Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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APOCALIPSE ADIADO
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Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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A uma grande diferença entre conhecer algo e conhecer profundamente. Por exemplo, uma coisa é saber olhar as horas em um relógio e outra muito diferente seria conseguir desmontar o relógio peça por peça e conseguir montá-lo novamente, este sim poderia afirmar que conhece o relógio profundamente. Infelizmente, a grande maioria dos cristãos se enquadra na pessoa que apenas sabe olhar as horas no relógio, estando muito longe daquele que consegue desmontá-lo e montá-lo novamente. A maioria dos cristãos segue o que lhes é ensinado por seus líderes religiosos que não raro seguem a tradição de sua religião sem pesquisar com profundidade a história da religião e da bíblia.
Raríssimas pessoas conhecem, por exemplo, o histórico de falsificações dos escritos cristãos nos primórdios da história do cristianismo. Para a surpresa de muitos cristãos, os livros que hoje compõem a bíblia são apenas uma pequena amostra de todos os escritos que circulavam entre as comunidades cristãs nos primeiros quatrocentos anos do cristianismo. A grande maioria de tais livros levava nomes de pessoas que conviveram com Jesus e tiveram um papel de destaque na história do cristianismo como Pedro, Paulo, Tomé, Felipe, Judas, Maria Madalena entre outros. Muitos evangelhos, epístolas, atos e apocalipses vinham assinados por grandes nomes da história cristã. Porém, a grande maioria de tais livros foram considerados fraudulentos, escritos por cristãos desconhecidos que por serem carentes de influência ou prestígio escreviam em nome de alguém que veio antes deles e era influente, assim poderiam defender práticas ou conceitos religiosos de seu interesse com maior aceitação dos leitores.
As técnicas de falsificação incluem imitar o estilo literário, vocabulário, formas específicas de aplicação da gramática, tamanho da sentença, uso de particípios, utilização de fragmentos de sentenças, entre outras particularidades da escrita do autor. Além disso, utilizam declarações, comentários ou observações muito usadas pelo autor fazendo o texto ficar muito similar a um escrito original dele. Todos têm um estilo de redação próprio e a princípio todo estilo pode ser imitado. Entretanto, não existe uma falsificação perfeita, mesmo os melhores falsificadores da atualidade cometem erros e deixam alguma pista, sempre a algum detalhe que passa despercebido. Quando tratamos dos escritos cristãos a tarefa de detectar fraudes fica mais fácil porque os primeiros cristãos não dominavam plenamente todas as técnicas de falsificação usadas nos dias de hoje.
Diversos estudiosos têm através dos tempos demonstrado as evidências de logro na autoria de vários livros da bíblia. Na história da erudição moderna o primeiro grande trabalho contestando a autoria de um livro bíblico foi feito pelo estudioso alemão Friedrich Schleiermacher em 1807. Ele foi um dos mais importantes teólogos cristão do século XIX, influenciou diversos teólogos do século XX e até hoje há acadêmicos especializados em estudar suas obras e os seus ensinamentos. Numa carta enviada a um pastor em 1807, Friedrich demonstrou que 1ª Timóteo não fora escrita por Paulo como diz a tradição cristã. Outros estudiosos posteriores a Friedrich apresentaram argumentos de que outras cartas paulinas também eram fraudulentas como 2ª Timóteo e Tito.
Hoje, mais de duzentos anos depois da primeira obra de Friedrich há um amplo consenso acadêmico de que das treze cartas cuja autoria e atribuída a Paulo apenas sete seja realmente de autoria dele (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon) devido à coerência de estilo e teologia, tendo todas as características de ser escrito pela mesma pessoa. As demais seis cartas (1 e 2 Timóteo, Tito, 2 Tessalonicenses, Efésios e Colossenses) contêm incoerências e características muito diferentes apesar de um visível esforço de tentar parecer com os escritos de Paulo, como já disse antes, sempre a algum detalhe que passa despercebido. Vamos analisar todas as seis cartas consideradas pelos estudiosos como fraudulentas e observarmos as evidências apontadas pelos acadêmicos.
Vamos começar pelas chamadas epístolas pastorais, 1 e 2 Timóteo e Tito. Todas as evidências indicam que estas três cartas foram escritas pela mesma pessoa e essa pessoa provavelmente não foi Paulo. Todas as três tem conexões verbais e semelhanças demais indicando um mesmo autor. Veja por exemplo como começam 1ª e 2ª Timóteo:
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, sob o mandado de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, a Timóteo, filho genuíno na fé: Haja benignidade imerecida, misericórdia, paz da parte de Deus, [o] Pai, e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1ª Timóteo 1: 1-2).
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em união com Cristo Jesus, a Timóteo, filho amado: Haja benignidade imerecida, misericórdia, paz da parte de Deus, [o] Pai, e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (2ª Timóteo 2: 1-2).
Como podemos observar, são praticamente iguais e nenhuma das cartas consideradas realmente escritas por Paulo começa assim, além disso, há uma quantidade enorme de concordâncias verbais similares. Palavras e frases nestas cartas (como “a promessa de vida”, “com uma consciência pura”, “de um coração puro”, “apóstolo, mensageiro e mestre”) não são encontradas em nenhuma das outras cartas atribuídas a Paulo, apenas nestas. Quem escreveu estas cartas tinha seus termos preferidos que não eram usados por Paulo em suas cartas. O estudioso britânico A.N. Harrison escreveu um estudo das epístolas pastorais apresentando estatísticas sobre a utilização de palavras nestes textos demonstrando que o estilo de redação é muito diferente das outras epístolas paulinas. Há 848 palavras diferentes usadas nas epistolas pastorais, delas, 306 (mais de um terço) não aparecem em nenhuma das outras epístolas paulinas do novo testamento, além disso, um terço destas 306 palavras são muito usadas por autores cristãos do 2º século, sugerindo que este autor usava um vocabulário mais comum de uma época posterior a de Paulo, portanto, viveu após o tempo de Paulo.
Algumas vezes o autor usa as mesmas palavras de Paulo, mas com significados diferentes. Por exemplo, o termo fé era muito importante para Paulo, nas cartas aos Romanos e aos Gálatas a palavra fé se refere à confiança na salvação por meio da morte de Cristo, portanto, uma relação com outro, no caso, confiança em Cristo. Já nas pastorais, o termo fé significa o conjunto de ensinamentos que compõem a religião cristã conforme podemos ver em Tito 1:13-14: “Este testemunho é verdadeiro. Por esta mesma causa persiste em repreendê-los com severidade, para que sejam sãos na fé, não prestando atenção a fábulas judaicas e a mandamentos de homens que se desviam da verdade”.
Algumas idéias e conceitos nas epístolas pastorais parecem contradizer o que encontramos nas epístolas de Paulo. Observamos nas cartas paulinas diversas argumentações de que as “obras da lei” não levam a salvação, antes, o que salva é a fé na morte e ressurreição de Jesus. Quando Paulo fala de “obras” ele claramente se refere às coisas que a lei judaica exige como ser circuncidado, guardar o sábado, não comer alimentos considerados impuros pela lei, etc. Contudo, nas pastorais, a lei judaica não é mais problema, o autor se refere a “obras” como sendo boas ações, fazer o bem a outras pessoas. Veja o conceito de casamento, em 1ª Coríntios 7, Paulo afirma que as pessoas solteiras deveriam tentar permanecer assim, como ele, pois o fim está próximo e as pessoas deveriam se dedicar a divulgar essa notícia, deixando de ter vida social. Já nas pastorais a questão de se casar não é mais um empecilho para os cristãos, inclusive, os líderes da igreja deveriam ser maridos de uma só esposa e ter filhos disciplinados.
A situação histórica mostrada nas pastorais se torna mais uma evidência de que Paulo não é seu autor. Nas demais cartas de Paulo fica evidente que para ele o fim era iminente. Paulo chamou Jesus de as primícias dos que morrem, isto era uma metáfora agrícola, pois os agricultores celebravam o primeiro dia de colheita (as primícias) com uma festa à noite. E quando pegariam o resto da colheita? Obviamente seria no dia seguinte, logo após a festa e não cinqüenta anos depois ou dois mil anos depois. Portando, para Paulo, muito em breve os mortos seriam erguidos, tanto é assim que ele tem a expectativa de estar vivo quando Jesus retornar, note sua expressão:
“Pois, se a nossa fé é que Jesus morreu e foi levantado de novo, então, também, Deus trará com ele os que adormeceram [na morte] por intermédio de Jesus. Pois, nós vos dizemos pela palavra de Jeová o seguinte: que nós, os viventes, que sobrevivermos até a presença do Senhor, de modo algum precederemos os que adormeceram [na morte]; porque o próprio Senhor descerá do céu com uma chamada dominante, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus, e os que estão mortos em união com Cristo se levantarão primeiro. Depois nós, os viventes, que sobrevivermos, seremos juntamente com eles arrebatados em nuvens, para encontrar o Senhor no ar; e assim estaremos sempre com [o] Senhor” (1ª Tessalonicenses 4:14-17). Observamos Paulo dizendo que Deus havia revelado a ele que os que sobrevivessem até a volta de Cristo, grupo este que ele se incluía (observe o uso do pronome “nós”) seriam arrebatados em nuvens. Fica evidente que ele tinha plena convicção de que o retorno de Jesus ocorreria dentro do tempo de vida de alguns de seus contemporâneos. Lendo as cartas de Paulo notamos que seu ponto de vista é de que durante o curto período intermediário entre a ressurreição de Cristo e o fim dos tempos o espírito dado à igreja e a cada indivíduo daria a orientação necessária para o bom funcionamento das congregações. Quando a pessoa era batizada recebia o espírito e o espírito dava a pessoa um dom espiritual, alguns recebiam o dom de ensinar, outros de profetizar, outros de curar, outros de falar em línguas, outros de interpretar essas línguas, etc. Todos estes dons deveriam ajudar a comunidade cristã a funcionar em unidade. Nenhum destes dons era menor ou insignificante, todos tinham importância, todos na igreja tinham um dom, de modo que todos eram iguais, escravos e senhores, homens e mulheres, ricos e pobres, judeus e gentios. Por isso, Paulo podia dizer: “Não há nem judeu nem grego, não há nem escravo nem homem livre, não há nem macho nem fêmea; pois todos vós sois um só em união com Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
Quando surgia problemas nas congregações que Paulo ajudou a formar (como a de Corinto onde temos uma melhor documentação) ele escrevia para lidar com eles diretamente, descrevendo seu problemas de forma individual. Basta ler as duas cartas de Paulo aos coríntios para ver que a comunidade ali era uma bagunça, havia divisões e brigas internas, alguns membros processando outros, sérias discordâncias em relação a grandes questões éticas e comportamentais, como se era correto comer carne que tivesse sido sacrificada a ídolos pagãos. Algumas pessoas negavam que fosse haver uma ressurreição futura, havia grande imoralidade (alguns homens visitavam prostitutas e se vangloriavam disso na igreja e um sujeito dormia com a madrasta). Paulo cuida desses problemas diretamente em suas cartas conclamando-os a usar seus dons espirituais para o bem comum. Ele não escreve aos líderes da congregação, antes sua carta fala diretamente a todos os membros da igreja. Não havia bispos ou diáconos, antes um grupo de indivíduos, cada um com um dom do espírito nesse breve tempo antes do fim tão próximo.
Agora compare isso com as pastorais, ali não há indivíduos dotados pelo espírito trabalhando juntos para formar uma comunidade. Ali há os líderes Timóteo e Tito, há bispos e diáconos, há hierarquia, estrutura, organização, ou seja, uma situação completamente diferente da época de Paulo. Se você espera que Jesus volte logo não há necessidade de um sistema hierarquizado de organização e liderança. Mas, se Jesus não retorna tão rapidamente como se esperava, as coisas são diferentes, você precisa se organizar, precisa de liderança para manter a ordem, precisa de mestres para salvaguardar o ensino, precisa especificar como as pessoas devem se relacionar socialmente, senhores e escravos, maridos e mulheres, pais e filhos. Num sistema hierárquico não há igualdade, há liderança. É justamente o que você encontra nas epístolas pastorais.
Porque as epístolas pastorais foram falsificadas? Possivelmente o autor é alguém enfrentando novos problemas em uma geração posterior com uma nova realidade, problemas que o próprio Paulo nunca abordou e se fazer passar por ele lhe dará um certo prestígio e autoridade que com certeza fará com que suas orientações sejam escutadas e seguidas. Algumas referencias pessoais no final de 2ª Timóteo como pedir para que Timóteo traga sua capa e também os rolos que ele deixou podem fazer parte de uma técnica de falsificação que procura fazer a carta soar informal reduzindo as suspeitas de que seja falsa.
Outra carta que parece improvável ter sido escrita por Paulo é 2ª Tessalonicenses. A primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses é a que mais destaca o ponto de vista de que o fim era iminente e chegaria enquanto muitos daquela geração estariam vivos. O objetivo da carta era justamente reforçar tal crença porque alguns cristãos em Tessalônica haviam ficado perturbados com a morte de colegas crentes. Paulo lhes ensinou que o fim dos tempos era iminente e que logo eles entrariam no Reino dos Céus quando Jesus retornasse, entretanto, membros da igreja morreram antes que isso acontecesse. Tal situação estava causando incerteza e dúvida entre os Tessalonicenses, será que seus irmãos falecidos teriam perdido sua recompensa celestial? Na sua carta Paulo lhes assegura que os mortos também seriam levados ao Reino. Ele explica que os que morreram fieis em Cristo ressuscitariam primeiro, depois eles que ainda estavam na terra seriam arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens ao encontro do Senhor (1ª Tessalonicenses 4:14-17). Inclusive Paulo esperava ser um daqueles que ainda estariam vivos quando isso acontecesse. Ele destaca que tal acontecimento seria súbito e inesperado como “um ladrão a noite” e quando as pessoas pensassem que estava tudo bem dizendo “paz e segurança” então lhes sobreviria “instantaneamente a repentina destruição”. Os Tessalonicenses deveriam estar alertas e preparados, pois assim como as dores de parto de uma mulher grávida indica que esta próximo o nascimento do bebê mas não mostra o momento exato, assim seria o fim dos tempos, estava muito próximo mas ninguém saberia o exato momento (1ª Tessalonicenses 5:2-3).
A segunda carta aos Tessalonicenses diz justamente o contrário, o autor de segunda Tessalonicenses, alegando ser Paulo diz que o fim na verdade não se dará imediatamente, certas coisas precisam acontecer primeiro. Segundo o escritor, primeiro haverá a apostasia e haverá algum tipo de levante e rebelião política ou religiosa onde surgirá uma espécie de anticristo (o homem que é contra a lei) que tomará seu assento no Templo de Deus e se declarará Deus. Só então, depois de tudo isso, o Senhor virá e destruirá a todos (2ª Tessalonicenses 2:3-8). Portanto, os tessalonicenses poderiam ficar tranqüilos de que ainda não estavam no período final dos últimos dias quando Jesus reapareceria, eles entenderiam pelos sinais descritos na carta a proximidade da chegada de Jesus. Compare o momento do surgimento de Jesus em 2ª Tessalonicenses onde ainda demorará um pouco sendo precedido por acontecimentos impressionantes e claramente identificáveis com o totalmente diferente relato de 1ª Tessalonicenses aonde o fim chegará como um ladrão noturno que aparece quando as pessoas menos esperam e como as dores de parto que instantânea e repentinamente tomam conta da mulher grávida indicando que o nascimento do bebê é iminente. Há uma disparidade fundamental entre os ensinamentos de 1ª e 2ª Tessalonicenses, são duas visões totalmente diferentes e antagônicas.
O autor de 2ª Tessalonicenses indica que já ensinou “essas coisas” (que tinha de haver uma seqüência de acontecimentos antes do fim) a seus convertidos quando esteve com eles “Não vos lembrais de que, enquanto eu estava ainda convosco, costumava dizer-vos estas coisas?” (2ª Tessalonicenses 2:5). Porém, em 1ª Tessalonicenses Paulo ensina algo totalmente diferente, dizendo que o fim chegaria a qualquer momento, instantaneamente. Mas, em 2ª Tessalonicenses, o suposto Paulo dá a entender que nunca ensinou tal coisa, ele diz que tem de haver uma seqüência de acontecimentos impressionantes e claramente identificáveis (como a apostasia e uma rebelião onde surgiria o homem que é contra a lei) antes do fim.
No final de 2ª Tessalonicenses, o autor insiste que é Paulo e oferece uma espécie de prova: “[Aqui está] o meu cumprimento, o de Paulo, pela minha própria mão, que é sinal em cada carta; é assim que eu escrevo” (2ª Tessalonicenses 3:17). O autor quer dar a entender que um secretário redigiu a carta e que ele escreveu este trecho com sua própria mão, o leitor da carta poderia ver a mudança de caligrafia e reconhecer a de Paulo, prática que ele afirma ser constante em suas cartas, autenticando como sendo dele esta carta em oposição a uma suposta carta falsificada mencionada em 2ª Tessalonicenses 2:2: “que não sejais depressa demovidos de vossa razão, nem fiqueis provocados, quer por uma expressão inspirada, quer por intermédio duma mensagem verbal, quer por uma carta, como se fosse da nossa parte, no sentido de que o dia de Jeová está aqui”. Nota-se uma possível tentativa do falsificador de convencer seus leitores de que realmente era Paulo. Entretanto, fica clara a intenção do autor de enganar os leitores, pois, esta prática não era costume de Paulo como afirma o autor, nenhuma das cartas de Paulo termina assim. Talvez o falsificador esteja se referindo a 1ª Tessalonicenses quando orienta seus leitores a não serem desviados por uma “carta falsa” (“quer por uma carta, como se fosse de nossa parte”) que sustenta, em nome de Paulo, que o fim esta logo ali (“no sentido de que o dia de Jeová está aqui”). Ou seja, alguém vivendo depois da época de Paulo queria eliminar dos leitores a mensagem que o próprio Paulo transmitira em 1ª Tessalonicenses sobre o fim iminente visto que o fim não aconteceu e todos os demais daquela geração haviam morrido neste ínterim. Assim, alguém depois da época de Paulo decidiu que tinha de interferir em uma situação em que as pessoas esperavam ansiosamente um fim iminente com tanta expectativa que estavam negligenciando as obrigações do cotidiano (2ª Tessalonicenses 3:6-12).
Vamos analisar agora a carta aos Efésios. Embora superficialmente tal carta pareça soar como um escrito de Paulo, se cavarmos um pouco mais fundo surgirão grandes discrepâncias e diferenças. Efésios é uma carta escrita aos gentios (Efésios 3:2) para lembrá-los de que embora um dia tivessem sido alienados de Deus e de seu povo escolhido (no caso os judeus), eles foram reconciliados tornando-se justos perante Deus, pois a barreira que separava judeus e gentios (a lei judaica) tinha sido derrubada pela morte de Jesus Cristo dando a eles a possibilidade de viver em harmonia entre si debaixo da graça de Deus. Depois de apresentar esse conjunto de idéias teológicas nos primeiros três capítulos (especialmente no capítulo 2) o autor se volta para questões éticas e comportamentais que eles deveriam seguir manifestando a unidade em Cristo. As razões para pensar que Paulo não escreveu essa epístola são muitas. Podemos começar pelo estilo de redação. Paulo normalmente escreve com frases curtas e incisivas, mas as sentenças em Efésios são longas e complexas. Em grego, a declaração de abertura de ação de graças (Efésios 1:3-14) compõem uma única sentença com doze versículos. Não que eu tenha algo contra as sentenças extremamente longas em grego, só que não é o modo como Paulo escrevia. Nas 100 sentenças de Efésios cerca de nove tem mais de cinqüenta palavras de extensão. Compare isso com as cartas do próprio Paulo. Filipenses, por exemplo, tem 102 sentenças, com apenas 1 com mais de cinqüenta palavras. Gálatas têm 181 sentenças, mas com apenas 1 com mais de cinqüenta palavras. O livro também tem um numero incomum de palavras que não ocorre nos escritos de Paulo, são 166 no total, bem acima da média (em Filipenses que tem mais ou menos o mesmo tamanho de Efésios encontramos apenas 83 palavras que não ocorrem nos outros escritos de Paulo).
Outra razão para pensarmos que Paulo não escreveu Efésios são as contradições com as ideais encontradas em outras cartas de Paulo. Por exemplo, em Efésios como nas cartas autênticas de Paulo é ensinado que os crentes foram apartados de Deus por causa do pecado, mas que foram feitos justos perante Deus exclusivamente por meio de sua graça, não como resultado de obras. Mas aqui, estranhamente, Paulo se inclui como alguém que antes de chegar a Cristo foi desviado pelos desejos de nossa carne, satisfazendo a vontade da carne e seus impulsos: “Sim, todos nós nos comportávamos outrora entre eles em harmonia com os desejos de nossa carne, fazendo as coisas da vontade da carne e dos pensamentos, e éramos por natureza filhos do furor, assim como os demais” - (Efésios 2:3). Isso não se parece com o Paulo das outras cartas onde ele diz ter sido irrepreensível quanto a justiça que há na lei: “com respeito ao zelo, perseguindo a congregação; com respeito à justiça que é por meio de lei, um que se mostrou inculpe” - (Filipenses 3:6). Além disso, este autor indica que os crentes já foram salvos pela graça de Deus, o verbo “salvar” nas cartas consideradas autenticas de Paulo sempre é usado para se referir ao futuro, não é algo que as pessoas já tenham, antes algo que irão ter quando Jesus retornar nas nuvens. Paulo fala em suas cartas que os cristãos batizados tinham morrido para os poderes deste mundo, tinham “morrido” com Cristo, mas não tinham sido elevados com Cristo, isso ocorreria no fim dos tempos por ocasião do segundo advento. Ele era extremamente insistente neste tema de que a ressurreição física dos crentes ocorreria no futuro, não algo que já houvesse ocorrido. Paulo dedica o capítulo quinze de 1ª Corintios inteiramente para mostrar que os cristãos ainda não tinham sido erguidos com Cristo. Entretanto, em Efésios ele afirma algo que contradiz totalmente isso: “vivificou-nos junto com o Cristo, mesmo quando estávamos mortos nas falhas — por benignidade imerecida é que fostes salvos — e ele nos levantou junto e nos assentou junto nos lugares celestiais, em união com Cristo Jesus” (Efésios 2:5-6). Segundo o autor os crentes já experimentavam uma ressurreição espiritual e desfrutavam de uma existência celestial naquela época. Ao que parece, esse livro foi escrito por um cristão posterior querendo lidar com algumas questões em sua época e alegou ser Paulo para dar autoridade a sua palavra.
Com respeito à carta de Colossenses, as razões para crer que o livro não foi escrito por Paulo são em grande parte as mesmas de Efésios. Colossenses tem tantas palavras e frases também encontradas em Efésios que alguns estudiosos acreditam que quem falsificou Efésios usou Colossenses como uma das fontes para ver o modo como Paulo escrevia, mal sabia ele que sua fonte também era uma falsificação. Em geral, o conteúdo teológico e o estilo de redação são muito diferentes das outras cartas de Paulo. De longe o mais convincente estudo do estilo de redação de Colossenses foi feito pelo acadêmico alemão Walter Bujard há cerca de quarenta anos. Bujard analisou todos os tipos de traços estilísticos da epístola como o tipo e a freqüência das conjunções, infinitivos, particípios, orações subordinadas, seqüências de genitivos e uma série de outros elementos. Ele se interessou, sobretudo por comparar Colossenses com cartas de Paulo de tamanho similar como Gálatas, Filipenses e 1ª Tessalonicenses. A diferenças entre essa carta e os escritos de Paulo são enormes e convincentes. Por exemplo, a freqüência com que a epístola usa conjunções adversativas como “embora” (são 8 vezes em Colossenses) é muito menor do que em outras cartas de Paulo (em Gálata são 84 vezes, em Filipenses são 52 vezes, em 1ª Tessalonicenses são 29). A freqüência com que a epístola usa conjunções casuais como “porque” (são 9 vezes em Colossenses) é muito menor do que em outras cartas de Paulo (em Gálatas são 45, em Filipenses são 20, em 1ª Tessalonicenses são 31). A freqüência com que a epístola usa uma conjunção como “por exemplo”, “que” e “como” para introduzir uma declaração (são 3 vezes em Colossenses) é muito menor do que em outras cartas de Paulo (em Gálatas são 20, em Filipenses são 19, em 1ª Tessalonicenses são 11). A lista continua por muitas páginas examinando todo tipo de informação, com inúmeras considerações, todas apontando na mesma direção, tal carta não foi escrita por Paulo. O conteúdo também está em contradição com o que Paulo expressava em suas cartas autênticas, mas é coerente com Efésios. Portanto, temos aqui mais um caso de um seguidor posterior que estava preocupado em abordar uma situação em sua própria época e o fez assumindo o nome de Paulo.
“Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação”.
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TJCalado
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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Ou seja, alguém vivendo depois da época de Paulo queria eliminar dos leitores a mensagem que o próprio Paulo transmitira em 1ª Tessalonicenses sobre o fim iminente visto que o fim não aconteceu e todos os demais daquela geração haviam morrido neste ínterim. Assim, alguém depois da época de Paulo decidiu que tinha de interferir em uma situação em que as pessoas esperavam ansiosamente um fim iminente com tanta expectativa que estavam negligenciando as obrigações do cotidiano (2ª Tessalonicenses 3:6-12).
Huuumm! Já vi isso em algum lugar...
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Lord Vader
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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Sinceramente Apocalipse, o fato de vários livros ou cartas serem escritos em estilos diferentes não evidencia necessariamente vários autores diferentes. Eu não sinto muita firmeza nessa linha de raciocínio, que aliás, é usado também para desacreditar o livro de Isaías e o Pentateuco, onde também alguns afirmam terem estes livros autores diferentes, e não só o comumente conhecido.
Mas por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, “Paraíso Perdido”, num estilo bem diferente do seu poema “L’Allegro”. E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo. Será que a obra dele dele é produto de diversos escritores?
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SilvaRV
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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Lord Vader escreveu:Sinceramente Apocalipse, o fato de vários livros ou cartas serem escritos em estilos diferentes não evidencia necessariamente vários autores diferentes. Eu não sinto muita firmeza nessa linha de raciocínio, que aliás, é usado também para desacreditar o livro de Isaías e o Pentateuco, onde também alguns afirmam terem estes livros autores diferentes, e não só o comumente conhecido.
Mas por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, “Paraíso Perdido”, num estilo bem diferente do seu poema “L’Allegro”. E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo. Será que a obra dele dele é produto de diversos escritores?
E os heterônimos de Fernando Pessoa?! Dá um baile nessa teoria. Mas o raciocínio é interessante e o questionamento é válido.
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

Mensagem não lida por hibridizado »

AA como já te falei várias vezes, admiro demais teus textos e pesquisas. Podemos discordar, mas sem duvida nenhuma é um grande mérito pessoal em meio a tantos CTRL+C CTRL+V os textos que escreves.
Mas é que lá em cima
Lá na beira da piscina,
Olhando simples mortais,
Das alturas fazem escrituras
E não me perguntam se é pouco ou demais.
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TJCalado
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

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SilvaRV escreveu:
Lord Vader escreveu:Sinceramente Apocalipse, o fato de vários livros ou cartas serem escritos em estilos diferentes não evidencia necessariamente vários autores diferentes. Eu não sinto muita firmeza nessa linha de raciocínio, que aliás, é usado também para desacreditar o livro de Isaías e o Pentateuco, onde também alguns afirmam terem estes livros autores diferentes, e não só o comumente conhecido.
Mas por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, “Paraíso Perdido”, num estilo bem diferente do seu poema “L’Allegro”. E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo. Será que a obra dele dele é produto de diversos escritores?
E os heterônimos de Fernando Pessoa?! Dá um baile nessa teoria. Mas o raciocínio é interessante e o questionamento é válido.
Não entendo de literatura, mas Paulo não era escritor (no sentido profissional da palavra) e, supostamente, o que escrevia não era ficção, nem poemas. Seus textos são simplesmente cartas. Logo, não seria de esperar um estilo único de escrever, como o de uma pessoa comum?
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Alexei Karamazov
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

Mensagem não lida por Alexei Karamazov »

O estudo das cartas de Paulo me demonstram uma teoria simples: de que ele é o grande responsável pela estrutura normativa do cristianismo primitivo.
Jesus não estruturou um conjunto de conceitos, normas de conduta. Em seus discursos não há sistematização, organização, nada que indique uma crença estruturada, como em Paulo.
Por outro lado, nas cartas de Paulo há todo um conjunto de instruções sobre como fazer, quando fazer, como delegar, como fiscalizar, como controlar. Ele é o organizador, por excelência, do cristianismo, e isso foi feito estritamente à semelhança com o judaísmo. Afinal, Paulo foi educado aos pés de Gamaliel, e era um homem de leis, um jurista de seus dias. Pelo visto, conhecia de direito judaico e romano, diante de suas relações com o Império e sua prisão.
O cristianismo haveria de ser algo libertador, mas com Paulo, tornou-se mais um dos sistemas normativos que aprisiona o homem em fronteiras morais bem estritas, em limites bem definidos: "faça isto, não faça aquilo, você será punido, você será abençoado".
Minha conclusão: apesar de toda a beleza libertária das palavras de Jesus de Nazaré, o cristianismo pauliano é um conjunto de rituais de conduta perfunctória, incapaz de ajudar o homem a elevar seu espírito a Deus, pois se torna um fim em si mesmo, e não um meio de elevação espiritual.
Tú que consideras al hombre tanto dios como oveja—,
desgarrar al dios en el hombre como a la oveja en el hombre
y desgarrando reír— ¡ésa, ésa es tu felicidad!
Ditirambos Dionisíacos - F.Nietzsche
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SilvaRV
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

Mensagem não lida por SilvaRV »

TJCalado escreveu:
SilvaRV escreveu:
Lord Vader escreveu:Sinceramente Apocalipse, o fato de vários livros ou cartas serem escritos em estilos diferentes não evidencia necessariamente vários autores diferentes. Eu não sinto muita firmeza nessa linha de raciocínio, que aliás, é usado também para desacreditar o livro de Isaías e o Pentateuco, onde também alguns afirmam terem estes livros autores diferentes, e não só o comumente conhecido.
Mas por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, “Paraíso Perdido”, num estilo bem diferente do seu poema “L’Allegro”. E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo. Será que a obra dele dele é produto de diversos escritores?
E os heterônimos de Fernando Pessoa?! Dá um baile nessa teoria. Mas o raciocínio é interessante e o questionamento é válido.
Não entendo de literatura, mas Paulo não era escritor (no sentido profissional da palavra) e, supostamente, o que escrevia não era ficção, nem poemas. Seus textos são simplesmente cartas. Logo, não seria de esperar um estilo único de escrever, como o de uma pessoa comum?
Principalmente em se tratando de cartas inspiradas por deus neh?! ohhh wait!!!
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Presto
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

Mensagem não lida por Presto »

SilvaRV escreveu:
TJCalado escreveu:
SilvaRV escreveu:
Lord Vader escreveu:Sinceramente Apocalipse, o fato de vários livros ou cartas serem escritos em estilos diferentes não evidencia necessariamente vários autores diferentes. Eu não sinto muita firmeza nessa linha de raciocínio, que aliás, é usado também para desacreditar o livro de Isaías e o Pentateuco, onde também alguns afirmam terem estes livros autores diferentes, e não só o comumente conhecido.
Mas por exemplo, o poeta inglês John Milton escreveu seu grandioso poema épico, “Paraíso Perdido”, num estilo bem diferente do seu poema “L’Allegro”. E seus tratados políticos foram escritos em mais outro estilo. Será que a obra dele dele é produto de diversos escritores?
E os heterônimos de Fernando Pessoa?! Dá um baile nessa teoria. Mas o raciocínio é interessante e o questionamento é válido.
Não entendo de literatura, mas Paulo não era escritor (no sentido profissional da palavra) e, supostamente, o que escrevia não era ficção, nem poemas. Seus textos são simplesmente cartas. Logo, não seria de esperar um estilo único de escrever, como o de uma pessoa comum?
Principalmente em se tratando de cartas inspiradas por deus neh?! ohhh wait!!!
É evidente a mudação de ritmos e floreios nas diversas cartas que o ex-saulo de tarso exterminador do futuro, exercia na suas horas vagas sentado no troninho. Por exemplo no ano 50 d.c. ele escrevia com letras de forma, depois que ele ganhou uma TV 14 polegadas de pedro, Paulo começou a assistir telecurso 2000. Assim sua escrita evoluiu graças ao espirito belzebudico de YH#%@JRtchatcha. Depois que foi para Roma conheceu as tetudias de las putias. Assim com suas poesias conquistou as gentias, e conquistou diversas doenças venéreas nas décadas de grande trabalho na obra de YH#%@JRtchatcha.
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kooboo
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Re: Quem escreveu a bíblia? Uma análise das cartas de Paulo.

Mensagem não lida por kooboo »

Alexei Karamazov escreveu:O estudo das cartas de Paulo me demonstram uma teoria simples: de que ele é o grande responsável pela estrutura normativa do cristianismo primitivo.
Jesus não estruturou um conjunto de conceitos, normas de conduta. Em seus discursos não há sistematização, organização, nada que indique uma crença estruturada, como em Paulo.
Por outro lado, nas cartas de Paulo há todo um conjunto de instruções sobre como fazer, quando fazer, como delegar, como fiscalizar, como controlar. Ele é o organizador, por excelência, do cristianismo, e isso foi feito estritamente à semelhança com o judaísmo. Afinal, Paulo foi educado aos pés de Gamaliel, e era um homem de leis, um jurista de seus dias. Pelo visto, conhecia de direito judaico e romano, diante de suas relações com o Império e sua prisão.
O cristianismo haveria de ser algo libertador, mas com Paulo, tornou-se mais um dos sistemas normativos que aprisiona o homem em fronteiras morais bem estritas, em limites bem definidos: "faça isto, não faça aquilo, você será punido, você será abençoado".
Minha conclusão: apesar de toda a beleza libertária das palavras de Jesus de Nazaré, o cristianismo pauliano é um conjunto de rituais de conduta perfunctória, incapaz de ajudar o homem a elevar seu espírito a Deus, pois se torna um fim em si mesmo, e não um meio de elevação espiritual.
Concordo!
Paulo deu um toque judaico às palavras de Jesus. Complicou o que era simples.
[]'s
kooboo

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