O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia...Como as Ciências Humanas podem ajudar a compreender o comportamento do ser humano frente ao transcendente, ao sagrado?
TJ RENOVADO
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O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por TJ RENOVADO »

Fui marcado nesse texto no Facebook. Impossível não linkar vários aspectos abordados com a realidade do mundo TJ e de outros.
Por Erick Morais

Há no homem um desejo imenso pela liberdade, mas um medo ainda maior de vivê-la. Algo parecido disse Dostoiévski, ou talvez eu esteja dizendo algo parecido com o dito pelo escritor russo.

No entanto, como seres significantes que somos, analisamos as coisas sempre a partir de uma determinada perspectiva e, assim, passamos a atribuir-lhes valor. Dessa maneira, até conceitos completamente opostos, como liberdade e escravidão, podem se confundir ou de acordo com o prisma de quem analisa, tornarem-se expressões sinônimas, como acontece no mundo distópico de George Orwell, 1984, em que um dos lemas do partido – “Escravidão é Liberdade” – é repetido à exaustão.

Não à toa, as boas distopias têm como grande valor predizer o futuro. E em todas elas – 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica – há um ponto em comum: a liberdade dos indivíduos é tolhida e, consequentemente, convertida em escravidão. No entanto, através de mecanismos sócio-políticos a escravidão é ressignificada como liberdade, de modo que mesmo tendo a sua liberdade cerceada, os indivíduos entendem gozarem plenamente desta.

Nas histórias supracitadas, embora a maior parte da população esteja acomodada e aceite com enorme facilidade absurdos, existem indivíduos que se permitem compreender as suas reais situações e ousam lutar contra a ordem estabelecida. Esse processo é, todavia, extremamente doloroso, uma vez que é muito mais fácil se acomodar a enfrentar a realidade e todas as consequências dolorosas que enfrentamos invariavelmente quando decidimos sair da caverna, para lembrar Platão.

Posto isso, há de se considerar que ser verdadeiramente livre requer a responsabilidade de encarar o mundo sem fantasias, ou seja, tal como ele é. Dessa forma, existe no homem grande suscetibilidade a aceitar o irreal como real, a fantasia como verdade, a Matrix como o mundo real. Sim, Matrix é um grande exemplo do medo que possuímos de encarar a realidade.

No personagem de Cypher (Joe Pantoliano) encontramos o maior expoente desse comodismo, já que sendo a realidade um mundo destruído, um caos constante, é muito melhor viver na Matrix, onde ele “pode ser o que quiser”, ainda que não passe de uma grande mentira.

Em outras palavras, Cypher representa a ideia de que sendo a realidade algo tão assustador, a ignorância é uma benção, pois sendo ignorante, pode-se comprar mentiras como verdades facilmente, bem como, aceitar a Matrix como realidade e a escravidão como liberdade.

As realidades apresentadas no mundo das artes (ficções, que ironia), refletem a nossa própria realidade, em que, assim como Cypher, temos preferido viver vidas fantasiosas, cercadas de superficialidade e aparências, determinadas pelo hedonismo da sociedade de consumo e, consequentemente, o nosso egoísmo ganancioso buscando galopantemente realizar todos os desejos que impedem de acordarmos de um sonho ridículo.

Apesar de tudo isso, pode-se considerar que de fato é melhor ser um escravo feliz do que um ser livre, triste, inconformado e amedrontado. No entanto, a problemática ganha corpo na medida em que se entende que há coisas que só podem ser feitas sendo o sujeito livre, uma vez que a gaiola é sempre limitadora, sobretudo, aos desejos mais intrínsecos e, portanto, mais latentes e verdadeiros no ser.

Assim, por mais que a escravidão seja ressignificada, fantasiada e “transformada” em liberdade, sempre haverá pontos em que o indivíduo sentirá necessidade de alçar voos mais altos, os quais, obviamente, não poderão ser realizados, haja vista a limitação das gaiolas, o que implica a insatisfação, ainda que tardia, da condição escrava em que o indivíduo se encontra.

Sendo assim, constatamos que “O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo”*, posto que para gozar a liberdade é preciso coragem para se arriscar no terreno das incertezas e da luta. E, assim, temos preferido permanecer na caverna, orgulhosos das nossas sombras, já que lembrando outra vez Dostoiévski – “As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”. Entretanto, como disse, mais hora, menos hora, nos enxergamos e percebemos que o que nos circunda é falso, de tal maneira que desejamos sair, correr, voar, ser livres.

O grande problema nisso é que quando se acostuma a viver em uma gaiola, quando se é livre perde-se a capacidade de voar, pois as correntes que nos prendem são criadas pelas nossas mentes, de forma que mesmo fora da caverna, continuamos prisioneiros de uma mente que se acostumou a ser covarde e preferiu acreditar na contradição de que ser escravo era o maior ato de liberdade.

*A frase que dá título ao texto é de autoria desconhecida. Se alguém souber a real autoria, por favor, avise-nos
.

http://www.pensarcontemporaneo.com/o-me ... r-escravo/

De fato, a tão sonhada liberdade amedronta muitos. De modo que as pessoas se iludidem em suas falsas perspectivas de liberdade, embora Escravizadas. É o real medo da luz.

Para uso da moderação---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

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Editado pela última vez por Lourisvaldo Santana em 18 Jul 2018 16:01, em um total de 1 vez.
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TJCalado
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por TJCalado »

A liberdade é assustadora mesmo! Os mais valentes conseguem encará-la, os não-valentes apenas vislumbrá-la e os covardes fazem de tudo para evitá-la. Esses últimos ainda tentam desencorajar os outros dois grupos. Fazer parte de um grupo nos dá a sensação de segurança, e em muitos casos somente isso: sensação. Em um grupo pacífico com os de fora e rígido com os de dentro, como as Testemunhas de Jeová, não existe nenhuma garantia de segurança. Um exemplo recente é o caso da Russia. O governo determinou e as TJs tiveram que acatar. A segurança só existe quando as engrenagens estão girando bem. Mas quando cai uma chave dentro do conjunto, acabou.
Além do mais, o limitado apoio que a Torre oferece está diretamente ligado aos interesses da organização. Há muito patrimônio na Russia em jogo. O que não ocorre na Eritreia, onde os TJs presos só servem para citar exemplo de perseguição aos "servos de Jeová".
"Invejo a burrice, porque é eterna."
- Nelson Rodrigues
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por Prior Dissidente »

Muito verdadeiro o texto.
É necessário coragem para sair da gaiola onde você tinha segurança e todas as certezas mesmo pagando um preço alto para permanecer ali. No início o medo de voar, a sensação de não pertencimento, o vazio existencial, o físico livre mas a mente ainda aprisionada, tudo gera um temor imenso da vida, das pessoas, de você mesmo.
Mas chega um momento que ao sair da gaiola ou você voa ou volta pra lá.
Eu aprendi a voar!
A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.
-MARX
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Lehh
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por Lehh »

d:7 d:7

Texto excelente,

Obrigada por este tópico, eu me identifiquei muito. Quebrar com essas barreiras não é um processo fácil, mas vale a pena.
"Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro"-
Virginia Woolf
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baiano
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por baiano »

Fiquei um bom tempo sem entrar no forum e quando entro, eis que me deparo com esse excelente texto. Ele se adapta perfeitamente não só à organização da torre de vigia, mas a qualquer sistema religioso, especialmente às seitas. Acredito que esse medo seja a principal força motriz para o surgimento de organizações religiosas.

Grande, Renovado!!!
:11
"Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto." Leonardo Boff
TJ RENOVADO
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por TJ RENOVADO »

baiano escreveu:Fiquei um bom tempo sem entrar no forum e quando entro, eis que me deparo com esse excelente texto. Ele se adapta perfeitamente não só à organização da torre de vigia, mas a qualquer sistema religioso, especialmente às seitas. Acredito que esse medo seja a principal força motriz para o surgimento de organizações religiosas.

Grande, Renovado!!!
:11
Grande Baiano, meu conterrâneo. Bom te ver por aqui.
Esse texto realmente é uma sacudida sincera em muitos por aí e entre nós aqui.
Um abraço, amigão.
Diógenes
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por Diógenes »

TJ RENOVADO escreveu:Fui marcado nesse texto no Facebook. Impossível não linkar vários aspectos abordados com a realidade do mundo TJ e de outros.
Por Erick Morais

Há no homem um desejo imenso pela liberdade, mas um medo ainda maior de vivê-la. Algo parecido disse Dostoiévski, ou talvez eu esteja dizendo algo parecido com o dito pelo escritor russo.

No entanto, como seres significantes que somos, analisamos as coisas sempre a partir de uma determinada perspectiva e, assim, passamos a atribuir-lhes valor. Dessa maneira, até conceitos completamente opostos, como liberdade e escravidão, podem se confundir ou de acordo com o prisma de quem analisa, tornarem-se expressões sinônimas, como acontece no mundo distópico de George Orwell, 1984, em que um dos lemas do partido – “Escravidão é Liberdade” – é repetido à exaustão.

Não à toa, as boas distopias têm como grande valor predizer o futuro. E em todas elas – 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Laranja Mecânica – há um ponto em comum: a liberdade dos indivíduos é tolhida e, consequentemente, convertida em escravidão. No entanto, através de mecanismos sócio-políticos a escravidão é ressignificada como liberdade, de modo que mesmo tendo a sua liberdade cerceada, os indivíduos entendem gozarem plenamente desta.

Nas histórias supracitadas, embora a maior parte da população esteja acomodada e aceite com enorme facilidade absurdos, existem indivíduos que se permitem compreender as suas reais situações e ousam lutar contra a ordem estabelecida. Esse processo é, todavia, extremamente doloroso, uma vez que é muito mais fácil se acomodar a enfrentar a realidade e todas as consequências dolorosas que enfrentamos invariavelmente quando decidimos sair da caverna, para lembrar Platão.

Posto isso, há de se considerar que ser verdadeiramente livre requer a responsabilidade de encarar o mundo sem fantasias, ou seja, tal como ele é. Dessa forma, existe no homem grande suscetibilidade a aceitar o irreal como real, a fantasia como verdade, a Matrix como o mundo real. Sim, Matrix é um grande exemplo do medo que possuímos de encarar a realidade.

No personagem de Cypher (Joe Pantoliano) encontramos o maior expoente desse comodismo, já que sendo a realidade um mundo destruído, um caos constante, é muito melhor viver na Matrix, onde ele “pode ser o que quiser”, ainda que não passe de uma grande mentira.

Em outras palavras, Cypher representa a ideia de que sendo a realidade algo tão assustador, a ignorância é uma benção, pois sendo ignorante, pode-se comprar mentiras como verdades facilmente, bem como, aceitar a Matrix como realidade e a escravidão como liberdade.

As realidades apresentadas no mundo das artes (ficções, que ironia), refletem a nossa própria realidade, em que, assim como Cypher, temos preferido viver vidas fantasiosas, cercadas de superficialidade e aparências, determinadas pelo hedonismo da sociedade de consumo e, consequentemente, o nosso egoísmo ganancioso buscando galopantemente realizar todos os desejos que impedem de acordarmos de um sonho ridículo.

Apesar de tudo isso, pode-se considerar que de fato é melhor ser um escravo feliz do que um ser livre, triste, inconformado e amedrontado. No entanto, a problemática ganha corpo na medida em que se entende que há coisas que só podem ser feitas sendo o sujeito livre, uma vez que a gaiola é sempre limitadora, sobretudo, aos desejos mais intrínsecos e, portanto, mais latentes e verdadeiros no ser.

Assim, por mais que a escravidão seja ressignificada, fantasiada e “transformada” em liberdade, sempre haverá pontos em que o indivíduo sentirá necessidade de alçar voos mais altos, os quais, obviamente, não poderão ser realizados, haja vista a limitação das gaiolas, o que implica a insatisfação, ainda que tardia, da condição escrava em que o indivíduo se encontra.

Sendo assim, constatamos que “O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo”*, posto que para gozar a liberdade é preciso coragem para se arriscar no terreno das incertezas e da luta. E, assim, temos preferido permanecer na caverna, orgulhosos das nossas sombras, já que lembrando outra vez Dostoiévski – “As gaiolas são o lugar onde as certezas moram”. Entretanto, como disse, mais hora, menos hora, nos enxergamos e percebemos que o que nos circunda é falso, de tal maneira que desejamos sair, correr, voar, ser livres.

O grande problema nisso é que quando se acostuma a viver em uma gaiola, quando se é livre perde-se a capacidade de voar, pois as correntes que nos prendem são criadas pelas nossas mentes, de forma que mesmo fora da caverna, continuamos prisioneiros de uma mente que se acostumou a ser covarde e preferiu acreditar na contradição de que ser escravo era o maior ato de liberdade.

*A frase que dá título ao texto é de autoria desconhecida. Se alguém souber a real autoria, por favor, avise-nos
.

http://www.pensarcontemporaneo.com/o-me ... r-escravo/

De fato, a tão sonhada liberdade amedronta muitos. De modo que as pessoas se iludidem em suas falsas perspectivas de liberdade, embora Escravizadas. É o real medo da luz.
Que texto libertador! Muito elucidativo!
"De nada nos beneficia tentar refutar os argumentos de apóstatas..." Sentinela de 15/05/2012, p.26 §13
Mente Independente
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

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A liberdade mental é a melhor coisa do mundo. Eu não trocaria a minha por nada.
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universalista
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

Mensagem não lida por universalista »

Para alguns o medo do desconhecido é determinante na vida. Se prefere uma tortura conhecida e certa a uma possível reviravolta que não dê certo. Assim se acampa por muito tempo em um pantano podre mas já conhecido, com medo de ir um pouco mais adiante e não achar nenhum lugar melhor.
O objetivo é o caminho.
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Galileu
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Re: O medo de ser livre provoca o orgulho em ser escravo

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Ótimo!
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