Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

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Saran
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Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

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Em termos geria, tudo na vida gira em torno de Linguagem, seja ela verbal ou não-verbal. Dentre esse tudo está a Religião.

O que vai ser acrescentado aqui pode ser aplicado a praticamente todo tipo de religião, inclusive a Torre de Vigia.

Vamos a bagaça.

SEDUÇÃO: O emissor do discurso tece imagem positiva dos receptores, com a finalidade de induzi-los a aceitar determinada proposta. O pregador cristão dirige-se aos ouvintes descrevendo sua condição privilegiada enquanto membros da grei eterna. Foram escolhidos pelo misterioso desígnio da divindade, a qual lhes concede importantes privilégios. A obrigação de obedecer à vontade divina e a missão de arriscar a vida pela palavra sagrada são apresentadas como sinais de predileção celestial.

PROVOCAÇÃO: Dessa vez, o emissor do discurso tece imagem negativa dos receptores a fim de induzi-los a aceitarem determinado plano. Os fiéis são apresentados ao modelo indesejável de conduta ou confrontados com a descrição deficitária de si mesmos a fim de motivarem-se a mudar para melhor.

TENTAÇÃO: Aqui, o emissor apresenta os ganhos a serem obtidos pelos receptores caso aceitem sua mensagem. Ao fiel é sugerida a visualização da realização dos sonhos, desejos, anseios pessoais. Tudo isso pode se tornar tangível mediante a adesão às propostas do profeta, conhecedor dos caminhos divinos e dispenseiro das chaves que abrem os tesouros eternos.

INTIMIDAÇÃO: Essa estratégia consiste praticamente no apelo à força, pois as consequências negativas da eventual rejeição dos receptores são antecipadas: a perda da vida eterna, o castigo e o sofrimento impostos aos inimigos de “Deus”.

VOCATIVOS: Vocativos. O uso de vocativos reforça a relação de subserviência dos discípulos em relação aos mestres: “Senhor”; “Caros irmãos e irmãs em Cristo”; “ó mestre”, “meu eleito” e outros.

IMPERATIVOS:O recurso aos imperativos incrementa o tom doutrinador do discurso, pois estes indicam explicitamente os deveres a cumprir ou as situações a evitar.

METAFORAS:Muitos pastores tendem a associar homilética à poesia. Pelo fato de a linguagem teológica parecer o mais das vezes inacessível aos simples, o orador religioso se mostrará preferencialmente hábil com as figuras de linguagem. Karl Rahner advertiu os colegas presbíteros a mesclarem o conhecimento teológico à visão imaginativa dos poetas, enquanto o biblicista estadunidense Walter Brueggemann sugeriu ser o ofício da pregação cristã “uma construção poética de um mundo alternativo”. Essas observações mostram o quanto o pregador religioso tende a ser hoje considerado “contador de histórias”, o qual encontra na metáfora o mais pungente recurso. Metáforas, analogias e pequenas histórias reforçam a relação paternalista entre pregadores e fiéis, terreno em que o raciocínio lógico é minimizado, cedendo lugar ao processo de infantilização dos ouvintes.

CITAÇÕES: Alguns oradores costumam fazer uso de citações nas línguas clássicas ou idiomas antigos, principalmente latim e grego, seguidos de longas e exaustivas explicações do sentido original das mesmas, a fim de conferir maior apelo de tradição ao conteúdo comunicado. Esse recurso também aumenta a impressão no ouvinte de estar diante de respeitável erudito, cujo conhecimento ultrapassa em muito o nível do cidadão comum. O efeito resultante é a maior reverência dos fiéis ao sábio intérprete da tradição.

PERFOMATIVAS: A linguagem religiosa vem sempre revestida da autoridade do poder divino, e estabelece assimetria em relação aos ouvintes. A ilusão da possibilidade de diálogo entre o plano divino e humano se dá mediante o emprego de performativos– verbos ou expressões cujo dizer já implica fazer.

REFRÕES: A utilização do refrão–frase repetida a intervalos regulares dentro do discurso maior–é utilizada por alguns oradores religiosos como meio de inculcar nos fiéis determinada mensagem. A interpolação de canções dentro do sermão ou conferência religiosa pode facilitar a acentuação da mensagem, aumentando o efeito hipnótico e emocional.

EVOCAÇÕES: A intertextualidade característica do discurso religioso o transforma numa contínua evocação de ideias e personalidades ancestrais. Muitos pregadores iniciam discursos invocando a proteção ou autoridade de algum santo ou figura de relevo dentro da tradição eclesiástica. Importa não perder de vista o fato de, explícita ou implicitamente, todo discurso doutrinante abrir campo ao acoplamento de consciências afínicas (guias amauróticos e plateias parapsicóticas). Há pregadores invocando a si próprios quando, inconscientemente, são antepassados de si mesmos, isto é, estudam e repetem doutrinas e sermões criados por eles mesmos em vidas pretéritas.

APELO A AUTORIDADE: Esta falácia consiste na tentativa de fundamentar o argumento não na coerência e consistência racional das premissas, mas na declaração de alguma autoridade do presente ou do passado. Textos teológicos e sermões podem apresentar esse tipo de ilogicidade em cascata, devido ao caráter intertextual dos discursos religiosos–uma autoridade remete a outra, e esta remete à outra.

APELO A TRADIÇÃO: Essa falácia, também conhecida sob o nome Ad antiquitatem, identifica o valor de verdade da ideia ou proposição à antiguidade ou permanência desta no tempo. Algo é considerado verdadeiro porque “sempre foi feito assim” ou vem sendo repetido há milênios, séculos, décadas. É raciocínio indutivo e pressupõe a repetição ad infinitum da fórmula considerada certa no passado.

APELO AO MEDO: Também chamada de apelo à força ou Argumentum ad baculum, essa falácia consiste no exercício da coerção sobre os fiéis, a fim de se obter o assentimento deles às ideias propostas. A consequência é o abandono deliberado da racionalidade e a instauração da repressão e violência.

FALSO DILEMA: Esse vício argumentativo consiste na redução da solução de questão complexa a um número limitado de alternativas, geralmente induzindo tendenciosamente o interlocutor a escolher apenas uma delas como verdadeira. O falso dilema é também conhecido como falácia do ultimato. Dentro do discurso religioso, essa falácia é o modo de expressão mais frequente do pensamento de fundo maniqueísta, enquanto dicotomiza o mundo em bons e maus, santos e pecadores

ARGUMENTO CIRCULAR: Também conhecido sob a expressão petição de princípio, esse raciocínio vicioso consiste em tomar a conclusão do argumento reescrevendo-a também como premissa, isto é, ao se buscar explicitar o porquê da conclusão, se repete a mesma ideia, ao modo de alguém andando em círculos. Essa falácia povoa grande número de debates religiosos e, no contexto brasileiro, é usada por milhões de devotos para dar fundamento à Bibliolatria. Entre os casos mais frequentes está a tentativa infrutífera do fiel tentando justificar a razão pela qual a Bíblia seria a palavra de “Deus”: “Porque, segundo o que está escrito na Segunda Epístola a Timóteo 3:16, o apóstolo afirma . . .” Como a Epístola a Timóteo é livro bíblico, o devoto está, na verdade, dizendo: a Bíblia é a palavra de Deus porque assim está escrito na palavra de Deus.

APELO A EMOÇÃO: Essa falácia ocorre quando o mensageiro se vale da linguagem emotiva no intuito de influenciar as emoções da plateia em direção favorável ou contrária às informações ou opiniões comunicadas no momento.

FALACIA DA ESPERANÇA: Conhecida também pela expressão inglesa wishful thinking, essa falácia consiste em pressupor que se a ideia é muito desejável, agradável e consoladora, deve então necessariamente ser verdadeira, enquanto algo ruim e indesejável passa a ser considerado falso. Em outras palavras, a falácia da esperança é o pensamento mágico, um dos principais ingredientes do misticismo. Grosso modo, todas as construções teológicas e interpretações religiosas dos fatos não passam de falácias da esperança, pois consistem em idealizações construídas para dar à consciência a sensação de segurança ante as perguntas ainda não respondidas e as realidades desconhecidas ou omitidas quanto ao funcionamento do Cosmo. As ideias de paraíso, salvador, reino de deus, a existência de um pai no céu, a pressuposição de única vida ou série existencial, depois da qual viriam o prêmio ou castigo eternos são todas falácias da esperança–a vida parece ficar mais fácil e previsível quando se tem essas crenças, pois todos os caminhos estariam já demarcados e a verdade dada, bastando à consciência seguir as fórmulas de algum livro sagrado para chegar à plenitude.

FONTE: Onde Termina a Religião, de Marcelo da Luz.
OCUPAR e RECONSTRUIR o Fórum...

E BANIR os:
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- Propagadores de Fake News
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Daenerys
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por Daenerys »

d:4 d:4

Excelente tópico!
O estudo da linguagem e da psicologia são fundamentais para compreender como as religiões e qualquer outro grupo controla a mente dos seus seguidores.
A linguagem é usada de forma a persuadir a pessoa a agir de determinada maneira, ou a não agir.
Além dos inúmeros exemplos da torre, que todos conhecemos, isso pode ser observado nos vídeos em que os pastores pedem dinheiro aos fiéis.
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Absinto
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por Absinto »

Tópico riquíssimo! Sempre digo que para nos defendermos das investidas retóricas de qualquer pessoa ou grupo, devemos conhecer as armas ou táticas utilizadas, até para não cedermos às tentações, intimidações ou sentimentos de culpa que a muitos enlaçam e nos libertarmos de crenças limitantes arraigadas em nossas mentes.
Parabéns!
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Agoraesclarecido
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por Agoraesclarecido »

Excepcional Saran! Sem mais palavras!
d:4 d:4 d:4 d:4
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marknoumair
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por marknoumair »

d:7 d:7 d:7
"Foi então que comecei a dar-me conta de que boa parte de tudo aquilo em que havia baseada toda a minha vida era somente isso: um mito insistente, persuasivo e irreal."
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MrsPuppet
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por MrsPuppet »

Muito bom texto, diz tudo!
d:4
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Saran
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Re: Discurso Religioso : Falacias e Retóricas Empregadas.

Mensagem não lida por Saran »

Saran escreveu: 21 Abr 2020 16:01 Em termos geria, tudo na vida gira em torno de Linguagem, seja ela verbal ou não-verbal. Dentre esse tudo está a Religião.

O que vai ser acrescentado aqui pode ser aplicado a praticamente todo tipo de religião, inclusive a Torre de Vigia.

Vamos a bagaça.

SEDUÇÃO: O emissor do discurso tece imagem positiva dos receptores, com a finalidade de induzi-los a aceitar determinada proposta. O pregador cristão dirige-se aos ouvintes descrevendo sua condição privilegiada enquanto membros da grei eterna. Foram escolhidos pelo misterioso desígnio da divindade, a qual lhes concede importantes privilégios. A obrigação de obedecer à vontade divina e a missão de arriscar a vida pela palavra sagrada são apresentadas como sinais de predileção celestial.

PROVOCAÇÃO: Dessa vez, o emissor do discurso tece imagem negativa dos receptores a fim de induzi-los a aceitarem determinado plano. Os fiéis são apresentados ao modelo indesejável de conduta ou confrontados com a descrição deficitária de si mesmos a fim de motivarem-se a mudar para melhor.

TENTAÇÃO: Aqui, o emissor apresenta os ganhos a serem obtidos pelos receptores caso aceitem sua mensagem. Ao fiel é sugerida a visualização da realização dos sonhos, desejos, anseios pessoais. Tudo isso pode se tornar tangível mediante a adesão às propostas do profeta, conhecedor dos caminhos divinos e dispenseiro das chaves que abrem os tesouros eternos.

INTIMIDAÇÃO: Essa estratégia consiste praticamente no apelo à força, pois as consequências negativas da eventual rejeição dos receptores são antecipadas: a perda da vida eterna, o castigo e o sofrimento impostos aos inimigos de “Deus”.

VOCATIVOS: Vocativos. O uso de vocativos reforça a relação de subserviência dos discípulos em relação aos mestres: “Senhor”; “Caros irmãos e irmãs em Cristo”; “ó mestre”, “meu eleito” e outros.

IMPERATIVOS:O recurso aos imperativos incrementa o tom doutrinador do discurso, pois estes indicam explicitamente os deveres a cumprir ou as situações a evitar.

METAFORAS:Muitos pastores tendem a associar homilética à poesia. Pelo fato de a linguagem teológica parecer o mais das vezes inacessível aos simples, o orador religioso se mostrará preferencialmente hábil com as figuras de linguagem. Karl Rahner advertiu os colegas presbíteros a mesclarem o conhecimento teológico à visão imaginativa dos poetas, enquanto o biblicista estadunidense Walter Brueggemann sugeriu ser o ofício da pregação cristã “uma construção poética de um mundo alternativo”. Essas observações mostram o quanto o pregador religioso tende a ser hoje considerado “contador de histórias”, o qual encontra na metáfora o mais pungente recurso. Metáforas, analogias e pequenas histórias reforçam a relação paternalista entre pregadores e fiéis, terreno em que o raciocínio lógico é minimizado, cedendo lugar ao processo de infantilização dos ouvintes.

CITAÇÕES: Alguns oradores costumam fazer uso de citações nas línguas clássicas ou idiomas antigos, principalmente latim e grego, seguidos de longas e exaustivas explicações do sentido original das mesmas, a fim de conferir maior apelo de tradição ao conteúdo comunicado. Esse recurso também aumenta a impressão no ouvinte de estar diante de respeitável erudito, cujo conhecimento ultrapassa em muito o nível do cidadão comum. O efeito resultante é a maior reverência dos fiéis ao sábio intérprete da tradição.

PERFOMATIVAS: A linguagem religiosa vem sempre revestida da autoridade do poder divino, e estabelece assimetria em relação aos ouvintes. A ilusão da possibilidade de diálogo entre o plano divino e humano se dá mediante o emprego de performativos– verbos ou expressões cujo dizer já implica fazer.

REFRÕES: A utilização do refrão–frase repetida a intervalos regulares dentro do discurso maior–é utilizada por alguns oradores religiosos como meio de inculcar nos fiéis determinada mensagem. A interpolação de canções dentro do sermão ou conferência religiosa pode facilitar a acentuação da mensagem, aumentando o efeito hipnótico e emocional.

EVOCAÇÕES: A intertextualidade característica do discurso religioso o transforma numa contínua evocação de ideias e personalidades ancestrais. Muitos pregadores iniciam discursos invocando a proteção ou autoridade de algum santo ou figura de relevo dentro da tradição eclesiástica. Importa não perder de vista o fato de, explícita ou implicitamente, todo discurso doutrinante abrir campo ao acoplamento de consciências afínicas (guias amauróticos e plateias parapsicóticas). Há pregadores invocando a si próprios quando, inconscientemente, são antepassados de si mesmos, isto é, estudam e repetem doutrinas e sermões criados por eles mesmos em vidas pretéritas.

APELO A AUTORIDADE: Esta falácia consiste na tentativa de fundamentar o argumento não na coerência e consistência racional das premissas, mas na declaração de alguma autoridade do presente ou do passado. Textos teológicos e sermões podem apresentar esse tipo de ilogicidade em cascata, devido ao caráter intertextual dos discursos religiosos–uma autoridade remete a outra, e esta remete à outra.

APELO A TRADIÇÃO: Essa falácia, também conhecida sob o nome Ad antiquitatem, identifica o valor de verdade da ideia ou proposição à antiguidade ou permanência desta no tempo. Algo é considerado verdadeiro porque “sempre foi feito assim” ou vem sendo repetido há milênios, séculos, décadas. É raciocínio indutivo e pressupõe a repetição ad infinitum da fórmula considerada certa no passado.

APELO AO MEDO: Também chamada de apelo à força ou Argumentum ad baculum, essa falácia consiste no exercício da coerção sobre os fiéis, a fim de se obter o assentimento deles às ideias propostas. A consequência é o abandono deliberado da racionalidade e a instauração da repressão e violência.

FALSO DILEMA: Esse vício argumentativo consiste na redução da solução de questão complexa a um número limitado de alternativas, geralmente induzindo tendenciosamente o interlocutor a escolher apenas uma delas como verdadeira. O falso dilema é também conhecido como falácia do ultimato. Dentro do discurso religioso, essa falácia é o modo de expressão mais frequente do pensamento de fundo maniqueísta, enquanto dicotomiza o mundo em bons e maus, santos e pecadores

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APELO A EMOÇÃO: Essa falácia ocorre quando o mensageiro se vale da linguagem emotiva no intuito de influenciar as emoções da plateia em direção favorável ou contrária às informações ou opiniões comunicadas no momento.

FALACIA DA ESPERANÇA: Conhecida também pela expressão inglesa wishful thinking, essa falácia consiste em pressupor que se a ideia é muito desejável, agradável e consoladora, deve então necessariamente ser verdadeira, enquanto algo ruim e indesejável passa a ser considerado falso. Em outras palavras, a falácia da esperança é o pensamento mágico, um dos principais ingredientes do misticismo. Grosso modo, todas as construções teológicas e interpretações religiosas dos fatos não passam de falácias da esperança, pois consistem em idealizações construídas para dar à consciência a sensação de segurança ante as perguntas ainda não respondidas e as realidades desconhecidas ou omitidas quanto ao funcionamento do Cosmo. As ideias de paraíso, salvador, reino de deus, a existência de um pai no céu, a pressuposição de única vida ou série existencial, depois da qual viriam o prêmio ou castigo eternos são todas falácias da esperança–a vida parece ficar mais fácil e previsível quando se tem essas crenças, pois todos os caminhos estariam já demarcados e a verdade dada, bastando à consciência seguir as fórmulas de algum livro sagrado para chegar à plenitude.

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