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Saran
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por Saran »

Demorei, mas cheguei.

os seres humanos têm "emprestado" ou roubado completamente idéias desde o início dos tempos. A escrita alfabética provavelmente foi inventada apenas uma vez pelos proto-semitas e posteriormente refinada (através da adição de vogais) pelos gregos e todos os alfabetos não silábicos e não-logográficos são baseados nelas, portanto, escrever ou ler este artigo só é possível porque alguém em algum lugar "emprestado" de uma cultura que não é sua. Da mesma forma, as calças foram usadas pela primeira vez por tribos celtas e germânicas que eram vistas como bárbaras pelos romanos, que usavam roupas mais pesadas. O problema da apropriação cultural não é o ato de se inspirar em outra cultura em si, mas as atitudes e a discriminação a ela associadas.
https://rationalwiki.org/wiki/Cultural_ ... ropriation

Termos como "Apropriação Cultural', "Lugar de Fala", "sororidade" são reflexões de uma linguagem provinda do zeitgeist os-modernista. Aproiação Cultual pod acabar sendo abordada dento do campo do juizo de valor, mas varia conforme o contexto.

Um sujeito branco usar um cocar no carnaval em si é uma apropriação cultural, mas não configura um ato criminal de racismo. O ato de usar um cocar não tira o significado original dele e nem configura uma violação da identidade indigena.

Por trás da ideia da Apropriação Cultural como uma atitude ofensiva existe uma a firmação intensiva de identidades de certos grupos sociais.

Há que se fazer a diferenciação entre o que é apenas um uso aleatorio de uma identidade e atitude ofensiva. Afinal existe uma grande diferença entre o uso do Cocar por um mento do Village People e o Blackface no filme O nascimento de uma Nação por exemplo.
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Absinto
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por Absinto »

Acho que o tema causa estranheza pelo fato de que somente agora nossa sociedade estar mais consciente dos seus direitos, em especial as minorias ou os excluídos e discriminados ao longo de décadas, que experimentam uma euforia natural diante da liberdade que se apresenta e do orgulho diante dos novos direitos conquistados.
Contudo, essas pessoas, a exemplo daquela que agrediu a moça do turbante, deveria se orgulhar por ter sua cultura prestigiada inclusive por pessoas diversas.
Interessante que os japoneses tem verdadeiro orgulho de ver sua cultura prestigiada pelos ocidentais e eles, embora tradicionais, não se importam de assimilar ou, melhor dizendo, adaptar culturas ocidentais ao seu modo de vivar e de fazer as coisas. Isso talvez se deva à sensação de segurança quanto à sua real identidade cultural e por saberem que o fato de se utilizarem de uma cultura alienígena não os diminuirá como nação.
Quanto aos estadunidenses, nem se fala. Não tem povo que mais ame ser imitado como ainda impõem sua cultura aos demais como símbolo de dominação.
E, particularmente, achei linda e nobre a atitude da garota de turbante, que, se usou este acessório, com certeza não foi com o animus injuriandi, mas por uma necessidade de ocultar os efeitos da quimioterapia e, ao mesmo tempo, para demonstrar sua admiração por uma cultura diversa.
Muito legal este tópico.
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kooboo
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por kooboo »

Daenerys escreveu:Tema interessante, que envolve muitas coisas, acredito que entre elas, identificação.

No caso das bandas, muitos brasileiros não compreendem inglês, portanto, ouvem as músicas de bandas como o Pink Floyd e não entendem a mensagem, apenas apreciam o som e acreditam ser "cult". Geralmente, esse público menospreza artistas brasileiros, especialmente aqueles que vem das periferias.

Outros, não conseguiam interpretar letras de artistas brasileiros, como Chico Buarque. Quando descobriram sobre o que as músicas se tratam, passaram a odiar.

Também, já vi pessoas que deixam de ouvir determinados artistas ou ler determinadas obras por discordarem da vida dos autores.
Marion Zimmer Bradley é uma autora que eu gosto muito, mas existem fatos sobre a vida dela (não sei se comprovados) terríveis. Não consegui deixar de gostar da ficção dela apesar disso, eu sou fã do trabalho, não da pessoa.
Eu, particularmente, evito misturar o artista com a obra. Porém, acho importante conhecer a obra e o artista também.

É importante conhecer a respeito da cultura que se consome, da mensagem, da proposta, mas não é necessário concordar com aquilo.
É possível ser fã de Pink Floyd e não concordar com a mensagem que passam? Talvez.
Mas, reclamar devido às manifestações do artista não é válido, pois o posicionamento dele está evidente no trabalho. Logo, quem estava no show e discorda do Roger é que deveria assistir sem reclamar, ou não ir ao show, ou não ser fã dele. Deveriam já saber sobre ele.

Aconteceu também quando a música "Bella Ciao" tocou na série La casa de papel. Um grupo se revoltou ao descobrir o teor da música.

Ainda, a respeito do caso do turbante, eu também não tenho conhecimento sobre o assunto para opinar. No entanto, particularmente, não vejo como apropriação cultural. Entretanto, acredito que essa questão seja bastante complexa e não me sinto apta para afirmar algo.

Portanto, na minha opinião, as pessoas que consomem algo, usam algum tipo de produto, não necessariamente precisam seguir/concordar/fazer parte de determinada causa ou ideia. Também não penso que estejam se apropriando indevidamente porque gostam.
A grande questão é: é possível ser ultrarreligioso/apolítico/conservador e apreciar determinada coisa? É uma pergunta cuja resposta é muito individual.

Só acho que é mais fácil gostar e consumir algo que nos identificamos com as ideias.
Conhecer a respeito é uma questão cultural e de entrosamento, identificação com o que se gosta.
É melhor conhecer antes de se dizer fã, ou antes de usar o produto, a marca.

Eu penso que essa revolta que aconteceu contra o Roger Waters, contra La Casa de Papel, Chico Buarque se dê mais pela ignorância de parte do público do que qualquer outra coisa.

Daenerys,

Seu comentário tem elementos otimos para discutir o tema -

É importante conhecer a respeito da cultura que se consome, da mensagem, da proposta, mas não é necessário concordar com aquilo.
É possível ser fã de Pink Floyd e não concordar com a mensagem que passam? Talvez.


Pense por dois aspectos -
Você está dizendo que uma pessoa pode gostar de uma banda, mas não necessariamente concordar com o que ela diz. A questão do Pink Floyd é clássica, pois a temática do PF sempre foi política e capitalista.
Agora... o que dizer do outro ponto?
Vou refazer a sua fala mudando e grifando alguns termos.

É importante conhecer a respeito da RELIGIÃO que se consome, da mensagem, da proposta, mas não é necessário concordar com aquilo.
É possível ser fã de JESUS e não concordar com a mensagem que passam? Talvez.


Ok, a pessoa pode gostar do ritmo e musicalidade de Roger Waters ou Chico Buarque, mas não gostar da letra... mas, e sobre Jesus?

Outro ponto a pensar -

Portanto, na minha opinião, as pessoas que consomem algo, usam algum tipo de produto, não necessariamente precisam seguir/concordar/fazer parte de determinada causa ou ideia. Também não penso que estejam se apropriando indevidamente porque gostam.
A grande questão é: é possível ser ultrarreligioso/apolítico/conservador e apreciar determinada coisa? É uma pergunta cuja resposta é muito individual.


A guria pode usar um turbante e se sentir linda com isso, sem se importar com a história das mulheres que usaram aquilo. Eu também penso assim.
Porém... ah, sempre tem os poréns...
Veja essa reportagem -https://g1.globo.com/mg/grande-minas/no ... cial.ghtml
Este sujeito estava num bar usando uma roupa e um símbolo de outra cultura e com alta representatividade. Ele pode fazer isso?
E a pergunta a seguir é só para instigar a discussão - Se ele não pode usar isso, porque uma garota branca poderia usar uma roupa da cultura afro?
CLARO que são pesos diferentes, chega a ser absurdo propor uma discussão comparativa entre isso, então não vamos entrar nessa onda, pois a cultura afro faz parte da cultura brasileira, nossa cultura tem diversos elementos de gastronomia, arte, musica, dança, roupas e afins de origem afro, e a cultura afro não é responsável por genocídios, pelo contrário - é a vítima.

Portanto, parece que a discussão não tem fim, mas tem vários elementos a ponderar.
Eu acredito que brancos se apoderarem de turbantes tem um peso, mas pessoas odiadoras se apoderarem de Cristo, tem um peso muito maior. E nossa sociedade (e a humanidade) já estão sujas até a alma com isso.
[]'s
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por kooboo »

Saran escreveu:
Termos como "Apropriação Cultural', "Lugar de Fala", "sororidade" são reflexões de uma linguagem provinda do zeitgeist os-modernista. Aproiação Cultual pod acabar sendo abordada dento do campo do juizo de valor, mas varia conforme o contexto.
Chegou na hora Saran!
:11
A variação contextual é que é o ponto. Pois varia de acordo com o grau de incomodo de alguns e do não se importar de outros.
E muitas vezes os que não se importam fazem um enorme mal uso do símbolo alheio.
[]'s
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Re: "Isso não é para você!"

Mensagem não lida por Saran »

Daenerys escreveu:Tema interessante, que envolve muitas coisas, acredito que entre elas, identificação.

No caso das bandas, muitos brasileiros não compreendem inglês, portanto, ouvem as músicas de bandas como o Pink Floyd e não entendem a mensagem, apenas apreciam o som e acreditam ser "cult". Geralmente, esse público menospreza artistas brasileiros, especialmente aqueles que vem das periferias.

Outros, não conseguiam interpretar letras de artistas brasileiros, como Chico Buarque. Quando descobriram sobre o que as músicas se tratam, passaram a odiar.

Também, já vi pessoas que deixam de ouvir determinados artistas ou ler determinadas obras por discordarem da vida dos autores.
Marion Zimmer Bradley é uma autora que eu gosto muito, mas existem fatos sobre a vida dela (não sei se comprovados) terríveis. Não consegui deixar de gostar da ficção dela apesar disso, eu sou fã do trabalho, não da pessoa.
Eu, particularmente, evito misturar o artista com a obra. Porém, acho importante conhecer a obra e o artista também.

É importante conhecer a respeito da cultura que se consome, da mensagem, da proposta, mas não é necessário concordar com aquilo.
É possível ser fã de Pink Floyd e não concordar com a mensagem que passam? Talvez.
Mas, reclamar devido às manifestações do artista não é válido, pois o posicionamento dele está evidente no trabalho. Logo, quem estava no show e discorda do Roger é que deveria assistir sem reclamar, ou não ir ao show, ou não ser fã dele. Deveriam já saber sobre ele.

Aconteceu também quando a música "Bella Ciao" tocou na série La casa de papel. Um grupo se revoltou ao descobrir o teor da música.

Ainda, a respeito do caso do turbante, eu também não tenho conhecimento sobre o assunto para opinar. No entanto, particularmente, não vejo como apropriação cultural. Entretanto, acredito que essa questão seja bastante complexa e não me sinto apta para afirmar algo.

Portanto, na minha opinião, as pessoas que consomem algo, usam algum tipo de produto, não necessariamente precisam seguir/concordar/fazer parte de determinada causa ou ideia. Também não penso que estejam se apropriando indevidamente porque gostam.
A grande questão é: é possível ser ultrarreligioso/apolítico/conservador e apreciar determinada coisa? É uma pergunta cuja resposta é muito individual.

Só acho que é mais fácil gostar e consumir algo que nos identificamos com as ideias.
Conhecer a respeito é uma questão cultural e de entrosamento, identificação com o que se gosta.
É melhor conhecer antes de se dizer fã, ou antes de usar o produto, a marca.

Eu penso que essa revolta que aconteceu contra o Roger Waters, contra La Casa de Papel, Chico Buarque se dê mais pela ignorância de parte do público do que qualquer outra coisa.

Isso me lembra uma treta que vai e vem envolvendo o Rage Against the Machine. O vocalista Zack de la Rocha quando veio no SWU, usou um boné do MST e ai a Globo cortou a transmissão na hora. Quando tem turné, sempre chove comentarios no Whiplash.net (Aonde mais né?) de cunho reacionario, sendo que o conteudo progressista da banda sempre foi bem claro.

Eu não sou nem um pouco simpatico ao pensamento de Ayn Rand e a turma liberal macroeconomicamente, mas eu tenho ciencia total que boa parte das letras do Rush sao influenciadas pelo Objetiviso criado por ela. E mesmo assim, considero o Niel Peart o melhor baterista da historia.

O mesmo vale para boa parte das bandas de Heavy Metal como o Metallica ( A cobra no album peto é a mesma que aparece na bandeira Dont Tread on Me de contexto absuamente reacionario na politica dos EUA. Alem do fato do James Hetfield vive indo caçar junto com o roqueiro reaçudo Ted Nugent), O Slayer (por mais controversas que as letras deles sejam, o Tom Araya é metido a crente e a mulher dele é bem reaça o Instagram), ou o Megadeth ( Dave Mustanie ficou bem xaropão depois que virou um Cristão renascido), o Pantera (Phil Anselmo foi bem escrotinho naquele episodio envolvendo um vinho branco)

O caso da Marion Zimmer Bradley é controverso ainda mais depois de morta que vieram as acusações de abuso sexual.
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