G. é o código da fala do ancião, e K. é o meu código. Enjoy:
Não sei se está pensando. Sua cabeça foi programada para me demonizar. Acho que me achou um caso perdido!G. - Pensou em voltar?
K. - Talvez... mas penso que se eu voltasse não me adaptaria. Quando se está fora, a gente vê mais e melhor: a Torre é outra, hoje, muito mais mecânica. As pessoas não pregam mais. Ficam como postes vivos ao lado de stands. O "escravo" agora é personalizado, em sete velhinhos mal letrados em matéria de humanidade. Eles têm poder demais. O que sempre me incomodou - e a você também - foi o abuso de poder, e isso está pior. As pessoas são tratadas como gado, e todo mundo está feliz, mesmo assim! Não acredito que fosse isso que Jesus queria para seus seguidores. "Conhecereis a verdade, e esta vos libertará". Essa "verdade" das TJs não faz ninguém livre, mas prende as pessoas numa instituição totalizante, alienadora, desestruturadora de famílias, escravizadora de mentes. Eu perdi 15 anos de minha vida, porque acreditei que seria bom se eu não estudasse, conforme me ensinavam. Perdi meus filhos por causa da alienação parental promovida pelo ensino da Torre sobre os desassociados. Fui enganado pela distorção de fatos históricos, pela invenção de doutrinas que não existem na Bíblia. Perdi contato com minha família por acreditar que as TJs seriam uma família. Vão engano. Você não sofreu com dinheiro - afinal, casou-se com uma mulher rica e fez carreira na empresa do seu sogro - mas pagou seu preço: ao priorizar sua carreira, sofreu muuuuuita pressão. Lembro-me ainda de outros: o M., por exemplo. Ficou doido, e chafurda num fanatismo místico. E você sabe de muitos outros que ficaram meio lesados.
G. - É...
K. - Como eu disse, a gente enxerga melhor de fora. Dentro da Torre o ambiente é pura opressão, depressão, escuridão... Muito suicídio, muito consumo de droga antidepressiva, de alcool. As pessoas vivem como zumbis. O pior é que todo mundo sabe disso e não muda nada. Diz que é o "mundo" e seu efeito. Ninguém consegue fazer nada para mudar...
G. - Mas e a "teocracia", não é boa?
K. - Aquilo é um regime inquisitorial, uma tirania. Quando a gente saía de um julgamento, em comissão judicativa, éramos todos como o Inquisidor Torquemada, não lembra? Aquilo é um procedimento arcaico, medieval, e as TJs acham aquilo normal! Quanta crueldade, quanto sadismo, quanta humilhação sob as unhas de anciãos tiranos e hipócritas. E a gente pensava que fazia a diferença... quanta ingenuidade! Não fazíamos diferença nenhuma. A fofoca das esposas dos anciãos se encarregava de piorar as coisas. E a Torre tem responsabilidade sobre todos os atos dessa corja de inquisidores e suas mulheres fofoqueiras...
G. - Mas...
k. - Toda organização se degenera, e isso fica mais evidente quando seu discurso se torna incoerente com sua prática. Não existe verdadeiro amor dentro da Torre. As famílias são divididas. Lembra quando morreu o desassociado J.C.? Ninguém foi ao enterro, mesmo sendo seus filhos tão "queridos" no Salão! Sua mulher me reclamou disso. Ser cristão é muito mais do que cumprir formalidades. E você, como anda? Não se incomoda mais com superintendentes que só cobram, que estorquem contribuições, "doações", e o escambau? Não se incomoda mais com fariseus? Como aguenta o pisca-pisca dos "novos entendimentos"? Como suporta o tratamento privilegiado aos betelitas, SCs, a bajulação aos membos do CG, com seus anéis de ouro em televisões e na internet? Como suporta a superficialidade do estudo da Bíblia? Você é inteligente... ou não se importa mais com essas coisas?
G. - Ainda me incomodam, mas aceito porque a organização é de Jeová. Toda organização tem problemas, mas Jeová é quem cuida.
K. - Sim. Pedofilia, por exemplo. Eu fui poupado, pois caí fora antes do escândalo se tornar público. Mandaram destruir provas, agora, para poupar a Torre e, por tabela, os abusadores. Ainda bem que não tive nada a ver com isso. Afinal, que diferença tem a Torre com Babilônia? Mórmons, Amishes, televangelistas, crentes, católicos, todos são "farinha do mesmo saco"?
G. - Hummm...
K. - Algumas coisas me incomodam muito: (1) a autorização para suborno com o fim de obter liberação do serviço militar no México, enquanto se proibe a assinatura de um cartão de alistamento eleitoral em países da África; (2) proibição do uso de barba aqui nos países do sul, quanto é liberada em países do Norte e outros mais desenvolvidos; (3) membros do betel de Brooklin que podem escolher em qual das ilhas nos paraísos do Pacífico quer pqassar as férias; (4) declarações de superioridade entre brancos e negros; (5) utilização de técnicas de lavagem cerebral; (6)
contribuições com cartões de crédito; (7) dispensa sumária de pioneiros despreparados para o mercado de trabalho.
G. - Existem coisas que precisam ser esqucidas e superadas. Outras, são avanços da modernidade...
K. - Sim, tudo muito moderno, tudo muito sofisticado... Um filme importante, que é livro também, é "1984", de Aldous Huxley. Descreve direitinho as formas modernas de controle ideológico utilizadas na Torre: inventa-se um inimigo, embora ninguém saiba onde ele está e de onde vem, e se põe todo mundo com medo, a combatê-lo. Nada disso é honesto. E sua filha, está se adaptadando bem ao regime?
G. - Ela ainda é novinha.
K. - Sei. Com certeza, se compara aos coleguinhas. E isso é só um germe.
G. - Mas enfim, pensou em voltar?
K. - Sim, pensei em voltar, mas acho que Deus quer de mim mais do que isso. Ele não quer que eu me submeta ao capricho de homens. São apenas americanos preconceituosos e obtusos, que se consideram representantes de Deus na Terra. As Escrituras nos oferecem uma possibilidade muito mais intensa do que o formalismo vazio superficial que as TJs pregam. Ser cristão é imitar a Cristo, e ele condenou totalmente os fariseus. Jesus não tem nada a ver com isso. E você, como tem lidado com essas contradições?
G. - Tenho de ir embora. Espero que repense isso tudo, e mude de ideia.
K. - Digo o mesmo!
Prefiro mil vezes estar do lado de multidões de prostitutas e cobradores de impostos do que do lado de um exército de fariseus.