Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Depoimentos de ex-testemunhas de Jeová, cartas de dissociação e depoimentos sobre a vida pós Torre de Vigia. Aqui fala mais alto a sinceridade, o sentimento e muitas vezes os relatos nos impressionam pela falta de algo que mais as Testemunhas de Jeová dizem praticar: o amor ao próximo!
Fique a vontade para contar suas vivências
Cristóvão Colombo
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Cristóvão Colombo »

Obrigado Mentalista e Kooboo pelas palavras!
Embora eu tenha perdido minha familia direta confesso que pela minha criação nunca tive um "apego", e por isso não sofro muito. O problema maior, pelo menos no meu caso, é me sentir de mãos atadas diante do muro que nos impede de falar e agir.

Abraços!

C.C
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Jeferson Bento
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Jeferson Bento »

Foristas!

Dói descobrir que você foi enganado – que o que você pensava ser a “igreja verdadeira”, a “verdade”, era na realidade uma seita.
Dói quando você descobre que as pessoas em quem você confiava cegamente – a quem você foi ensinado a não questionar - estavam na verdade te “dando uma facada pelas costas” ainda que em ignorância.
Dói quando você descobre que aqueles que foram apresentados como “inimigos” estavam de fato falando a verdade – mas você foi ensinado que eles eram mentirosos, enganadores, repressivos, satânicos, etc e que você não deveria escutá-los.
Dói quando você sabe que a sua fé em Deus não mudou [quem sabe até aumentou] – apenas a sua confiança numa organização – e ainda assim você é acusado de apostasia, de ser um criador de problemas, um “Judas”. E dói ainda mais quando é a sua própria família e amigos que fazem essas acusações.
Dói ver que o amor e aceitação deles era condicional ao fato de você permanecer membro ativo da organização. Isso corta o coração tão profundamente que você tenta suprimir a dor. Tudo o que você quer é esquecer – mas como esquecer a sua própria família e amigos?
Dói ver os olhares de rancor e ódio vindo daqueles que você ama – escutar o silêncio ensurdecedor quando você tenta falar com eles. Dói profundamente quando você tenta abraçar um filho seu e eles ficam ali parados como uma estátua, fingindo que você não está ali. Dói profundamente quando você vê a sua esposa(o) olhar pra você como se você estivesse endemoniado e ensina os seus filhos a te odiarem.
Dói saber que você precisa começar tudo de novo. Você sente que perdeu tanto tempo! Você se sente traído, desiludido, suspeitando de todos inclusive da família, amigos e outros ex-membros da organização à qual você pertencia.
Dói quando você se pega sentindo culpa ou vergonha do que você era – inclusive de haver saído. Você se sente deprimido, confuso, sozinho. Você sente que é difícil tomar decisões. Você não sabe o que fazer com o tempo extra que você tem agora – ainda assim você se sente culpado por passar esse tempo em algo recreativo.
Dói quando você sente que perdeu o contato com a realidade. Você se sente como se estivesse “flutuando” e se pergunta se realmente você está melhor assim e sente falta da segurança que tinha em pertencer a uma organização – ainda assim você sabe que não pode voltar pra lá.
Dói quando você se sente sozinho – quando ninguém parece entender o que você está sentindo. Dói quando você se dá conta de que a sua autoconfiança já quase não existe.
Dói quando você vê que deixou tudo por esta seita – sua educação, carreira profissional, finanças, tempo e energia – e agora você tem que buscar outro emprego ou recomeçar a sua educação. Como explicar todos esses anos perdidos?
Dói porque você sabe que mesmo que você tenha sido enganado, você é responsável por ter se deixado enganar. Todo aquele tempo perdido… pelo menos isso é o que parece para você, tempo perdido.

A Dor da Perda
Abandonar uma seita/culto é como passar pela perda de um familiar ou amigo querido, ou romper um relacionamento. O sentimento pode ser descrito como uma traição feita por alguém por quem você estava apaixonado. Você se sente simplesmente usado.
Há um processo de luto pelo qual você precisa passar. Ainda que a maioria das pessoas entendam que alguém precisa estar de luto depois da morte de um ser querido, eles acham difícil entender que o mesmo se aplique a uma situação como esta. Não existe cura instantânea para o luto, confusão e dor. Como todo período de luto, só o tempo pode trazer cura.
Alguns se sentem culpados ou errados quanto a esse sentimento de luto. Não deveriam – é NORMAL. Não é errado se sentir confuso, inseguro, desiludido, culpado, com raiva, desconfiado – tudo isso faz parte do processo de cura. Com o tempo, os sentimentos negativos são trocados por sentimentos de paz, alegria, claridade de pensamento, confiança.
Sim, dói… mas as dores passarão com o tempo, paciência e compreensão. Existe vida depois da seita.

Fonte: http://www.celeiros.com.br/products/a-d ... uma-seita/ acessado em 30.07.2016

FORÇA CRISTÓVÃO COLOMBO
'Quem não sabe o que busca, não identifica o que acha' - Kant
Cristóvão Colombo
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Cristóvão Colombo »

Prezado Jeferson Bento ... Muito oportuna tua dissertação sobre a "dor" envolvida!!! ... na verdade cada palavra se aplica exatamente a nossa situação!
Também bastante interessante a equivalência da dor de quem deixa uma religião!!!... Também tenho esta esperança de que o "Tempo Amenize o desconforto".

Um grande abraço e grato por suas palavras!

C.C
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Debora
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Debora »

Meu caríssimo Cristóvão,

Fizemos uma escolha. Escolhemos encarar a verdade, escolhemos deixar de lado a hipocrisia, preferimos prestar contas a Deus e não a homens. Merecemos ser punidos por não sermos covardes ?

Sim. O vazio existe mesmo para pessoas que como eu estão fora da seita a décadas. É o vazio causado pelo pedaço da nossa vida que foi dilacerada sem nenhum pudor.

De positivo, fica a realidade de que muitas portas se abrem e embora não apaguem a cicatriz, pelo menos elas fecham a ferida.
Nestes momentos de agonia, não se isole, leia algo interessante, ouça músicas, veja um filme, passeie em um parque, respire profundamente o ar que generosamente recebemos independente de qualquer segmento religioso. Sorria para a vida porque ela é bela, principalmente para pessoas que se pautam pela coerência e sinceridade como você.

Sinta-se abraçado e querido. Beijos na esposa e no seu bebê.

Com carinho.
Dulci Rezende
Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br
Cristóvão Colombo
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Cristóvão Colombo »

Debora escreveu:Meu caríssimo Cristóvão,

Fizemos uma escolha. Escolhemos encarar a verdade, escolhemos deixar de lado a hipocrisia, preferimos prestar contas a Deus e não a homens. Merecemos ser punidos por não sermos covardes ?

Sim. O vazio existe mesmo para pessoas que como eu estão fora da seita a décadas. É o vazio causado pelo pedaço da nossa vida que foi dilacerada sem nenhum pudor.

De positivo, fica a realidade de que muitas portas se abrem e embora não apaguem a cicatriz, pelo menos elas fecham a ferida.
Nestes momentos de agonia, não se isole, leia algo interessante, ouça músicas, veja um filme, passeie em um parque, respire profundamente o ar que generosamente recebemos independente de qualquer segmento religioso. Sorria para a vida porque ela é bela, principalmente para pessoas que se pautam pela coerência e sinceridade como você.

Sinta-se abraçado e querido. Beijos na esposa e no seu bebê.

Com carinho.
Dulci Rezende
Obrigado pelas palavras Débora, como sempre Muito Gentil e Preocupada!!!
Me mande seu whatsapp por MP que vou te enviar fotos do meu pequeno que fez 4 meses!!!

Abração!!!

C.C
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LUCIUS
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por LUCIUS »

Senti isso também faz pouco tempo. Me deu uma angústia tremenda ao saber que um amigo havia largado, depois de formando em Eng. Mecânica, com um bom emprego para depois ser escravo do Porco Governante como PE(pioneiro especial). Este era uma das poucas TJ's brilhantes e verdadeiras, e imaginar que este estava deixando de fazer as suas próprias escolhas para viver como escravo(pioneiro especial) foi lamentável!

Depois, refletindo um pouco sobre o sentimento de impotência que temos ao nos deparar com o fato de que não vão nos escutar nem falar conosco, percebi que nada adianta em lutar diretamente contra isso. O Porco Governante, um dia, vai exigir que não se fale mais com quem está fraco espiritualmente, sob risco de contaminação! Não temos força para lutar contra isso, não diretamente.

E o que não pode mudar, tem que ser aceito. Tive que admitir isso para mim mesmo, e tive que admitir que eles, se um dia quiserem, com pouco tempo de pesquisa no Google, também acharão a verdade sobre "A verdade".

Então, para mim, o melhor a fazer é lutar indiretamente, mantendo os tópicos atualizados, dando um "up" em algum tópico antigo, pois indiretamente ajudamos muitas pessoas, todos os dias, que desconfiam de algo errado, mas sem saber ainda o quê, e que resolvem perder o medo do Porco Governante por uns minutos lendo este fórum. É ajudar tais pessoas que me faz esquecer dos velhos amigos e seguir em frente, sem culpa, remorso ou sentimento de impotência.

E quando os conhecidos TJs passam por mim, faço questão de olhar no olhos deles e dar um breve sorriso, para que vejam que quem está "fora" da Org. está bem e feliz! Abaixar a cabeça e nem olhar para tais é admitir que "reconheço a minha condição"(TJ bitolada acha que os ex-TJ's tem a obrigação de nem dirigir a palavra a eles, ou mesmo olhar!) E isso para mim é admitir a derrota, coisa que hoje não posso mais fazer.

Com tempo achará uma solução para sua tristeza. Enquanto isso, paciência, pois é uma daquelas fases de um ex-TJ! Um abraço e boa sorte!!!
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RAPUNZEL ENROLADA
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por RAPUNZEL ENROLADA »

Sou solidária neste tópico!
O sentimento que descreveu Cristóvão é o que sinto também! E o que o Jefferson Bento dissertou também traduz Esta dor que vez por outra vem nos assaltar. Dói mesmo! Principalmente pelo isolamento que advém disso!
A família te isola como bem disse a Débora sem pudor nenhum pois se vê fazendo a vontade de "Jeová", sendo leais e obedientes como manda as orientações do último Congresso! O ruim é que náo sou mais uma jovem e o tempo passa e a presença e comunicação com os filhos que você teve e criou faz muita falta! Dói essa falta de reconhecimento e carinho da parte deles!
O Mentalista também descreveu bem: ficamos reféns como se estivéssemos sobre a mira de uma arma! Náo tem muita saída, a náo ser alguns passatempos e atividades para amenizar uma dor que você sabe que sempre vai voltar quando você menos espera.
Ainda bem, que temos pessoas tão preciosas como vocês aqui para nos entender e consolar! Cristóvão, te desejo muitos momentos de alegria e felicidade com sua esposa e seu filho! E aos foristas deste tópico obrigada pelas palavras que são um alívio para esta dor tão teimosa!!!
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Gustavo Tower
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Gustavo Tower »

ValentineGebbran escreveu:
Gustavo, você não poderia estar mais errado. Geralmente não comento comentários alheios pq as opiniões são bem pessoais, mas sinto que esse teu comentário é tremendamente infeliz, parece até de um dos anciões que fez minha comissão.
ValentineGebbran escreveu: A sensação de impotência é contra a torre sim, é ver os amigos e familiares lá e NÃO PODER FAZER ABSOLUTAMENTE NADA
ValentineGebbran escreveu:Ainda assim não consigo simplesmente me desapegar porque me dói ver que eu não posso fazer nada pra abrir os olhos de quem ainda está lá.
ValentineGebbran escreveu: A grande perda é ficar aqui, duas horas da manhã, procurando consolo entre amigos que já viveram a doideira que é lá dentro.

Cara Valentina,

Entendo seu desabafo referente aos meus comentários, acho que fui muito direto ao ponto ao não levar em contas as nuances de cada caso daqueles que abandonam a Torre, ou são abandonados por ela.

A escolha errada – coloquei entre aspas de propósito – não se trata de uma escolha moral ou ética, pois no campo do ideal ao escolher entre a verdade e mentira, a verdade sempre será a escolha certa. No entanto, a escolha certa ideal nem sempre é a escolha certa no campo do “terreno”, real ou concreto.


Muito se diz sobre a depressão dos que lá ainda estão, e isso é verdade, mas também há depressão desse lado de cá, decorrentes sim do trauma, do abandono, da impotência. Quem garante que aquelas pessoas que lá ainda estão e não possuem um quadro de depressão, não acabariam desenvolvendo se saíssem de lá?

Será que essas pessoas ficariam melhores se descobrissem que tudo que viveram é em parte uma mentira? Será que essas pessoas que construíram uma vida lá, laços de amizade, laços familiares e muitos outros laços, seriam realmente mais felizes se saíssem de lá? Como mensura o impacto emocional da ruptura em cada pessoa? Será que não estaríamos destruindo vidas ao invés de libertá-las?

Bem, creio que são perguntas que devem ser levadas em consideração. E não estou dizendo que o trabalho da dissidência seja errado, mas que são questões que devem ser levadas por cada um que tenta tirar pessoas da Torre.

Talvez nossa impotência contra a Torre de certa forma possa ser benéfica. Creio que a vida fora da Torre não é para todos, assim como a vida lá dentro também não é.

Enfim, é mais ou menos o que quis dizer.
De qualquer forma não quero me alongar para não desvirtuar o tópico.
Torço para que você e aqueles que tomaram essa decisão tenha uma vida plena e feliz! :11

Um forte abraço!
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Gustavo Tower
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por Gustavo Tower »

Cristóvão Colombo escreveu: Prezado Gustavo ...
Respeito sua forma de pensar, embora como tenha dito em sua apresentação AINDA está dentro da Torre por questões familiares. Parece-me que tua idade e tuas circunstâncias ainda te permitem ficar nesta situação indefinida. Já no meu caso seria insuportável viver assim.
Cristóvão Colombo escreveu: Infelizmente esta é a atitude daqueles que não passaram ou passam literalmente pelo que nós desassociados passamos. É muito fácil simplesmente abafar nossos sentimentos e nos dizer que nossas decisões foram erradas.


Caro, Gustavo,

Na verdade, não tentei argumentar. Foi mais uma reflexão sobre o que você disse.

Eu sei que toda decisão difícil e dúbia produz dissonância cognitiva e como consequência um desconforto e uma argumentação para justiçar essa decisão e diminuir essa dissonância e desconforto.

De qualquer forma não quero me alongar para não desvirtuar o tópico.
Torço para que você e aqueles que tomaram essa decisão tenha uma vida plena e feliz! :11
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O investigador
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Re: Apesar da Liberdade, porquê as vezes me sinto triste?!

Mensagem não lida por O investigador »

Cristóvão, está fazendo um ano de minha desassociação. A gente tenta raciocinar com alguns, até com desassociados mas a maioria desses querem voltar porque não conhecem as falcatruas da Torre. Assim como era para nós, eles vivem uma ilusão. Não podem nem sequer imaginar que foram enganados todo esse tempo. O próprio Corpo Governante acredita no que eles pregam. Não vou dizer que não há nada de bom na Organização mas o fato de terem mentido pra nós e ostracizarem quem descobre suas mentiras pra mim é suficiente pra nunca mais voltar. Antes eu tentei preparar as reuniões e ler as publicações no site deles. Hoje não consigo mais fazer isso. Me contento em ler a bíblia sem ajuda deles. Claro que continuo por dentro das notícias mas não da pra vivermos só tentando acordar quem está hipnotizado pela Torre. Cada um responderá por si. Ainda bem que vc tem sua esposa como apoio e agora que é pai, curta esse momento. É o meu sonho ser pai também. Tenho certeza de que agora vc vai se sentir melhor. Viva para si mesmo e sua família agora. A Torre é passado. Um abraço
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