"Por que não fazem o certo?"

[jurado8]

Enquanto servia no espanhol de uma congregação do interior de Goiás, um de nossos trabalhos era fazer os irmãos ajudarem nossa congregação. Eu e outros irmãos visitávamos as congregações de português normal vez ou outra e tentávamos avivar o interesse dos irmãos para "servir onde há mais necessidade", "servir no território sem precisar sair de casa", etc. Orientados pelo superintendente, nosso discurso é que os irmãos poderiam servir no território em sua própria cidade. Nos anos que fiquei lá consegui trazer, se muito, 5 pessoas.
O que eu e outros envolvidos nessa tarefa nos perguntávamos era: "Por que não fazem o que é certo?" Apresentávamos textos bíblicos, publicações, "as alegrias", "a obrigação como Cristão", e até vídeo apelativo desenvolvido por um membro do CG para este fim. E...ninguém ia. Todos continuavam confortavelmente servindo de suas congregações mesmo, mesmo vários deles tendo total condições de nos ajudarem.
O tempo passou e servi em territórios, tive contatos com muitos do tempo integral e percebi que a sensação deles era a mesma. Afinal, eles foram levados à vida que tinham por terem "se jogado nas mãos de Jeová" e, viam com um olhar que misturava inveja/não entendimento como alguns não fizeram a mesma coisa. Me lembro de um que conheci no interiorzão do Amazonas que me disse: "Jurado, tem dias que acordo e nem sei como vim parar aqui." O sujeito tinha um bom emprego, largou para ir com a esposa para uma cidade de 10 mil habitantes no meio da Amazonia com a esposa, sobrevivendo de ajuda dos irmãos da cidade grande, suas economias (que não eram mta) e a mixaria de ajuda de custo que a Torre dá.
Em uma outra ocasião, fiquei hospedado em Atibaia (alô Rapha, rsrs) e todos ficamos na casa de irmãos muito ricos. Durante o serviço que estávamos prestando no salão de Assembleias, um irmão do tempo integral daqueles que se a Torre mandar pular de um precipício vai, chegou em mim e disse: "Jurado, como pode. Parece que aqui seguem outra religião. O alvo de todos aqui são outros..." Esse irmão passava muitos perrengues pelo Reino.

Depois que saí da Torre consegui ver mais claramente isso ainda. Vi claramente que muitos jovens vão a baladas e ficam entre si. Sei de alguns que até fazem sexo (pois meu primo disse ter ficado com uma irmã, ainda ativa no salão). E outras histórias.

No fim, percebi que muitos TJs estão ali, mas não acatam 100% do que o Escravo diz. Não acho que são PIMOs. Acreditam, mas não 100%. Na cabeça de um TJ bitolado (que um dia eu fui) isso era inadmissível. Ora, era uma questão de raciocínio lógico. Se a organização falava, era a vontade de Jeová. E por que eu seria contra a vontade de Jeová?

E vocês? Enquanto PIMIs, ou seja, enquanto acreditavam na doutrina, já tiveram o sentimento de olhar para alguns e pensar com sinceridade: por que não fazem o certo?

[ElRataAlada]

Eu fazia essa pergunta a mim mesmo as vezes, mas também tinha muito olhar crítico a outros (pensando agora poderia ser uma certa inveja). Nunca fui muito ativo na organização, de fazer mais e etc, por isso me perguntava isso. Porém nos outros quesitos seguia a cartilha, tentando ter uma moral impecável. Depois que com o tempo fui descobrindo que nem todos eram tão santos assim, mesmo sendo colocados como tal lá dentro.

Sobre essa questão que trouxe de existir muitos que mesmo não sendo PIMOs não estarem seguindo as regrinhas da Torre, creio eu que se não tivesse a doutrina da desassociação e ostracismo as TJs só seriam religiosos como outros quaisquer de outras doutrinas, que em sua maioria se identificam como tal, mas não seguem todos os mandamentos.

[freudexplica]

Enquanto bitolado isso me incomodava.

O que mencionou sobre o irmão em atibaia era exatamente a conversa entre nós (quando eu estava de escravo dos véio do CG).
E não era inveja. Realmente víamos com maus olhos, e lá dentro é assim. Inclusive trabalhei em projetos em atibaia , quem sabe não fui eu quem disse isso

Sobre sua pergunta:" por que não fazem o certo?" bem... não tenho a minima ideia.
Estou em um lugar cheio de gente bem de vida, formados em boas faculdades.
Após mudar para cá, vi inclusive um parente se aproximando de mim porque percebeu que eu não ligo para nada da torre. Aí apenas observo: um dia esta aqui em casa bebendo e falando todo tipo de "assunto proibido" enquanto ouve heavy metal. E no outro no salão dando comentarios e conversando sobre algum novo entendimento TJ. Evidentemente não temos nenhum assunto espiritual - pois sabe que sou meio acido e uso a lógica. É como se soubesse que sou um risco. Ja ficou e me viu de porre após um show e tambem age como se fosse normal.
Honestamente , vendo esse padrão de comportamento não entendo. Imunização cognitiva é a unica resposta que encontro - uma vez que a pessoa faz o que é errado mas não é capaz de ampliar o pensamento para compreender que na verdade tudo que ela faz nessa seita é errado. É como se os fundamentos da seita fossem protegidos por um cofre na mente da pessoa.

[Leviakerman94]

Boas jurado eu nunca acreditei 100% na seita sempre fui um desses, no entanto eu as vezes pergunto-me quando vejo certas pessoas da congregação que n tem interesse " O que é que este tipo anda aqui a fazer?" as vezes nem aparecem no salão nem sequer comentam fazem tudo automático mas mesmo assim continuam lá, muitos deles tem a vida orientada e n dependem da congregação para nada se saíssem ninguém ia notar, mal aparecem no campo mas por algum motivo andam lá.

[Merida]

Eu vivi uma fase muito 'bitolada" na Torre, era pioneira regular, adolescente ainda, então não tinha maturidade pra entender o censo de urgência imenso ensinado, enquanto que a maioria da congregação fazia a média de horas e tudo bem, hoje vejo que essa busca externa era resultado de um vazio interno, ambiente familiar disfuncional, o combo perfeito que a Torre ama.

Isso foi nos anos 90, nasci em 1975, aos 17 era pioneira regular, segui até os 21 anos, não namorei, quase não ia para as recreações, parques, jogos, nunca fui. Abandonei os estudos, estava tão cega 'bitolada' com um requisito de horas imenso '90', fazia umas 70 e poucas, o resto entrava num acordo camarada com Jeová 'sem culpa' eu acreditava ser amada e protegida por Deus.

Me faltava energia, no último ano do ensino médio vivia exausta, faltava muitas aulas, detestava o curso "Técnico em Contabilidade", fiquei tão cega, que chegou o ponto que os professores começaram colocar um traço no local das notas, colegas e professores não entendiam porque de uma aluna exemplar me tornei uma visita rara em sala de aula. '"Nunca subestime o poder de uma lavagem cerebral"

Depois estudei mais 2 anos outro curso técnico, e finalizei o Ensino Médio. E o fim? Até hoje não chegou. Hoje reconheço que quem estáva fazendo o básico estavam certos, perdiam menos tempo com as coisas da Torre.

A Torre precisa desses 'justos demais' pra usar como exemplo, pra motivar outros largar tudo, e ir dar seu melhor, pra Jeová? Não, pra organização. Só que a Torre esquece que o 'justo demais' cansa, e uma hora acorda e chuta o pau da barraca.

Esses trabalhos voluntários da Torre, consomem muito tempo e energia, e nunca é o suficiente, com aquele papo de que: a quem mais é dado é mais cobrado, isso atrapalha a vida do Tj, quem não pode sair 'ainda' estude, faça ensino superior, ofereça a Torre o básico, porque ela não paga as contas dos Tj, até pra ajudar, vão olharr o relatório e frequência às reuniões, se tiver ruim lhe jogam para um parente desertor cuidar, quando aperta o bolso a Torre suaviza as regras ; )

[Sombra]

Me identifiquei com esse tópico.

Também era o bitolado que se dedicava 100% a torre e sempre me perguntava isso. Lembro que até quando lia os anuários e olhava aquelas pessoas falando sobre os desafios que tinham em seus respectivos países e épocas eu comparava com as pessoas ao meu redor e ficava muito incomodado pela indiferença dos meus irmãos de congregação.

Na época cheguei a conclusão que era algo relacionado à falta de leitura, é fácil notar que 97% do povo (pelo menos nas congregações que frequentei) só lê o artigo da semana na base do caça resposta, ou seja, lê a pergunta, lê o tópico até achar a resposta, marca e antes de terminar o parágrafo já está lendo a pergunta do próximo. Sendo assim, eu passei a acreditar que essa cultura de não ler era o motivo da falta de interesse em fazer mais.

Hoje já acho que é isso que a torre quer. O conteúdo raso e infantiloide das publicações tem como objetivo segurar o membro "ativo" que dá donativos mas cuida da própria vida do que o apoiar o custoso e "caro" teocrático que tá no território pegando doenças e passando fome no lugar isolado.

Há, mas ela incentiva a largar o emprego e vir pro território (alguém poderia dizer). Só que quantos fazem isso? E os que fazem, quantos pagadores de donativos eles conseguem? O Jurado conseguiu 5. Eu também posso dizer que devo ter colocado uns 6 ou 7 lá.

Infelizmente ou felizmente a resposta definitiva na minha opinião é: não fazem o certo porque é isso que a organização quer.

[Sonic2022]

Jurado8, o que você descreveu é exatamente o que tenho visto aqui na minha região. As Tjs daqui, principalmente os jovens não agem nenhum pouco como é mostrado nos vídeos do JW. Na verdade, eles tem poucas diferenças entre outras pessoas, pois a maioria aqui tá fazendo faculdade, ficando, vendo o filme e série que querem, se divertem bastante, viajam e por aí vai. Um amigo pioneiro meu até falava palavrão normalmente kkkkkkk. Fora que são poucos os que são pioneiros ou possuem outros "privilégios". Quando eu era bitolado isso me deixava muito triste, pq afinal na minha cabeça se fosse para servir a Jeová tinha que ser de corpo e alma, dar tudo de si. Tem que entrar de cabeça.E foi isso que eu fiz , eu me dediquei 100%, como resultado hoje estou num emprego que ganha pouco, e ainda tô tendo que lidar com ansiedade e alguns problemas emocionais por causa das restrições que tinha quando era bitolado.
Eu tinha inveja dessas pessoas logo que despertei mas agora eu fico feliz por elas, por que mesmo com todos os problemas da Torre elas ainda Estão conseguindo achar um equilíbrio e ter uma vida até que boa, mas ao mesmo tempo isso é ruim por que se continuar assim elas vão acabar ficando mais tempo na Torre e podem acabar ficando bitoladas no futuro quando tiverem perto do fim da vida. Já eu que sou PIMO tenho algo bom a meu favor, para compensar o tempo perdido vou me dedicar 100% assim como fazia antes pela torre mas agora pelo meu futuro.

[PioneiroDesregulado]

Enquanto servia no espanhol de uma congregação do interior de Goiás, um de nossos trabalhos era fazer os irmãos ajudarem nossa congregação. Eu e outros irmãos visitávamos as congregações de português normal vez ou outra e tentávamos avivar o interesse dos irmãos para "servir onde há mais necessidade", "servir no território sem precisar sair de casa", etc. Orientados pelo superintendente, nosso discurso é que os irmãos poderiam servir no território em sua própria cidade. Nos anos que fiquei lá consegui trazer, se muito, 5 pessoas.
O que eu e outros envolvidos nessa tarefa nos perguntávamos era: "Por que não fazem o que é certo?" Apresentávamos textos bíblicos, publicações, "as alegrias", "a obrigação como Cristão", e até vídeo apelativo desenvolvido por um membro do CG para este fim. E...ninguém ia. Todos continuavam confortavelmente servindo de suas congregações mesmo, mesmo vários deles tendo total condições de nos ajudarem.
O tempo passou e servi em territórios, tive contatos com muitos do tempo integral e percebi que a sensação deles era a mesma. Afinal, eles foram levados à vida que tinham por terem "se jogado nas mãos de Jeová" e, viam com um olhar que misturava inveja/não entendimento como alguns não fizeram a mesma coisa. Me lembro de um que conheci no interiorzão do Amazonas que me disse: "Jurado, tem dias que acordo e nem sei como vim parar aqui." O sujeito tinha um bom emprego, largou para ir com a esposa para uma cidade de 10 mil habitantes no meio da Amazonia com a esposa, sobrevivendo de ajuda dos irmãos da cidade grande, suas economias (que não eram mta) e a mixaria de ajuda de custo que a Torre dá.
Em uma outra ocasião, fiquei hospedado em Atibaia (alô Rapha, rsrs) e todos ficamos na casa de irmãos muito ricos. Durante o serviço que estávamos prestando no salão de Assembleias, um irmão do tempo integral daqueles que se a Torre mandar pular de um precipício vai, chegou em mim e disse: "Jurado, como pode. Parece que aqui seguem outra religião. O alvo de todos aqui são outros..." Esse irmão passava muitos perrengues pelo Reino.

Depois que saí da Torre consegui ver mais claramente isso ainda. Vi claramente que muitos jovens vão a baladas e ficam entre si. Sei de alguns que até fazem sexo (pois meu primo disse ter ficado com uma irmã, ainda ativa no salão). E outras histórias.

No fim, percebi que muitos TJs estão ali, mas não acatam 100% do que o Escravo diz. Não acho que são PIMOs. Acreditam, mas não 100%. Na cabeça de um TJ bitolado (que um dia eu fui) isso era inadmissível. Ora, era uma questão de raciocínio lógico. Se a organização falava, era a vontade de Jeová. E por que eu seria contra a vontade de Jeová?

E vocês? Enquanto PIMIs, ou seja, enquanto acreditavam na doutrina, já tiveram o sentimento de olhar para alguns e pensar com sinceridade: por que não fazem o certo?

Eu sei que eu já disse isso várias vezes, mas me identifico 100%. Na questão dos sentimentos, pensamentos e questionamentos desse seu texto, é literalmente algo que me vem acompanhando desde o batismo.

Hj em dia é dane-se obviamente, eu mesmo estou entre os que fazem ''coisas erradas'', mas não estou na incoerência, estou apenas PIMO.

[argus]

Simples, não fazem "o certo" porquê:

"A nossa alma tem saudade do que os nossos olhos nunca viram."

Mesmo acreditando 100% naquele negócio, as pessoas querem experimentar coisas novas, ter coisas que outros tem.
Isso é natural do ser humano. Desejos, vontades, experiências, aventuras, emoção.
A torre tenta robotizar todo mundo.

Sabe quando você está dormindo, sonhando um sono horrível e você quer acordar e não consegue.
O sub-consciente de uma TJ é assim. Vou dar um exemplo:

A pessoa que fica postando um monde de textos bíblicos no status do zap ou ficam postando frases motivacionais.
Muitas vezes é o reflexo do tipo de vida que ela não vive. Vou dar um exemplo:

Quem posta muito texto, na maioria das vezes a vida espiritual está uma zona.
Quem posta muita frase motivacional, o emocional está um caos.
Assim como quem posta no status a comida que come, ou os lugares que vai, na sua maioria são pessoas que raramente experimentam aquilo.
Ou pessoas escassas e vazias.

"Postamos coisas que a nossa alma tem saudade de experimentar".

Portanto vejo esses pessoas não fazendo o certo, por que isso é válvula de escape da pressurização da torre.
Se não fizerem isso, elas explodem de tanta pressão.

A alma delas gritam de dor, querendo acordar do sono, mas imunização cognitiva não deixa.
Aí elas saem um pouquinho da caixinha da torre, pra poder não pirarem. É involuntário.

[JoanaDarc]

Aí apenas observo: um dia esta aqui em casa bebendo e falando todo tipo de "assunto proibido" enquanto ouve heavy metal. E no outro no salão dando comentarios e conversando sobre algum novo entendimento TJ.

Isso sempre me assustou, já conheci algumas pessoas assim, parece que tem um modo "mundano" e ou outro modo tj mas o que eu acho mais impressionante é como eles vão de um lado pro outro bem rápido e acham isso normal já que nem tentam disfarçar, claro que tem irmãos que veem isso e não gostam mas fica por isso mesmo e eles só não progridem.