Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia...Como as Ciências Humanas podem ajudar a compreender o comportamento do ser humano frente ao transcendente, ao sagrado?
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Victini
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Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Victini »

Achei esta carta de Jung um pouco complexa.
Abri o tópico mais para partilhar do que para tecer comentários, mas se alguém desejar fazê-lo eu até gostaria de aprofundar o raciocínio de Jung.

"Texto retirado do livro "Cartas de C. G. Jung" Vol II.
Trecho de carta de Jung enviada ao Dr. John R. Smythies em 29/02/1952.

Dear Dr. Smythies,

[...] No meu ensaio sobre sincronicidade não me aventurei nesse tipo de especulação. Eu proponho um novo (na verdade, bem antigo) princípio de explicação, isto é, a sincronicidade, que é um termo novo para a já consagrada συμπάθεια ou correspondentia. Na verdade, eu me reporto a Leibniz, o último pensador medieval com um critério holístico. Ele explicou o fenômeno por meio de quatro princípios: espaço, tempo, causalidade e correspondência ("harmonia praestabilita"). O último princípio já foi abandonado há muito tempo (ainda que Shopenhauer o tenha reassumido, disfarçado como causalidade). Eu penso que não há explicação causal para os fenômenos-ψ. Conceitos como transferência de pensamentos, telepatia e clarividência nada significam. Como imaginar uma explicação causal para um caso de precognição?

Na minha opinião, os fenômenos-ψ são contingências além da mera probabilidade, "coincidências significativas" (sinngemässe Koinzidenzen) devido a uma condição psíquica especial, isto é, uma certa disposição emocional chamada interesse, expectativa, esperança, fé, etc., ou uma situação emocional objetiva como morte, doença, ou outras condições "numinosas". As emoções seguem um padrão instintivo, isto é, um arquétipo. Nos experimentos da PES [percepção extra sensorial], por exemplo, temos a situação do milagre. Parece que o caráter coletivo dos arquétipos se manifesta também em coincidências significativas, isto é, como se o arquétipo (ou inconsciente coletivo) não estivesse apenas dentro do indivíduo, mas também fora dele, ou seja, em seu meio ambiente, como se emissor e receptor estivessem no mesmo espaço psíquico ou no mesmo tempo (em casos de precognição). Como no mundo psíquico não há corpos movendo-se através do espaço, também não há tempo. O mundo arquetípico é "eterno", isto é, fora do tempo, e está em toda a parte, pois não existe espaço sob condições psíquicas, isto é, arquetípicas. Onde prevalece um arquétipo, podemos esperar fenômenos sincronísticos, isto é, correspondências acausais que constituem num ordenamento paralelo dos fatos no tempo. O ordenamento não é o efeito de uma causa. Ele simplesmente acontece como consequência do fato de a causalidade ser mera verdade estatística. Proponho, por isso, 4 princípios para a explicação da natureza:

(ver o esquema no link abaixo)

Ou levando em consideração a física moderna:

(ver o esquema no link abaixo)

A contingência é na maioria das vezes sem sentido, mas os fenômenos-ψ provam que ela tem sentido às vezes."

Fonte: http://integrandofragmentos.blogspot.co ... etivo.html
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Yeats
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Yeats »

Não compreendi exatamente o que ele propunha indicar com isso. Ele mencionou coisas diversas como " pensamentos, telepatia e clarividência" e a "PES", dá a impressão que falta alguma coisa.
Quem tem língua afiada também corta a própria boca.
Também vem cuspido aquilo que se quer mastigado.
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Mentalista
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Mentalista »

AS ARMADILHAS DO CONCEITO DE SINCRONICIDADE

Para o pensamento ocidental desde Descartes, a “explicação científica” remonta a uma validação causal: D é causado por C, C por B, B por A. Não é de espantar então que a discussão da hipótese de Jung de um princípio de sincronicidade tenha produzido inúmeros mal-entendidos.
Marie-Louise von Franz em seu artigo “A Contribution to the Discussion of C.G. Jung’s Synchronicity Hipothesis” aponta uma série de erros que já se cometeu ou que se pode cometer na interpretação desse conceito e que aqui serão resumidos e sistematizados.
A autora começa falando das dificuldades que muitos parapsicólogos têm em compreender esse novo modo de pensar e diz que:


Na minha opinião isso vem do fato de muitos parapsicólogos estarem sempre fazendo um esforço intenso por conseguir a aceitação de seu campo fundamentando-o em um método científico “rigoroso”, isto é, em métodos quantitativos e pensamento causal enquanto que justamente o que a hipótese de Jung propõe está em uma direção oposta para longe daquilo que até agora foi considerado o único modo “científico” de pensar. (p. 229)


Ela então continua falando de algumas pessoas que tendem a achar que a sincronicidade explica os fenômenos “psi” causalmente e afirma:


a hipótese da sincronicidade não “explica” causalmente os fenômenos psi, mas comparada com os resultados obtidos até hoje pelas pesquisas, ela os coloca em um contexto novo, mais amplo, isto é, no domínio dos arquétipos, um campo no qual estudos biológicos e psicológicos detalhados já foram feitos. Entretanto estes estudos infelizmente parecem ser desconhecidos da maioria dos parapsicólogos. (p. 230)


Outra tendência errônea é encontrada entre aqueles que buscam uma explicação neurológica para os fenômenos sincronísticos, quando na verdade o que caracteriza um evento sincronístico é justamente a ausência de uma relação causal. Há também aqueles que supõem que os eventos sincronísticos sejam causados pelo inconsciente do observador. Com relação a isto, ela diz:


De acordo com a visão junguiana, o inconsciente coletivo não é de forma alguma uma expressão de desejos e objetivos pessoais, mas uma entidade neutra, psíquica em sua natureza que existe de uma forma absolutamente transpessoal. Atribuir a ocorrência de eventos sincronísticos ao inconsciente do observador não seria nada além de uma regressão ao pensamento mágico primitivo, de acordo com o qual supunha-se antigamente que, por exemplo, um eclipse poderia ser “causado” pela malevolência de um feiticeiro. Jung chegou a advertir explicitamente contra considerar-se os arquétipos (ou o inconsciente coletivo) ou poderes psi como sendo a agência causal dos eventos sincronísticos. (p.231)


O fato do evento sincronístico não ter uma causa pode levar ao erro de se imaginar que tudo aquilo que não tem uma causa conhecida é um evento sincronístico. Quanto a isso Jung é bem claro, afirmando que: “Devemos obviamente nos prevenir de pensar todo evento cuja causa é desconhecida como “sem causa”. Isso é admissível apenas quando uma causa não é nem sequer imaginável. Este é especialmente o caso quando espaço e tempo perdem seu significado ou aparecem relativizados, caso em que uma conexão causal também torna-se impensável.” (CW VIII, par. 957)
A questão do significado, que é crucial na classificação de um evento sincronístico, também pode causar confusões. Afirmar que a existência de um observador que dê significado ao evento é fundamental não quer dizer que os eventos sincronísticos e seu significado sejam produzidos pelo observador. Essa questão do significado também traz outros problemas. Pelo fato do significado ser subjetivo, como podemos saber se não estamos fantasiando um significado quando na realidade ele não existe? Tudo o que diz respeito a fenômenos arquetípicos tem uma “lógica” de asserção que Jung chama de “necessary statements” (“afirmações necessárias”). Estas não são criadas pelo ego, são “impostas” pelo arquétipo e são esperadas sempre que um arquétipo está constelado, como é o caso dos eventos sincronísticos, nos dando um parâmetro para saber se o evento é mesmo significativo ou não.
A ordenação acausal e o “conhecimento absoluto” que estão por trás dos eventos sincronísticos não devem ser confundidos com um “Deus” teológico. É possível postular um deus faber por trás destes eventos, mas isso vai além de qualquer possibilidade de prova e Jung nunca o fez.
Já que a constelação de um arquétipo é fundamental para a ocorrência de um evento sincronístico, é fácil incorrer no erro de considerar que foi o arquétipo que o ‘causou’. Jung diz que:


Eu me inclino, porém a admitir que a sincronicidade em sentido mais estrito é apenas um caso especial de organização geral, aquele da equivalência dos processos psíquicos e físicos onde o observador está em condição privilegiada de poder reconhecer o tertium comparationis. Mas logo que percebe o pano de fundo arquetípico, ele é tentado a atribuir a assimilação dos processos psíquicos e físicos independentes a um efeito (causal) do arquétipo, e assim, a ignorar o fato de que eles são meramente contingentes. Evitamos este perigo se considerarmos a sincronicidade como um caso especial de organização acausal geral. (...) ... devemos considerá-los [os acontecimentos acausais] como atos de criação no sentido de uma creatio continua (criação contínua) de um modelo que se repete esporadicamente desde toda a eternidade e não pode ser deduzido a partir de antecedentes conhecidos. (CW VIII, par. 516)


A organização arquetípica “aparece” ou torna-se “visível” em um evento sincronístico, mas não é a causa deste. O evento sincronístico é uma creatio, um surgimento espontâneo de algo inteiramente novo e que portanto não é predeterminado causalmente.
Embora Jung tenha sugerido que a ordenação acausal geral pode ser verificada experimentalmente através dos métodos de adivinhação, os eventos sincronísticos não são passíveis de serem investigados estatisticamente, uma vez que Jung é claro ao afirmar que os eventos sincronísticos são imprevisíveis, espontâneos e não podem ser repetidos.

http://www.symbolon.com.br/artigos/jungesicroni2.htm
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Thiago
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Thiago »

Bom, eu já vou na direção contrária, as sincronicidades podem sim ser provocadas conscientemente e intencionalmente por qualquer pessoa, portanto a tese de que as sincronicidades só ocorrem sem o controle do ego, caem por terra.

Existem métodos para provocar sincronicidades, e eu já repeti alguns métodos tantas e tantas vezes com sucesso, que ouso contrariar Jung quando diz que nós não podemos causar sincronicidades por ato de nossa vontade.

Na verdade inúmeras pessoas ja sabem que podem provocar esse tipo de ocorrência intencionalmente, vale a pena a psicologia rever algumas de suas teses sobre esse tema.

Existem vários tipos de sincronicidades, eu classificaria basicamente em 3 tipos:

1- Sincronicidade causada intencionalmente pela própria pessoa através de métodos específicos
2- Sincronicidade espontânea que a pessoa não teve a intenção de causar e nem esperava que ocorresse
3- Sincronicidade causada intencionalmente por um agente externo na vida da pessoa, seja para o bem ou para o mal
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Victini
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Victini »

Thiago escreveu: Existem vários tipos de sincronicidades, eu classificaria basicamente em 3 tipos:

1- Sincronicidade causada intencionalmente pela própria pessoa através de métodos específicos
2- Sincronicidade espontânea que a pessoa não teve a intenção de causar e nem esperava que ocorresse
3- Sincronicidade causada intencionalmente por um agente externo na vida da pessoa, seja para o bem ou para o mal
Não sei Thiago, mas a 1ª nunca fiz, a 2ª acontece sim, e a 3ª não sei do que se trata.
Faria o favor de dar umas luzes sobre isso?

Também para Yeats e Mentalista:

Eu achei alguma incoerência na carta de Jung e algo que já li sobre ele, só que não posso atestar porque não me recordo da fonte.
Mas eu li algo sobre Jung ter tido uma antevisão do inicio da 1ª guerra mundial, que o deixou bastante perturbado, achando mesmo que sofria de alguma psicose.
Esta carta deixou-me um pouco questionada porque eu acredito na lei causa-efeito e o texto não é claro.
Preciso meditar sobre isso.
Obrigada aos três por desenvolverem o raciocínio.
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Thomas Prodigy
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Thomas Prodigy »

Comigo agora está acontecendo o item 3 conforme descrito pelo Thiago, tudo está se sincronizando em minha vida por agentes externos até no mue campo profissional, consegui uma promoção almejda por muitos que veio pra mim sem eu mover um dedo, até eu está aqui no forum é meio inexplicável, mas constato que me deparei com alguém que já conhecia antes, mas que tava "sumido" do meio "TJoteano como si diz por aqui, mas enfim, está bem, "graças a Deus!"
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Mentalista
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Mentalista »

Vez por outra acontece que eu vejo uma palavra nova ou pouco falada, e busco seu significado. Passa um dia ou dois, vejo na TV ou outro lugar falarem justamente aquela palavra. Sempre penso que isso é muito estranho, e nunca entendi o porquê.
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Victini
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Victini »

Mentalista escreveu:Vez por outra acontece que eu vejo uma palavra nova ou pouco falada, e busco seu significado. Passa um dia ou dois, vejo na TV ou outro lugar falarem justamente aquela palavra. Sempre penso que isso é muito estranho, e nunca entendi o porquê.
Mentalista,

Verifiquei agora que ao copiar o texto esqueci este parágrafo importante:
"Pode-se introduzir a sincronicidade como suplemento necessário de uma causalidade apenas estatística, o que é a maneira negativa de fazê-lo. Mas uma demonstração positiva exige fatos, que não posso fornecer nesta carta, Estão no meu livro. Espero ter-lhe dado ao menos uma idéia do que entendo por sincronicidade. Se o senhor acha que isto é algo não muito diferente da harmonia praestabilita de Leibniz, não está longe da verdade. Mas, enquanto se trata em Leibniz de um fator constante, na minha concepção isto é um fator totalmente inconstante e dependente em grande parte da condição psíquica e arquetípica.

Lamento estar atrasado com minha resposta. Mas fui acometido de uma gripe e ainda sofro por causa do tempo.

Yours sincerely,
(C.G. Jung)"
Se você já pesquisou, por acaso (ou causalidade, rss) sabe a que livro Jung se referia?
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Thiago
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Thiago »

V4nd4 escreveu:
Thiago escreveu: Existem vários tipos de sincronicidades, eu classificaria basicamente em 3 tipos:

1- Sincronicidade causada intencionalmente pela própria pessoa através de métodos específicos
2- Sincronicidade espontânea que a pessoa não teve a intenção de causar e nem esperava que ocorresse
3- Sincronicidade causada intencionalmente por um agente externo na vida da pessoa, seja para o bem ou para o mal
Não sei Thiago, mas a 1ª nunca fiz, a 2ª acontece sim, e a 3ª não sei do que se trata.
Faria o favor de dar umas luzes sobre isso?
Sim V4nd4. A 3º opção refere-se quando uma pessoa (encarnada ou desencarnada) faz algo por meio de métodos que visam influenciar a vida de alguém. Então eu admito que tanto espíritos quanto pessoas encarnadas podem exercer influencia na vida alheia, desencadeando sincronicidades positivas ou não. Um exemplo seria o caso de alguém com uma doença muito séria, e essa pessoa pede ajuda a uma pessoa que sabe trabalhar com energias de cura, daí o curador vai lá e doa bioenergias visando restabelecer a saúde dela e a cura realmente ocorre. Esse seria um exemplo de sincronicidade desencadeado intencionalmente por um agente externo.

A 1º opção eu me refiro a pessoas como eu, que conheço métodos para causar sincronicidades na minha própria vida. Para fazer isso existem inúmeras técnicas, mas o essencial é ter bem definido qual o objetivo a ser alcançado e a vontade firme e decidida de aquilo aconteça. Se a pessoa souber manipular bioenergias melhor ainda, porque os efeitos tendem a ser mas rápidos, as vezes no mesmo dia alguma sincronicidade acontece.
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Re: Causalidade, casualidade ou sincronicidade?

Mensagem não lida por Mentalista »

Vanda, não tinha pesquisado, mas acredito que o livro seja:

http://www.livrariacultura.com.br/p/sin ... ade-156790
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