Agora, a reflexão do escritor português José Saramago a respeito do assunto:(Mateus 8:28-34) . . .Quando chegou à outra margem, ao país dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois homens possessos de demônios, saindo dentre os túmulos memoriais, extremamente ferozes, de modo que ninguém tinha a coragem de passar por aquela estrada. 29 E eis que bradavam, dizendo: “Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo designado?” 30 Ora, bastante longe dali havia uma manada de muitos porcos pastando. 31 Os demônios começaram assim a suplicar-lhe, dizendo: “Se nos expulsares, envia-nos para a manada de porcos.” 32 Concordemente, ele lhes disse: “Ide!” Eles saíram e passaram para os porcos; e eis que toda a manada se precipitou despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, e morreu nas águas. 33 Mas os porqueiros fugiram, e, entrando na cidade, relataram tudo, inclusive o caso dos homens possessos de demônios. 34 E eis que toda a cidade saiu e veio ao encontro de Jesus; e, tendo-o visto, instaram muito com ele para que saísse dos seus distritos.
Fonte: SARAMAGO, José. A viagem do elefante. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, página 71.José Saramago escreveu:Não percebo por que tinham esses porcos que morrer, está bem que jesus tenha feito o milagre de expulsar os espíritos imundos do corpo do geraseno, mas consentir que eles entrassem nuns pobres porcos que nada tinham que ver com o caso, nunca me pareceu uma boa maneira de acabar o trabalho, tanto mais que, sendo os demónios imortais, porque se não o fossem deus ter-lhes-ia acabado com a raça logo à nascença, o que eu quero dizer é que antes que os porcos tivessem caído à água já os demónios se haviam escapado, em minha opinião jesus não pensou bem (...).
Tudo bem. Sabemos que os porcos eram mal-vistos pelos judeus. Simbolicamente, portanto, há uma associação no relato entre a impureza dos porcos e a impureza dos demônios. Tal explicação me parece plausível se nos ativermos a seu caráter mitológico. Mas se pensarmos que tal "milagre" ocorreu literalmente, é de se pensar realmente sobre a utilidade do que Jesus fez: lançar ao mar uma multidão de porcos, deixando no prejuízo os seus donos, para no fim sequer matar os demônios?
Da série contradições bíblicas.
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