Olá Nando!
Como ja diria o nosso amigo Jack o Estripador: vamos por partes!
O autor da primeira postagem faz duas menções que me chamaram profundamente a atenção e são estas:
1-Afirma que o Buda jamais mencionou a reencarnação ("Nos seus discursos não há referência sequer ao fato de que existe reencarnação"). Se a gente se focar estritamente no palavra reencarnação então concordo com o autor. O termo reencarnação até onde sei foi um neologismo criado por Allan Kardec na codificação do Espiritismo e amplamente adotado e divulgado no ocidente, especialmente pela Teosofia.
No entanto recentemente folheando uma tradução feita pela Monja Cohen sobre textos do canone pali ao português, li os ensinamentos de Buda em relação ao estado mental do moribundo e como este estado pode influenciar o renascimento ou proxima vida qualquer que seja o termo adotado.
De fato já vi alguns budistas como Stephan Bachelor (Buddhism without beliefs) negando que Buda tenha ensinado qualquer coisa em relação á reencarnação, renascimento ou coisa parecida. O que resulta um tanto contraditorio com outros ensinamentos Budistas que salientam o continuo mental, como este se transforma e migra de vida para vida pelos seis reinos que vc mencionou.
O que vc opina?
Bem Nando.
De fato a assim chamada "reencarnação" é uma adaptação cultural que por ser comparado a doutrina de Kardeck gera realmente muitos esquívocos (ja vi espírita indignado numa sangha em Viamão tentando socar na cabeça da palestrante que evolução existe no budismo). O correto é mencionar "renascimento" ou ainda "emanação".
As sanghas budistas brasileiras estão substiruindo o termo "reencarnação" para evitar confusões, pois os conceitos divergem grandemente.
No tocant a budha ter ou não ensinado a emanação
Segue um Link sobre um texto excrito por Bikhu Bodhi (Bikhu é monge Bodhi é seu nome de dharma). Ele é da tradição Theravada, a mais antiga escola de budismo que somente utiliza o cânone Pali.
http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_ ... imento.php
Quanto a Stephen Bachelor, considerei um tanto decepcionante o livro dele. Esperava mais profundidade de um budista que possui pelo menos 15 anos a mais do que eu, mas tudo bem. Cada um com seu cada um.
Mas com relação ele desconsiderar que o budha não ensinou o renascimento, há um equívoco aqui. Bachelor aceita que budha tenha ensinado o renascimento (página 53 do Budismo sem Crenças) porém se seguirmos lendo ele menciona que buddha somente fez isso por uma questão de contexto, pois era o senso comum da época e que agora devemos rever este conceito de renascimento e substituir por uma visão materialista.
2-O autor faz uma menção que acho que pode levar a mal entendidos em relação ao budismo, pelo menos na forma em que eu a entendo em função do que li e escutei.
Ele diz que "No Budismo Mahayana, porém, Buda já não é apenas um sábio, mas uma divindade reverenciada".
Podem existir exageros entre os praticantes de varias tradições budistas, mas a frase acima pode levar leitores ocidentais a pensar que no budismo mahayana, Buda é um Deus ou algo parecido pelo uso da palavra "divindade". Digo isto porque pelo que vi e li em livros budistas ou em palestras com praticantes budistas, todos de linhas mahayanas, jamais Buda foi considerado um Deus ou coisa parecida. Sim um mestre espiritual, um iluminado cujo exemplo e ensinamentos podemos seguir.
Também, muito mestres Theravadas parecem compartilhar a ideia -logica e coerente com o Dharma- de que existem incontaveis Budas, e que todos nos tornaremos Budas um dia. Embora esta ideia não esteja presente explicitamente nos ensinamentos Theravadas.
O que vc acha?
De fato há um equívoco por parte do autor. Mas vamos por partes.
O Budismo mahayana, surge num contexto onde as pessoas ainda se esforçam em seguir encrementos ritualísticas e práticas religiosas da antiga Índia. A doutrina Budista para ter uma melhor aceitação pública teve de se adaptar a estes conceitos culturais e práticas religiosas dos povos por onde se desenvolveu, nesta adaptação surge o Mahayana, onde há uma primorosa mitologia e aspecto religioso.
O Mahayana é palatável ao indiano médio na época de sua fundação pois não dá um "crunch" na religiosidade do praticante. Seguindo o exemplo do próprio Budha que várias vezes menciona nos Sutras entidades espirituais como Brahma (o Deus não a Cerveja
) para explicar as coisas para o povo mais simples como as 4 Brahamaviras (as 4 casas de Brahma) onde é ensinado para os leigos aquilo que é explicado para monges e praticantes budistas como os 4 pensamentos incomensuráveis.
Tornar o buddha uma divindade foi a forma mais adequada para que o povo comum pudesse entender a doutrina e fortalecer o budismo como tradição espiritual. Se não fosse o mahayana ter feito isso provavelmente não seria hoje, um budista e o imperador Asoka teria sido o maior tirano que o oriente médio jamais conheceu, pois ele converteu-se ao budismo em sua forma mahayana criando o primeiro império multireligioso do mundo.
O Budismo clássico era alvo de duras críticas por parte dos filósofos eternalistas indianos, sendo considerado niilista ou materialista-religioso. Provavelmente se não tivesse surgido o mahayana a partir do budsmo clássico este seria estirpado como o foi todos os caminhos materialistas-niilistas da índia antiga.
Mesmo havendo estes elementos religiosos, o mahayana ensina do dharma puro como o faz o theravada. Os leigos tem uma fé comparada a um cristão, no oriente, mas os mestres não tem esta visão de devoção ao budha. O Mahayana no ocidente é livre desta visão do budha como um ser divino, e os mestres orientais seguem esta mesma visão. Alguns, como o mestre zen Moryama Roshi, costuma dizer: "Vou ir para o Japão, mas vou voltar aqui no Brasil para praticar budismo de verdade".
A visão do mahayana ocidental esta a parte da idéia de religião, tanto é que agora o budismo é considerado como um sistema de treinamento ou caminho espiritual. No oriente ainda há o aspecto religioso, mas isso não é problema na visão budista, pois é a forma como eles compreendem o dharma.
são apenas dúvidas minhas .....
Sem problema, fique a vontade.
3-Voltando ao tema da reencarnação, transmigração ou renascimento. A reencarnação nos termos em que conhecemos no ocidente principalmente pelo Espiritismo e pela Teosofia, implica em evolução dum nucleo espiritual que seria chamado de mônada ou espirito, claro que este nucleo espiritual/mental muda, evolui e se transforma a cada existencia etc.. Existe este conceito, ou algo parecido no Budismo? Claro que isto implica em entrar em detalhe em conceitos em relação ao que transmigra de uma vida para outra .... que seria nossa essencia ... existe portanto algo que seria nossa genuina essencia espiritual e esta evolui atraves da transmigração/renascimento/reencarnação etc ?
No budismo não há o conceito de evolução espiritual, somente o karma que é levado de uma vida para outra. Ou seja, não há o conceito de evolução no sentido de melhora, pois considerar um indvíduo como superior ao outro (ou mais evoluido) fere o princípio budista de equanimidade.
Ah !!, o que vc conhece e acha da Nova Tradição Kadampa (NKT)?
Possuo o Lamrim utilizado pela NKT. Li todo o volumoso livro, e digo que é uma ótima tradição e que irá beneficiar o praticante da mesma maneira que as demais escolas do budismo tibetano.
Muito Obrigado !!
De nada.