Um pouco de poesia para quem aprecia...
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Estátua
Camilo Pessanha
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, --- frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
Camilo Pessanha
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, --- frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
SEPULTURA
Charles Baudelaire
Se em lúgubre noite de assombro
Um bom cristão, por caridade,
Sepulta ao pé de um velho escombro
Teu corpo inflado de vaidade
À hora em que as estrelas graves
Fecham seus olhos sonolentos,
A aranha urdirá suas caves,
Como a serpente seus rebentos;
Ouvirás cada ano que passa
Ecoar no teu crânio em desgraça
O uivo dos lobos carniceiros
E das ferozes bruxas hiantes,
A esbórnia das velhas bacantes
E o vil complô dos trapaceiros.
Charles Baudelaire
Se em lúgubre noite de assombro
Um bom cristão, por caridade,
Sepulta ao pé de um velho escombro
Teu corpo inflado de vaidade
À hora em que as estrelas graves
Fecham seus olhos sonolentos,
A aranha urdirá suas caves,
Como a serpente seus rebentos;
Ouvirás cada ano que passa
Ecoar no teu crânio em desgraça
O uivo dos lobos carniceiros
E das ferozes bruxas hiantes,
A esbórnia das velhas bacantes
E o vil complô dos trapaceiros.
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
A ALMA DO OUTRO MUNDO
Charles Baudelaire
Como os Anjos de ruivo olhar,
À tua alcova hei de voltar
E junto a ti, silente vulto,
Deslizarei na sombra oculto;
Dar-te-ei na pele escura e nua
Beijos mais frios que a lua
E qual serpente em náusea fossa
Te afagarei o quanto possa.
Ao despontar o dia incerto,
O meu lugar verás deserto,
E em tudo o frio há de se pôr.
Como os demais pela virtude,
Em tua vida e juventude
Quero reinar pelo pavor.
Charles Baudelaire
Como os Anjos de ruivo olhar,
À tua alcova hei de voltar
E junto a ti, silente vulto,
Deslizarei na sombra oculto;
Dar-te-ei na pele escura e nua
Beijos mais frios que a lua
E qual serpente em náusea fossa
Te afagarei o quanto possa.
Ao despontar o dia incerto,
O meu lugar verás deserto,
E em tudo o frio há de se pôr.
Como os demais pela virtude,
Em tua vida e juventude
Quero reinar pelo pavor.
Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Sua presença aquece a minha alma
é por isso que morro de frio
Não quero mais amar ou ser amada
Pra não ter de sofrer e sentir este vazio
Não me olhe
Não me ajude
Não me salve
Apenas sofra e me deixe sofrer
Apenas morra e me deixe viver
é por isso que morro de frio
Não quero mais amar ou ser amada
Pra não ter de sofrer e sentir este vazio
Não me olhe
Não me ajude
Não me salve
Apenas sofra e me deixe sofrer
Apenas morra e me deixe viver
"Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa" - Martin Luther King
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
OZYMANDIAS
Percy Bysshe Shelley
Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
de lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
"Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis: Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!"
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
Percy Bysshe Shelley
Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
de lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
"Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis: Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!"
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Meu favorito desde sempre e creio que continuará sendo:
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
"Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa" - Martin Luther King
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Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Amo Carlos Drummond! São poemas maduros que à medida em que vivemos mais percebemos o quanto eles tem a ver com todos nós. Isso se dá porque eles possuem um carga humana incrível que, mesmo para quem não é apreciador de poesias, seu lirismo transcende as amarras formais da linguagem e atingem o íntimo do indivíduo. Isso é um efeito que só a alta poesia é capaz de causar.NovaOrdem escreveu:Meu favorito desde sempre e creio que continuará sendo:
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Ele possui muitos outros assim, como Edifício São Borja, Elegia 1938, A Bruxa, Edifício Esplendor e outros.
Confesso que o último (Edifício Esplendor) já me fez chorar por me lembrar de alguns sentimentos do passado quando o leio e que até rendeu um tópico aqui no forum (Tristezas de uma Infância Esquecida).
Parabéns pelo bom gosto.
Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Gosto muito dos poemas dele por isso, são coisas reais, são coisas pelas quais passamos, cenários que reconhecemos... Ele se expressava muito bem sobre si mesmo e ainda sim os poemas não parecem individuais, não parece ser uma coisa só dele e que só ele mais ninguém entenderia, ou que poderíamos interpretar de várias formas. Vários dele sinto como se eu estivesse dizendo aquilo. Sinto por um dos poemas mais tristes (qual dele não é? A Dança, talvez) falar por você. Vc tem muito bom gosto tbm, obrigada.Amo Carlos Drummond! São poemas maduros que à medida em que vivemos mais percebemos o quanto eles tem a ver com todos nós. Isso se dá porque eles possuem um carga humana incrível que, mesmo para quem não é apreciador de poesias, seu lirismo transcende as amarras formais da linguagem e atingem o íntimo do indivíduo. Isso é um efeito que só a alta poesia é capaz de causar.
Ele possui muitos outros assim, como Edifício São Borja, Elegia 1938, A Bruxa, Edifício Esplendor e outros.
Confesso que o último (Edifício Esplendor) já me fez chorar por me lembrar de alguns sentimentos do passado quando o leio e que até rendeu um tópico aqui no forum (Tristezas de uma Infância Esquecida).
Parabéns pelo bom gosto.
"Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa" - Martin Luther King
- HanSolo1970
- Forista
- Mensagens: 54
- Registrado em: 06 Jul 2018 15:02
Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Lindo poema!
Re: Um pouco de poesia para quem aprecia...
Emily Dinckinson
Nunca me senti em Casa — Cá em baixo —
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa — eu sei —
Eu não gosto do Paraíso —
Porque é Domingo — sempre —
E o Recreio — nunca chega —
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta-feira —
Se, ao menos, Deus fizesse visitas —
Ou Sestas —
E deixasse de nos ver — mas dizem
Que Ele — por seu um Telescópio
Perpétuo nos olha —
Eu própria fugiria
D’Ele — e do Espírito Santo — e de Todos —
Não fosse o “Juízo Final”!
Nunca me senti em Casa — Cá em baixo —
E nos Aprazíveis Céus
Não me sentirei em Casa — eu sei —
Eu não gosto do Paraíso —
Porque é Domingo — sempre —
E o Recreio — nunca chega —
E o Éden serão solitárias
Claras Tardes de Quarta-feira —
Se, ao menos, Deus fizesse visitas —
Ou Sestas —
E deixasse de nos ver — mas dizem
Que Ele — por seu um Telescópio
Perpétuo nos olha —
Eu própria fugiria
D’Ele — e do Espírito Santo — e de Todos —
Não fosse o “Juízo Final”!
"É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós".
José Saramago
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