A velha e famigerada "transfusão de sangue".

Tudo que se fala na mídia nacional e internacional sobre as Testemunhas de Jeová.
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TJCalado
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Jorge escreveu:No meu ponto de vista, a torre não quer ficar enfraquecida na sua doutrina do sangue. Mesmo que o medico transfunda sem o consentimento da vitima ou de seus familiares pelo menos para a torre, a pessoa lutou, fez de tudo em prol da doutrina e com isso ela (doutrina) se perpetua.
Na verdade simulou uma luta, não é? Definitivamente não "fez de tudo em prol da doutrina". A não ser que a "doutrina" seja um fim, e não um meio de se respeitar a santidade do sangue. Para respeitar a santidade do sangue, as Testemunhas de Jeová ao saberem que o médico irá, no final das contas, fazer a transfusão, deveriam evitar o procedimento. Deveriam ficar em casa. E a Torre de Vigia deveria reunir um grupo de médicos que garantissem a execução das cirurgias sem o elemento, mesmo que clandestinamente, como fazem quando a obra é proscrita. Afinal "“...temos de obedecer a Deus como governante, antes que aos homens”.
Perderam a coragem ou não acreditam mais no que pregam.
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Debora
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Interessante o comentário de Laura Capriglione.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/lau ... 08704.html

d:7 d:7 d:7

Embora correta, tem gravíssimas consequências potenciais a decisão desta semana da 6.ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que isentou de responsabilidade pela morte da menina Juliana Bonfim da Silva, de apenas 13 anos, os pais dela, que alegaram motivos religiosos para se opor à realização de uma transfusão sanguínea salvadora. Para o STJ, a responsabilidade pelo trágico desfecho foi exclusivamente dos médicos.
Testemunhas de Jeová, os pais de Juliana, o militar aposentado Hélio Vitória dos Santos e a dona de casa Ildelir Bonfim de Souza, moradores em São Vicente, litoral de São Paulo, internaram-na no Hospital São José em julho de 1993, durante uma crise causada pela anemia falciforme, doença genética, incurável e com altos índices de mortalidade, que afeta afrodescendentes. A menina tinha os vasos sanguíneos obstruídos e só poderia ser salva mediante a realização de uma transfusão de emergência.
Os médicos que atenderam Juliana explicaram a gravidade da situação e a necessidade da transfusão sanguínea, mas os pais foram irredutíveis. A mãe chegou a dizer que preferia ter a filha morta a vê-la receber a transfusão. A transfusão não foi feita. Fez-se a sua vontade.
As Testemunhas de Jeová baseiam-se na “Bíblia” para recusar o uso e consumo de sangue (humano ou animal). Entendem que esta proibição aparece em muitas passagens bíblicas, das quais as seguintes são apenas exemplos:
Gênesis 9:3-5
Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer.
Levítico 7:26, 27
E não deveis comer nenhum sangue em qualquer dos lugares em que morardes, quer seja de ave quer de animal. Toda alma que comer qualquer sangue, esta alma terá de ser decepada do seu povo.
Levítico 17:10, 11
Quanto a qualquer homem da casa de Israel ou algum residente forasteiro que reside no vosso meio, que comer qualquer espécie de sangue, eu certamente porei minha face contra a alma que comer o sangue, e deveras o deceparei dentre seu povo. Pois a alma da carne está no sangue, e eu mesmo o pus para vós sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas, porque é o sangue que faz expiação pela alma [nele].
Atos dos Apóstolos 15:19, 20
Por isso, a minha decisão é não afligir a esses das nações, que se voltam para Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das coisas poluídas por ídolos, e da fornicação, e do estrangulado, e do sangue.
Para o ministro Sebastião Reis Júnior, que votou na terça-feira (12/08), a oposição dos pais à transfusão não deveria ser levada em consideração pelos médicos, que deveriam ter feito o procedimento --mesmo que contra a vontade da família. Assim, a conduta dos pais não constituiu assassinato, já que não causou a morte da menina.
A decisão no STJ foi comemorada pelo advogado Alberto Zacharias Toron, que defendeu os pais da menina morta: “É um julgamento histórico porque reafirma a liberdade religiosa e a obrigação que os médicos têm com a vida. Os ministros entenderam que a vida é um bem maior, independente da questão religiosa”.
Então, quem é culpado pela morte da menina que poderia ter sido salva mediante a realização da transfusão? Resposta: os médicos, que ao respeitar a vontade dos pais, desrespeitaram o Código de Ética Médica (2009), claríssimo sobre o assunto:
“É vedado ao médico:
“Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.
“Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente”.
Isso posto, está claro que a decisão do STJ tem menos a ver com a afirmação do direito à liberdade de crença e muito mais a ver com a primazia do direito à vida sobre todos os demais. Assim, a mãe poderia até preferir ter a filha morta a vê-la passando por um processo de transfusão. Mas a Justiça brasileira, não! E o médico também não!
Agora, vamos aos problemas e aos perigos de uma tão incontrastável decisão, e que já aparecem nos fóruns de debates da internet, reunindo ex e atuais membros da religião das Testemunhas de Jeová.
-- Como em todas as religiões, há os sinceros e os “espertinhos”. Os “espertinhos” ficarão tranquilos por saberem que não serão excluídos do grupo religioso se passarem por uma transfusão. Bastará dizer que manifestaram a não-aceitação do procedimento, mas que os médicos fizeram-no contra a sua vontade. “A decisão salvaguarda a hipocrisia”, comentou um debatedor. “Os pais proíbem a transfusão para se eximirem da culpa; os médicos fazem o procedimento para se livrarem de processos e, assim, se condenam diante de Deus no lugar dos pais.”
-- Acontece que, para uso interno no grupo das Testemunhas de Jeová, a proibição da transfusão de sangue prosseguirá. Imagine uma mãe que, tendo preferido ver a filha morta caso a transfusão fosse feita, depois de alguns dias, a menina curada, possa levá-la para casa. Que tipo de tratamento essa mãe dará à filha “decepada de seu povo”? Como lidar com as consequências psicológicas adversas, que certamente acometerão as famílias testemunhas de Jeovás que, levando a sério a proibição, tiverem um de seus membros proscritos pela transfusão contra a vontade?
-- Para piorar, é razoável prever que muitas testemunhas de Jeová “sinceras” prefiram ficar distantes dos hospitais e médicos, por saberem que a transfusão será feita de qualquer jeito. Com isso, doenças que até poderiam ter tratamentos alternativos (sem o concurso da transfusão) ficarão sem quaisquer cuidados, prejudicando os enfermos e até antecipando-lhes a morte. “Isso sem contar os pais que, desesperados pela realização de um procedimento abominado por Deus, podem simplesmente vir a remover o filho do hospital às escondidas para livrá-lo da transfusão”, afirmou outro debatedor.
Todas essas questões apontam para dilemas que não são meramente individuais, mas dizem respeito à saúde pública. De acordo dados do Censo de 2010 do IBGE, existiam 1.393.208 Testemunhas de Jeová no Brasil, uma religião com crescimento consistente e positivo. Em 2013, foram feitos 26.329 batizados no país. No evento de 2013 da Comemoração da Morte de Cristo, a mais importante celebração religiosa do grupo, estiveram presentes 1.681.986 pessoas.
Agora, imagine boa parte dessa gente alijada de procedimentos médicos que salvam vidas e poupam sofrimentos. Que Deus é esse? (O GRIFO É MEU)
Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br
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TJCalado
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Parece que nossa discussão foi considerada pelo meios de comunicação.
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Alexei Karamazov
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Segue outro artigo sobre o mesmo tema:
http://nelcisgomes.jusbrasil.com.br/not ... newsletter
Tú que consideras al hombre tanto dios como oveja—,
desgarrar al dios en el hombre como a la oveja en el hombre
y desgarrando reír— ¡ésa, ésa es tu felicidad!
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Mexplica
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Só um comentário: acho a hipocrisia da organização TJ muito grande. Ela tem vários pesos e medidas em suas leis e doutrinas. Por exemplo, você deve morrer para não violar uma lei como a da transfusão sanguínea. Se colocarem sangue em você, você é severamente punido. Daí tem a lei deles de nem sequer cumprimentar os desassociados por exemplo, mas ela pode deixar de ser seguida se o assunto a se tratar com um desassociado for de âmbito comercial. Você pode usar os serviços de um desassociado, mas se você for mãe ou pai de um, tem que expulsá-lo de casa. Será que o CG pensa que se um desassociado pode beneficiar um TJ comercialmente ou financeiramente, daí ele pode cumprimentar ou conversar com ele? Não seria o caso de seguir essa como outras leis a ponto de dar a vida por isso? E a lei sobre mentir? Sobre língua falsa que profere mentiras e que deus detesta? Muita gente faz tudo isso e não é minimamente punido. Isso apenas para citar alguns exemplos. Me revolta quando leio sobre essas coisas, tamanha a decepção em minha vida de ver como a gente é levado cegamente por anos, por uma forma de adoração totalmente oportunista e parcial. Querem ser ditadores da fé de muitos.
O que é certo? O que é errado?

* O maior inimigo da verdade, é o medo de descobri-la. *
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Lord Vader
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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Debora escreveu: Os “espertinhos” ficarão tranquilos por saberem que não serão excluídos do grupo religioso se passarem por uma transfusão. Bastará dizer que manifestaram a não-aceitação do procedimento, mas que os médicos fizeram-no contra a sua vontade. “A decisão salvaguarda a hipocrisia”, comentou um debatedor...

“Isso sem contar os pais que, desesperados pela realização de um procedimento abominado por Deus, podem simplesmente vir a remover o filho do hospital às escondidas para livrá-lo da transfusão”, afirmou outro debatedor...

Uia!! Li esse artigo no site jusbrasil a 3 dias atrás, mas só agora lendo este tópico inteiro no fórum que vim a saber quem é o tal "debatedor" he he
"Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir" (Friedrich Nietzsche)
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Alexei Karamazov
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

Mensagem não lida por Alexei Karamazov »

Mais repercussão dessa decisão:
http://www.conjur.com.br/2014-ago-20/ju ... religiosas
Gostei da conclusão:
O Poder Público, portanto, tem a obrigação constitucional de garantir a plena liberdade religiosa daqueles que professam determinada fé, mas em face de sua laicidade, não pode ser subserviente, ou mesmo conivente com qualquer dogma ou princípio religioso que possa colocar em risco a efetividade dos direitos fundamentais, dentre eles, do inalienável direito a vida.

No HC 268.459/SP, a tensão entre a dupla proteção conferida pela consagração à liberdade religiosa é máxima, pois os pais não podem ser constrangidos a renunciar à sua própria fé, não podendo existir mandamento legal forçando-os a autorizar o procedimento contrário a seus dogmas religiosos, e, consequentemente, não podem ser responsabilizados criminalmente por sua conduta omissiva, uma vez que a Constituição Federal lhes garante sua opção religiosa; ao mesmo tempo em que o Estado, mantendo sua total liberdade de atuação em relação a esse dogma religioso, deve efetivar a proteção aos direitos fundamentais, determinando aos profissionais responsáveis pela saúde pública e privada a realização de todos os procedimentos necessários à preservação da vida, independentemente das convicções religiosas dos pais ou parentes daquele que necessita do tratamento médico. (Grifo acrescentado)
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adriana 2
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

Mensagem não lida por adriana 2 »

Quando a nova luz permitiu o uso de frações eu não renovei mais o meu cartão, mesmo meu marido sendo anciâo, me lembro de irmãos me perguntando quem seria a minha testemunha..achei uma falta de respeito por todos aqueles que morreram por que não aceitaram nenhuma gota..qdo meu marido precisou fazer uma cirurgia as pressas ..o medico disse que ele iria colocar o sangue ..eu disse tudo bem..
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Jorge
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

Mensagem não lida por Jorge »

adriana 2 escreveu:Quando a nova luz permitiu o uso de frações eu não renovei mais o meu cartão, mesmo meu marido sendo anciâo, me lembro de irmãos me perguntando quem seria a minha testemunha..achei uma falta de respeito por todos aqueles que morreram por que não aceitaram nenhuma gota..qdo meu marido precisou fazer uma cirurgia as pressas ..o medico disse que ele iria colocar o sangue ..eu disse tudo bem..
Agora tenho que confessar uma coisa: Eu fiquei anos sem preencher meu cartão, isso que era ancião! :lol: :lol:
  • Conhecereis a internet e a internet vos libertará.
. - Jorge
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Re: A velha e famigerada "transfusão de sangue".

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