Um pouco de poesia para quem aprecia...

Fatos da atualidade e do passado que contam as conquistas sociais, tecnológicas e as lutas constantes para uma sociedade mais justa e solidária.
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Absinto
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por Absinto »

Loudome escreveu:Aproveitei que hoje é feriado, e concluí um soneto. Em memória de meu tio. Mais tarde pretendo fazer outro. Meu tio faleceu bastante jovem, então o tema dele será a idade de quando ele falecera.


X

Vinte e seis

X

De teus sonhos o sopro material
Que cedo às cinzas sucumbiu
D'onde ceifou-se o lírio oriental
Espinho sequer dali surgiu

Descansa! A guerra te perseguiu
E nímio o influxo do amor irreal
Que ávido buscavas te extinguiu
Extinto! Filho do ocaso fatal

Se voraz o solo que fragmenta
Em si integra de todos o tudo
Na essencilidade mesma da mente

E tua substância afinal complementa
Contemplativamente o belo mundo
O Nous recomporá tua semente
Só uma palavra para descrever: sublime!
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Loudome
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por Loudome »

Sobre mais um final

N'uma quinta em pleno sol ingente
Umbroso a mim sobrepunha-se inverno
Disse-me: acabou. Fixa e prepotente
Escarmentado lancei-me no inferno

Célere ao tormentoso fado interno
De minha culpa o sólio emanente
Ínclito bramava som prosterno
Da incasta desgraça já iminente

O querubínco olhar que me encarava
Na bárbara manhã ensolarada
Fez espesso terremoto bramir

Santo pai, levante-me como a Cristo!
Em vão rogo, como havia previsto
Diferente de Cristo, eu não irei sair..
NovaOrdem
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por NovaOrdem »

Loudome escreveu:Sobre mais um final

N'uma quinta em pleno sol ingente
Umbroso a mim sobrepunha-se inverno
Disse-me: acabou. Fixa e prepotente
Escarmentado lancei-me no inferno

Célere ao tormentoso fado interno
De minha culpa o sólio emanente
Ínclito bramava som prosterno
Da incasta desgraça já iminente

O querubínco olhar que me encarava
Na bárbara manhã ensolarada
Fez espesso terremoto bramir

Santo pai, levante-me como a Cristo!
Em vão rogo, como havia previsto
Diferente de Cristo, eu não irei sair..

Cara, seus poemas são magníficos! :D2
Li várias vezes. Nos brinde sempre com seu talento!

Abraço
"Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa" - Martin Luther King
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MattMurdock
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por MattMurdock »

NovaOrdem escreveu:Meu favorito desde sempre e creio que continuará sendo:

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Coincidente este tambem é o meu favorito! Essa NovaOrdem seria minha alma gêmea!

(Ahuhauhahshuahsshua)

Tá, agora falando sério:
Das Utopias
Mario Quintana

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las.
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!
“Como sabe que os anjos e os demônios dentro de mim não são a mesma coisa?”  
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MattMurdock
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por MattMurdock »

Do Amoroso Esquecimento
Mário Quintana

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
“Como sabe que os anjos e os demônios dentro de mim não são a mesma coisa?”  
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MattMurdock
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...

Mensagem não lida por MattMurdock »

TABACARIA
Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei -de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe? Nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem crescesses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
“Como sabe que os anjos e os demônios dentro de mim não são a mesma coisa?”  
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