O início e o fim

Depoimentos de ex-testemunhas de Jeová, cartas de dissociação e depoimentos sobre a vida pós Torre de Vigia. Aqui fala mais alto a sinceridade, o sentimento e muitas vezes os relatos nos impressionam pela falta de algo que mais as Testemunhas de Jeová dizem praticar: o amor ao próximo!
Fique a vontade para contar suas vivências
Avatar do usuário
agape
Forista
Forista
Mensagens: 834
Registrado em: 03 Dez 2012 15:52
Localização: São Paulo
Contato:

O início e o fim

Mensagem não lida por agape »

Toda história tem começo, meio e fim, sua história como TJ também. Digamos que aqui desconsideraremos boa parte do meio e gostaríamos de saber o que o levou a se tornar uma Testemunha de Jeová, em que estágio de sua vida se encontrava, como foi fisgado?

Se sua história teve um fim conte-nos como se iniciou esse fim e como ele culminou(desassociação, dissociação). Foi difícil pra você a partir de então?

Para aqueles que essa história ainda não teve um fim, poderia nos dizer se deseja que esse fim chegue, se tem planos pra ele, como as coisas serão a partir de agora que conhece a verdade sobre a "verdade".
Rafael

Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br.
Avatar do usuário
Kaarlo Luhtanen
Forista
Forista
Mensagens: 3015
Registrado em: 21 Mar 2014 22:04

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Kaarlo Luhtanen »

Eu estava decepcionado com a antiga religião à qual eu participava, aí fui em busca das TJs achando que essa era realmente a certa, me batizei iludido e por conta própria, já que só sou eu de TJ na minha família, achando que estava fazendo algo que beneficiaria o mundo inteiro, depois é que a gente vê que tudo isso não passa de ilusão, as falsas profecias, a doutrina do sangue, as doutrinas que vai e voltam como as proibições dos transplantes de orgãos e vacinas, os diversos casos de abusos sexuais e pedofilia, as desonestidades, as injustiças cometidas, as falsidades, as simonias, os merecimentos, as criticas ao Ensino Superior, a discriminação com ex-membros, enfim, ao monte de coisas absurdas que existem.

Descobri que na verdade não existe religião que preencha todos os requisitos ou que seja a certa, além do mais, todos os membros de qualquer religião acham e dizem isso. O que existe na verdade são pessoas sujeitas a certas crenças às quais estão presentes em algumas religiões e ela vai para aquela que mais se identifica. Mas religião verdadeira não existe e eu detesto todas, pra mim nenhuma presta, não passam de doutrinas criadas pelo homem e com seus próprios raciocínos humanos, é igual a uma ideia filosófica.
Avatar do usuário
agape
Forista
Forista
Mensagens: 834
Registrado em: 03 Dez 2012 15:52
Localização: São Paulo
Contato:

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por agape »

Nasci como alguns dizem: "Na verdade"(Mal sabia que alguns anos iria descobrir o quão enganado estava
No principio minha vó dirigiu meus estudos dentro do livro histórias bíblicas. A partir de então os instrutores se alternaram entre os livros Poderá Viver Para Sempre, Unidos na Adoração e Conhecimento que Conduz a Vida Eterna. Sempre fui um jovem preocupado com assuntos espirituais. Sempre tinha metas a alcançar. Com 8 anos tive minha primeira participação na Escola do Ministério Teocrático e com 10 anos era publicador não batizado. Aos 13 anos me batizei e estreitei meu relacionamento com O Criador Jeová. Lembro que um dos momentos mais marcantes pra mim foi minha oração de dedicação, no meu quarto sozinho e de joelhos ao lado da cama. Tive alguns problemas pra manter a integridade e sempre recorria a Jeová em busca de ajuda e em muitos casos percebia essa ajuda no tempo certo. Sempre fui uma criança/adolescente alegre e feliz. Em torno dos meus 15 anos de idade percebia que havia uma parte da congregação que carecia de um cuidado a mais, sempre estava reclusa a um cantinho do salão do reino, tinha sua linguagem própria, seus assuntos peculiares e sempre uns ajudavam os outros dentro desse grupo. Eram os idosos. Comecei a cultivar um carinho especial por esses, me sentava com eles, adorava conversar com eles e fazia visitas regulares as suas casas. Desde muito cedo desenvolvi a qualidade oratória mas nunca achei que isso fosse algo tão importante assim, credito esse desenvolvimento a simplesmente gostar dos assuntos dos quais falava a outras pessoas, normalmente minhas participações na escola eram reflexo de pesquisas e meditações profundas vivenciando a época e os assuntos que seriam tratados. Desenvolvi bastante zelo pela pregação de casa em casa e alegria por poder ajudar as pessoas a aprenderem sobre Jeová. Essa prestatividade que partia de dentro do meu coração fez com que fosse observado pelo corpo de anciãos desde os meus 17 anos. Dos 18 para 19 veio a minha designação de servo ministerial. Por ser uma pessoa que topava qualquer desafio e pela necessidade na congregação logo fui designado dirigente da escola na sala B e colecionei cerca de 30 discursos proferidos nos prazo de uns 3 anos. Tenho até hoje em mente um conselho de um amigo, mais velho. "Aqueles que querem agradar a Jeová tem de olhar atentamente pro exemplo de Jesus, conhecer profundamente sua história, se revestir da humildade mental que ele tinha e nunca deixar que privilégios subam a cabeça." Foi isso o que sempre fiz, estudava e aprendia sobre Jesus. Aprendi desde muito cedo e sem perceber a demonstrar empatia e demonstrar um real interesse nos outros. Minha história entre as Testemunhas de Jeová se resumo no amor que aprendi a ter pelo ser humano e por Deus e fé em Jeová. Comecei a namorar uma irmã aos meus 19/20 anos, era algo novo pra mim, o desejo de constituir uma família a idade adulta chegando, os objetivos profissionais meus e os delas, é não soube lidar muito bem com isso. Terminamos o namoro quando eu tinha 22 anos, isso foi um choque dificil de assimilar pra mim. Uns seis meses depois saímos ela e mais dois amigos. Voltei dirigindo pois de dois habilitados eu era o que estava em melhore condições. Parei o carro em frente a minha casa e ela assumiu o volante, sem habilitação para levar o restante do pessoal. Ela bateu o carro duas quadras acima da minha casa e me ligou. Chegando lá eu assumi perante as autoridades, movido pelo amor que sentia, que quem estava ao volante era eu. Minha mãe falou com o ancião presidente, meu amigo, sobre o ocorrido, ele veio conversar comigo e eu assumi o que fiz. Os anciãos não sabiam o que fazer diante da situação, então os irmãos esperaram a visita do superintendente para resolver o caso que já havia se tornado de conhecimento da congregação. Fomos desqualificados eu e mais um irmão envolvido na situação. Depois de algum tempo ainda perdido diante de tudo que estava acontecendo eu me envolvi em conduta desenfreada com minha ex-namorada e em fornicação com outra pessoa do mundo, não demonstrei sinais de arrependimento e fui desassociado juntamente com minha ex-namorada, isso em 2006, e posso dizer que esse foi somente o inicio do fim.

Muitos anos demoraram pra eu ter a postura que tenho hoje, muito mudou desde o meu primeiro acesso e cadastro nesse fórum. Aqui fiz alguns amigos que mesmo não tendo contato com eles pessoalmente sempre me ajudaram muito, posso citar um deles: Lord Vader, um cara com quem me identifico muito.
Aqui percebi que muita coisa em que acreditava não tinha bases sólidas e alicerçadas. Hj encaro Deus como alguém muito diferente do Jeová que me foi apresentado. Um ser bem subjetivo e com um significado especial pra cada pessoa. Acredito em Jesus, mas também passei a vê-lo de uma forma diferente do Jesus apresentado pelas TJs. Hoje acredito que somos responsáveis e colhemos o resultado de todos nossos atos aqui. Faz parte da vida. Nosso legado continua na memória daqueles que ficam. Se vai haver alguma esperança lá na frente? Não me importa.. saber disso não me torno uma pessoa melhor, e acredito que nem deveria ser motivação pra alguem.. Simplesmente somos o que somos!

Acho que é isso!
Rafael

Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br.
Avatar do usuário
Yeats
Forista
Forista
Mensagens: 844
Registrado em: 24 Out 2013 10:36

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Yeats »

Fui criado em um lar "cristão", meus pais já eram TJ e fui criado como tal. Batizei-me aos 13 anos (não lembro, mas devo ter me tornado publicador com entre os 10 e 12 anos de idade). Fui em grande parte do tempo "o certinho" e acreditava piamente em tudo, aqui e acolá uma dúvida, mas sempre"encontravas respostas" ou "deixava pra lá".

A maior parte da minha história é tédio total: Reunião, campo, campo reunião entre um e outro, trabalho e estudos.
Fui pioneiro por cerca de dois anos e meio e Servo Ministerial por cerca de pouco mais de três anos.

Algumas decepções de ordem pessoal (sem caráter religioso) e a incursão em novas pesquisas movidas por curiosidade mudaram o curso da minha vida. Omito o primeiro caso. Quanto ao segundo: Sempre tive uma inclinação para discussões sobre temas que envolvem o comportamento humano, sobre o que move nossas ações, pensamentos, como nos controlamos ou achamos controlar foi então nesse período que li três livros cujo os temas me atraíram e curioso os li ("Humano , demasiado humano", "Além do bem e do mal" de F. W. Nietzsche e "O ser e o nada" de J.-P. Sartre) que me fizeram ter uma visão mais crítica do mundo e que me lançaram em um estudo mais profundo da Blíblia, sobre Deus e a Ciência e de como estes buscam respostas às mesmas perguntas ou algumas das mesmas perguntas.

Entreguei os privilégios, tornei-me inativo e entrei na universidade.
Digo hoje que não sai da torre por que tinha dúvidas, se apenas tivesse dúvidas talvez ainda estivesse lá dentro, saí por que adotei novas respostas.
Sou ateu e dissociado :8


Obs.: É sério, a coisa aconteceu tão lentamente e desprovida de preocupação que não estou certo da ordem de certos acontecimentos daí não lembrar, por exemplo, o período exato de certos acontecimentos e datas tais como o periodo certo em que fui pioneiro, a data de designação, ou minha idade, de Servo Ministerial e o tempo desse serviço e outros fatos.
Quem tem língua afiada também corta a própria boca.
Também vem cuspido aquilo que se quer mastigado.
Avatar do usuário
Robert Orwell
Forista
Forista
Mensagens: 1530
Registrado em: 21 Abr 2014 23:36

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Robert Orwell »

Eu estava bastante desiludido com o mundo e um pouco preocupado com a possibilidade de a vida não ter sentido nenhum. Ver as pessoas cada vez mais cruéis e desumanas umas com as outras e ver muita gente boa sendo atacada sem culpa e sem defesa, sofrendo sem ter quem ajudasse, me deixava muito inquieto e angustiado. Quando as Testemunhas de Jeová vieram pela primeira vez à nossa porta com sucesso - porque, antes, era meu pai quem atendia e ele fez um bom trabalho mantendo-as longe de casa - minha mãe, sempre muito gentil, deu a elas abertura e aceitou a revisita e o prospectivo estudo. A partir dela, eu tomei conhecimento do estudo e me interessei após a primeira sessão.

As Testemunhas de Jeová me passaram uma excelente primeira impressão: educadas, gentis, "amorosas", "comprometidas com a moral" e "preocupadas com o bem-estar do próximo"; o exato oposto das pessoas irascíveis que eu observava com tanta frequência e que tanto me faziam descrer da humanidade. É claro que eu fui imediatamente seduzido pelo layout impecável que elas apresentam!

Felizmente, minha mãe não tornou-se TJ; infelizmente, eu me tornei. Foram os piores anos da minha vida: além das cobranças de serviço de campo e de assistência às reuniões, foi um golpe de punhal na boca do estômago quando eu me dei conta de quem, realmente, as Testemunhas de Jeová eram: pessoas frias, calculistas, desprovidas de altruísmo, imersas numa forma hipócrita de adoração formal que não tinha um pingo de sentimento, pessoas mesquinhas, pequenas, invejosas, frustradas, de mal com a vida, de mal com o mundo, envoltas numa aura negra de maus sentimentos e de frequências baixas. Pessoas odiosas, que torciam pelo mal do próximo, que se alegravam quais loucas com a ideia de ver a pessoa que não as recebia na porta morrendo num banho de sangue chamado "Armagedom" e que, por assim serem, não podiam dar aquilo que elas transformaram no principal slogan de sua propaganda: amor!

Ao mesmo tempo, também vi que muitas Testemunhas de Jeová são hipócritas, têm duas-caras, seguem a máxima: "Fazei o que vos digo, mas não fazei o que eu faço", pregam moralidade mas são imorais, pregam honestidade mas são desonestas, pregam brandura e autocontrole mas são agressivas, pregam humildade mas são arrogantes (meu ex-instrutor), pregam tolerância mas são fundamentalistas, pregam liberdade de expressão mas condenam qualquer que pense minimamente fora da caixa. E pregam felicidade, mas são infelizes...

Não dá para ser feliz e se desenvolver qual ser humano no meio das Testemunhas de Jeová. Já disse em outras ocasiões, mas, aqui na França, elas são classificadas, em documento oficial do governo, como uma "seita de alta periculosidade" (seita muito perigosa). Entre outras coisas, o governo toma como base os casos de suicídio entre Testemunhas, a prática inconstitucional da desassociação e as várias atividades de TJs de "raptar" pacientes TJs em estado grave ou em doença severa dos hospitais, para que não recebessem sangue. O governo francês também leva em conta as passeatas das TJs, de 1999 até 2005, contra a sua decisão de manter o imposto devido sobre elas pelos anos de 1994-1999; o governo francês entende tais atos, não como o que o CG chama de "estabelecer legalmente as boas novas" e "ato de lealdade a Jeová", mas como perturbação da ordem, sublevação social e desrespeito político.

Entre a primeira vez que eu estudei e a última vez em que pus os pés num Salão do Reino, passaram-se quase 8 anos. Fui muito infeliz a maior parte do tempo em que fui TJ - me deixavam de lado nos congressos e assembleias, nunca era lembrado nas festas [ridículas, na minha opinião hoje] das TJs, no Salão do Reino eu só servia para dar comentários em pontos mais profundos do estudo nos quais nenhum daqueles limitados conseguia dizer "A" e no campo só me queriam se fosse pra ir naquelas revisitas ruins, que só geravam discussão. Resumindo, fui USADO, ENGANADO e MALTRATADO durante quase todo o tempo em que fui TJ. Houveram exceções, evidentemente: tive momentos de alegria e descontração ao lado de TJs verdadeiramente honestas e de bom coração. Porém, eles foram minoria e a maioria partiu para longe, quer para pregar nos confins do Brasil, quer para arrumar emprego em outros Estados, quer para o além.

Hoje, me perguntam porque tenho ódio da Organização "que um dia eu jurei amar"... Pergunta respondida? :evil:
"Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate" (Deixai toda a esperança, ó vós que entrais) ALIGHIERI, Dante. Inferno (Canto III)
Isto está, invisivelmente, escrito na entrada de todo Salão do Reino.
Avatar do usuário
Maria Serena
Desativado a pedido do usuário
Mensagens: 397
Registrado em: 10 Ago 2014 09:33

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Maria Serena »

Robert Orwell escreveu: Hoje, me perguntam porque tenho ódio da Organização "que um dia eu jurei amar"... Pergunta respondida? :evil:
Completamente respondida. Não é bem ódio, mas já vi sentimentos mais diferentes. :4
Brilhante depoimento. Corajoso e lúcido.
"Quanto mais tempo você gastar pensando no problema, menos tempo você terá para pensar na solução."
Avatar do usuário
Kaarlo Luhtanen
Forista
Forista
Mensagens: 3015
Registrado em: 21 Mar 2014 22:04

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Kaarlo Luhtanen »

Maria Serena escreveu:
Robert Orwell escreveu: Hoje, me perguntam porque tenho ódio da Organização "que um dia eu jurei amar"... Pergunta respondida? :evil:
Completamente respondida. Não é bem ódio, mas já vi sentimentos mais diferentes. :4
Brilhante depoimento. Corajoso e lúcido.
Eu defendia com unhas e dentes. :tapado8:
Avatar do usuário
Mentalista
Forista
Forista
Mensagens: 4042
Registrado em: 08 Ago 2014 17:25
Localização: Campinas

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Mentalista »

Minha mãe foi fisgada por uma TJ, após ter ido em outras igrejas e não ter ficado satisfeita. Essa TJ mostrou algumas coisas que lhe interessaram. Nessa época, estava grávida de mim. Por usarem a Bíblia para responder as perguntas, ela acabou gostando. Quando meu pai faleceu, quando eu tinha alguns meses, ela, que já estava em depressão profunda, ficou pior ainda, e baixou mais ainda a guarda. Ficaram falando da esperança de ressurreição terrestre, que até hoje ela alimenta. Ela fala que viver no céu não é para ela. Também fala que perdeu um pedaço dela naquela época, e que até hoje não conseguiu se reintegrar. Eu tenho pena dela ser tão escrava da Torre. Embora não vá muito ao campo e assista novelas, não falta nas reuniões e insiste em muitas coisas, por exemplo, sobre eu fazer faculdade só se for durante o dia etc. Fica esperando o fim que nunca chega e se vangloriando por não ter deixado a organização, em contrapartida com outros que "abandonaram Jeová". Está fazendo faculdade e tem melhorado em algumas formas de pensar. Eu lhe dou muitos conselhos, e ela aproveita a maioria. Ela me faz o mesmo, e eu os aceito também. É uma ótima pessoa e muita boa com os filhos. Por isso, eu sou grato a ela por ser tão benigna, e não lhe culpo pela merda que aconteceu na minha vida. Não é fácil superar a morte de um ente querido.

Meus planos para o futuro são persuadir minha família e então sair. Se o primeiro não acontecer, infelizmente terei de seguir com o segundo. Se não der para ser só inativo, vou aceitar a desassociação. Mas não vou me dissociar, afinal não me dediquei de coração.
Avatar do usuário
peregrino
Forista
Forista
Mensagens: 242
Registrado em: 14 Mai 2013 02:41
Localização: Cidade Santa Maria

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por peregrino »

Lembro que, desde muito cedo, sempre vi que havia algo de errado com o mundo.

Muita maldade, miséria e tudo mas... Sempre fui diferente, um sujeito "marginal" (à margem do pensamento de manada), contestador estilo Johnny Cash. Era católico, e sempre tive fé em Deus e Jesus, embora não concordasse com a "mariolatria" de minha religião.

Em 1988, fui apresentado à tal de "verdade" das tjs.

Inicialmente eu não engoli o "pacote", aliás, mesmo depois de batizado, nunca aceitei TRÊS dogmas tejotanos:

- a "questão do sangue";

- o "paraíso na terra" (acho que é porque eu sempre fui ungido :1 ......);

- 1914 - "a geração que não passará....

Mas mesmo assim, me batizei, pois as pessoas TJs que conheci, e depois a congregação à qual me vinculei eram pessoas realmente sinceras, boas de coração em sua maioria, e pensei que, mesmo havendo alguns "equívocos" doutrinários, conforme me falou certa vez um ancião, eram equívocos "sinceros", e que seriam corrigidos no seu devido tempo.
Apesar disto, progredi e me tornei servo ministerial, e assim como o Ágape, tinha muita alegria em partilhar de minha casa com os "excluídos" da congregação - os idosos, os pobres e humildes. Esses eu reconhecia como meus irmãos. Também sentia muita felicidade em falar de Deus às pessoas, e nunca gostei de vender revistas - sempre que podia, deixava revistas sem cobrar dos moradores. Por isso, nunca gostei de trabalhar no campo no sábado, que era o dia de oferecer revistas, sempre preferi os domingos, que era dia da palestra com moradores.

Mas se tornar TJ é como chupar pirulito - "Começa doce e termina no PAU" - Comecei a me dar conta do farisaísmo da maioria dos da dianteira, da divisão escancarada entre RICOS E POBRES, da SIMONIA, do nepotismo, do puxa-saquismo escrachado e da hipocrisia da maioria dos TJs. Acabei me afastando de todos os mundanos, inclusive meus pais, me casei com uma irmã, ficamos 2 anos casados até percebermos que tínhamos cometido um erro - nenhum de nos dois amava o outro.....! Abri mão de dois sonhos - voltar para exército como sargento, e cursar uma faculdade.

Fiquei como tj 9 anos, fui desassociado e fiquei fora 4 anos (época de muita loucura, baladas e bebedeiras), fui readmitido e fiquei mais seis anos, até ser novamente desassociado. Entre idas e vindas, perdi quase 20 anos de minha vida.

Mas enfim, minha mente está liberta. Continuo sendo o mesmo cara dos tempos de jovem. Só que mais criterioso, desconfiado de tudo o que, de alguma forma, queira aprisionar minha mente. Como disse Nietzche no Livro "Para além do Bem e o Mal", "toda a forma de filosofia é uma tentativa de escravizar corações e mentes".

Ainda creio em Deus, e também em Jesus Cristo, e creio por um só motivo - O tipo de amor pregado por Cristo sempre dá certo, Onde tudo falha, o amor triunfa.
Hoje em dia não tenho mais certezas, e não me considero digno de alguma espécie de recompensa da parte de Deus. Se ele me presentear com o que chamam de vida eterna, ótimo. Mas já sou muito grato ao Altíssimo por ele ter-me dado ESTA VIDA, e ter me dado a oportunidade de amar minha família, meus amigos, e todos aqueles próximos de mim.

Em resumo, esta foi minha trajetória.
Avatar do usuário
Mentalista
Forista
Forista
Mensagens: 4042
Registrado em: 08 Ago 2014 17:25
Localização: Campinas

Re: O início e o fim

Mensagem não lida por Mentalista »

Nepotismo e simonia, que as TJs tanto criticam, é o que mais acontece em seu meio.

Gostei de ler sua história, peregrino. Permaneça desconfiado e não deixe que aprisionem sua mente novamente. Façamos o que nos faz feliz e condiz com nossa consciência.
Responder

Quem está online

Usuários navegando neste fórum: FreddieMercury, Tulasi e 111 visitantes