Poder e manipulação

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Batista
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Poder e manipulação

Mensagem não lida por Batista »

Trago aqui um trecho de um livro muito bom que já li dias vezes, e como fui uma vítima dessa religião me identifiquei muito com essa parte do livro. O livro chama-se "poder e manipulação" um livro que extrai 20 lições da obra O príncipe de Nicolau Maquiave, recomendo a leitura



"As pessoas têm uma necessidade extraordinária de acreditar em algo maior do que elas mesmas. A maioria anda aflita à procura de algo que possa usar para preencher o vazio e a insignificância de sua existência. Elas se rendem a qualquer coisa que as façam se sentir importantes, dignas e maiores do que são. Essa necessidade as tornatremendamente suscetíveis a todo tipo de influência e manipulação. Qualquer charlatão que aparecer com uma promessa de salvação para a aparente falta de sentido da vida terá sua boa vontade e colaboração. Profissionais bem preparados sabem dessa nossa deficiência e não têm piedade nem limites para explorá-la. Sobre ela, constroem fortunas e impérios nos quais, depois, quase sempre nos aprisionam e escravizam. Seja na política, religião, esportes, artes, moda ou entretenimento a estratégia do manipulador é sempre a mesma: criar uma espécie de culto em torno de uma causa aparentemente nobre e se colocar no centro, como profeta e precursor da transformação que, em geral, converte um, aparente, mal num bem. O processo todo não envolve nenhum tipo de ação (o que exigiria esforço e resultados concretos), mas imagens e palavras sempre empolgantes e evasivas. De um lado, o que essas pessoas nos oferecem parece grandioso e transformador; de outro, vazio, raso e evazivo. Isso não é uma falha, mas uma técnica. Porque o vazio e evasivo oferece espaço para os indivíduos criarem sua própria ilusão sobre a promessa grandiosa que lhes é oferecida. E a técnica terá um efeito ainda maior se as palavras tiverem enorme ressonância, se forem repletas de entusiasmo, calor e promessas eloquentes. Títulos sólidos e pomposos, muitas vezes envolvendo números para esconder a característica vaga do conceito em si, podem ter um efeito viral sobre as massas. Veja o exemplo da política: Juscelino Kubitschek e seus “cinquenta anos em cinco”, Fernando Collor de Mello e o “caçador de marajás”, Luiz Inácio Lula da Silva e o “fome zero”. Em todos eles, teve-se o cuidado de criar um slogan que criasse nos seguidores a sensação de fazerem parte de um grupo exclusivo que os conectasse a uma causa nobre, grande, maior que eles próprios. Em todos, há uma luta envolvida. Sempre contra um terrível inimigo comum, alguém que todos querem ajudar a exterminar. Juscelino, a estagnação do país; Collor, os marajás; Lula, a fome. Não raras vezes, suspeita-se de que há alguém por trás desse inimigo abstrato — um partido, um sistema, uma pessoa ou um grupo delas — que é apontado como o causador desse mal e que seu objetivo é acabar com o bem e propagar o mal. Ao apresentar uma causa nobre, e apontar seu adversário como inimigo dessa causa, essas pessoas criam a sensação de que o mundo está divido em dois blocos: o bloco do bem e o bloco do mal. Elas, lógico, são o bloco do bem; os seus adversários, o do mal. Exemplos dessa técnica podem ser percebidas na história de Stálin e sua luta contra o capitalismo, de Hittler e sua luta contra os judeus, e, mais recentemente, de Hugo Chaves e sua luta fictícia contra o imperialismo yankee. Essas pessoas nunca admitem nem deixam transparecer que seu poder vem da criação dessa luta, seja ela fictícia ou real. Ao contrário, elas fingem que emprestam seu poder para combater esse “inimigo cruel” que causa esse “grande mal”. E isso não se aplica só a políticos. Está estampado em toda parte. Num estudo recente, grupos de homens que viram um anúncio de um automóvel novo ladeado por duas garotas sedutoras consideraram o carro mais veloz, mais atraente, mais bem projetado e o avaliaram com um preço superior ao de outros grupos que viram o mesmo anúncio sem as modelos. Para evitar esse tipo de manipulação, olhe sempre para o produto ou para a pessoa e não para a causa na qual se insere. Olhe para o indivíduo em si, não para o super-herói no qual ele tenta se projetar por trás de uma causa. Analise suas palavras sem a euforia que elas provocam. Em vez de se concentrar cegamente na causa proposta, questione o como, o quando e o porquê dessa causa. O manipulador nunca terá a resposta para essas questões. Jamais se distraia com a imagem colorida que as pessoas pintam de si mesmas. Procure por aquilo que as motiva, pelos interesses escondidos em suas palavras entusiasmadas e enganadoras.E se você busca prestígio e liderança, torne-se uma fonte de prazer e distração para os outros. Acorde, atice e flerte com a imaginação e a fantasia deles. Evite ser o tipo realista e racional que lida abertamente com a dura realidade dos fatos. Jamais cometa o erro de dizer a quem você quer seduzir, que o sucesso, a riqueza e o prestígio são resultados do esforço e do trabalho duro, mesmo sabendo que isso é verdade. Se fizer isso, ninguém se interessará por você. A realidade geralmente é dura demais, a solução é muito dolorida e as pessoas não querem lidar com ela. Então, ao contrário, prometa uma fórmula mágica, uma alquimia que mude tudo de uma hora para outra. Se fizer isso, você não será apenas prestigiado por elas — será glorificado. Não se iluda: há enorme reconhecimento e prestígio esperando por quem consegue mexer com a ilusão e a fantasia das pessoas. LEMBRE-SE: os indivíduos raramente acreditam que seus problemas são fruto de seus próprios erros e da sua própria ignorância. A culpa sempre é de alguém ou de algo: os outros, a vida, as circunstâncias, a falta de sorte, a ausência de oportunidades e assim por diante. E se, na mente deles, a causa vem de fora, a solução também precisa estar lá fora. Não tente, portanto, mostrar-lhes a verdade. Eles evitam a verdade porque ela raras vezes é agradável e prazerosa. Pense nisso! A maioria de nós deseja mudanças e compreende muito bem a necessidade de fazê-las. Mas por que não as fazemos? Porque, na prática, qualquer mudança vai contra nossos hábitos profundamente estabelecidos. Ela exige uma ruptura traumática na nossa rotina, o que raramente estamos dispostos a enfrentar. Portanto, se quer cativar e seduzir os outros, sua promessa de salvação não deve passar de promessa. Ela até pode ser intangível narealidade, mas precisa ser perfeitamente palpável na imaginação das pessoas. Faça-as sonhar, desejar, serem tentadas por sua promessa, mas não lhes dê o suficiente para compreendê-la a ponto de quererem colocá-la em prática. Mantenha a realização delas sempre distante, não a explique demais, pois isso revelaria os obstáculos que precisam ser superados para realizá-la e, com isso, a maioria perderia o interesse por sua ideia."



O que isso mais me lembra é a história do paraíso, da soberania do nome de Deus e o desafio de Satanás todas essas coisas são muito obscuras se formos analisar minuciosamente todas essas histórias contadas pelas tjs, elas perdem totalmente o sentido(não só isso mas para mim e toda a narrativa bíblica e a ideia de Deus, salvação e vida após a morte) por isso como disse Maquiavel o vazio e evasivo abre margem para a imaginação e isso leva a galera à loucura. E vcs como associam esse texto às tjs.
Nao é possível enganar todas as pessoas o tempo todo.⌛
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jurado8
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Re: Poder e manipulação

Mensagem não lida por jurado8 »

Perfeito Batista.

Aliás, Maquiavel é um dos meus autores preferidos. De fato, faz-se fortunas em troca de uma falsa sensação de segurança, de propósito, etc. Observa-se a Igreja Católica, a Igreja Universal, e até couchs como Pablo Marçal. Ficam usando a Bíblia para enriquecimento próprio. As seitas como Mormons e TJs parecem ter todas as respostas e dar um senso de pertencimento e sentido à vida e, dessa forma, seus membros vão defender a doutrina com unhas e dentes pois esta está intimamente associada à sua própria identidade, seu futuro. O fim da seita seria o fim deles próprios. Veja, por exemplo, que ao fazer uma crítica à organização, muitos TJs entendem como uma crítica pessoal a eles.

Se gosta desse tema recomendo Erich Fromm e seu livro "Escape from Freedom" (Fuga da Liberdade). Lá Fromm discute a necessidade humana de buscar um sentido e uma identidade, o que pode levar as pessoas a se submeterem a sistemas de autoridade e manipulação. Se estes forem "maquiavelicamente" bem montados, constroi-se fortunas em cima disso e, quem você explora, irá defende-lo com unhas e dentes. Triste, porém, real.

"Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso.”
Melanie Klein
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Galileu
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Re: Poder e manipulação

Mensagem não lida por Galileu »

Batista , muito bom !

Os manipuladores criam um realidade paralela , fakenews , criam utopias e ideias propositalmente fantasiosas para alcança-las.

A coisa é meio hipnótica , ao ponto de , como bem sinalizou o Jurado8, a mera menção ,por parte de algum seguidor, de que um "detalhe " da ideia utópica ,possa estar errado é tida como afronta "pessoal" .

É cegueira de grupo , apoiada defendida como bem mencionado, " com unhas e dentes" pelo individuo .

Muito bom racicinio !
"Penso, logo existo" - Descartes
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