Dráuzio Varella fala sobre células tronco e T. de Jeová

Qual é o conceito equilibrado sobre a questão do sangue? Uma análise sobre umas das doutrinas mais polêmicas das TJs.
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pascoalnaib
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Dráuzio Varella fala sobre células tronco e T. de Jeová

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O caminho das células-tronco
Dráuzio Varella

Raras descobertas em medicina geraram tanta expectativa quanto a das células-tronco.

De fato, a possibilidade de regenerar tecidos lesados por meio do transplante de células capazes de diferenciar-se em qualquer outra talvez venha a representar para as doenças degenerativas típicas do século 21 um avanço semelhante ao dos antibióticos para as moléstias infecciosas no século passado.

Para situar a discussão, vamos lembrar que existem dois tipos de células-tronco: as adultas e as embrionárias. As adultas estão presentes na maioria dos tecidos e apresentam capacidade limitada de diferenciação, isto é, conseguem formar apenas alguns tipos de células. As embrionárias são totipotentes, ou seja, podem diferenciar-se em qualquer tipo de tecido.

Células-tronco adultas são utilizadas nos transplantes de medula-óssea (que nada tem a ver com medula espinhal) em casos de leucemia, por exemplo. Depois de administrar doses altíssimas de quimioterapia e radioterapia que matam as células cancerosas, mas destroem também as células responsáveis pela produção de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas, infundimos na veia do paciente células-tronco retiradas de um doador compatível. Ao chegar à medula dos ossos, essas substituem as que morreram e produzem novos glóbulos sangüíneos e plaquetas.

Já as embrionárias são imaturas, obtidas nas primeiras divisões de um óvulo fecundado, portanto muito mais versáteis. Enquanto as células-tronco presentes na medula-óssea de um adulto conseguem formar apenas glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas, as embrionárias podem formar neurônios, músculos, tecido hepático, pulmonar ou qualquer outro.

Embora alguns defendam o emprego de células-tronco adultas em lugar das embrionárias para regenerar tecidos, os argumentos utilizados não encontram respaldo na comunidade científica que se dedica à área. Não há mais dúvida de que a capacidade de diferenciação daquelas é muito inferior e que ninguém sabe como fazer células-tronco da medula óssea de um adulto regenerarem neurônios num paraplégico ou músculo cardíaco num coração enfartado.

Infelizmente, essa questão foi envolvida numa polêmica inglória: de um lado, alguns religiosos interessados em proibir a pesquisa com elas, por considerar que a vida humana se inicia no momento em que o espermatozóide penetra o óvulo; de outro, os que concordam com os cientistas que propõem o aproveitamento de óvulos fecundados e congelados nas clínicas, mas desprezados por serem de má qualidade para a fertilização.

Entre os que defendem o uso de células embrionárias existe uma multidão de crianças portadoras de doenças hereditárias que afetam os músculos e impedem a deambulação, paraplégicos, portadores de Parkinson, Alzheimer, doenças cardíacas, esclerose múltipla, diabetes dependente de insulina e seus familiares aflitos. O drama vivido por essas pessoas criou pressão irresistível para a aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias no parlamento brasileiro e de outros países.

Para deixar clara minha posição, defendo o direito de acesso ilimitado aos benefícios que essas pesquisas trarão. Os que, por razões religiosas, são contrários a elas, por julgarem que descongelar óvulos fecundados, inúteis, que nunca serão implantados em útero algum, é assassinato, merecem todo respeito. A eles deve ser assegurado o pleno direito de recusar submeter-se a esse tipo de tratamento (quando estiver disponível), tal como Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue, mas não o de criar dispositivos legais para impor ditatorialmente suas convicções aos que não pensam da mesma forma.
Enquanto a maioria dos pesquisadores estimava que os primeiros tratamentos estariam disponíveis em cinco a dez anos, a Geron, uma companhia da Califórnia, anuncia na revista Science que seus estudos conduzidos em animais sugerem que o tratamento com células embrionárias pode ser seguro e eficaz num grupo selecionado de pacientes.

Pesquisadores da Geron apresentaram os dados de suas pesquisas ao FDA (Food and Drug Administration), a rigorosa agência americana que controla a liberação de medicamentos, com a esperança de conseguir autorização para iniciar um estudo-piloto em portadores de traumatismos de medula espinhal em meados de 2006.

Mesmo os cientistas céticos, cautelosos quanto às possíveis conseqüências nefastas que a aplicação apressada de tratamentos ainda pouco testados possam trazer aos pacientes, estão de acordo com a escolha do alvo: neurônios lesados em acidentes medulares são mais fáceis de regenerar do que células produtoras de insulina nos diabéticos ou neurônios cerebrais inativos em pacientes com Parkinson.

O caminho que as células embrionárias deverão percorrer antes de entrar na prática médica será árduo. É preciso provar que as células transplantadas irão alojar-se no local adequado, que elas se diferenciarão nas células que desejamos e que seu crescimento ficará sob controle para que não formem tumores.

Os dados experimentais sugerem que os três objetivos têm sido alcançados pelos pesquisadores da Geron e por outras equipes. Pela tradição do FDA, o início do estudo jamais será autorizado enquanto seus técnicos não estiverem convencidos de que os pacientes não correrão riscos.

Esse primeiro estudo estabelecerá as normas de segurança para os que virão a seguir. A expectativa na comunidade científica é muito grande.

Fonte:
http://www.gazetadigital.com.br/articul ... 2007-05-30
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JOSÉ FACCIOLI JR
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Re: Dráuzio Varella fala sobre células tronco e T. de Jeová

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Me passa a impressão de que o Dráuzio Varela sabe bem das questões envolvidas, não só das TJ. E sabe que muitas delas tentam impor a outros, de forma ditatorial, suas convicções.
Interessante!!
Será que as pessoas que lêem isso se dão conta da extensão do problema?
"Quando nós adotamos cegamente uma religião, um sistema político, um dogma literário, nós nos tornamos autômatos, paramos de crescer" - Anaïs Nin (1914-1977)

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André Felix
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Re: Dráuzio Varella fala sobre células tronco e T. de Jeová

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Para deixar clara minha posição, defendo o direito de acesso ilimitado aos benefícios que essas pesquisas trarão. Os que, por razões religiosas, são contrários a elas, por julgarem que descongelar óvulos fecundados, inúteis, que nunca serão implantados em útero algum, é assassinato, merecem todo respeito. A eles deve ser assegurado o pleno direito de recusar submeter-se a esse tipo de tratamento (quando estiver disponível), tal como Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue, mas não o de criar dispositivos legais para impor ditatorialmente suas convicções aos que não pensam da mesma forma.
Eu discordo da comparação. O sangue é bem mais "impessoal" do que um óvulo humano. Os que condenam o uso de óvulos humanos descongelados para fins de pesquisa ou tratamento médico consideram o procedimento um tipo de assassinato. Consideram o óvulo como sendo um ser humano em potencial. Não pretendo aqui dizer se estão certos ou não os que pensam dessa forma. Apenas acho que a posição desses é diferente da posição das testemunhas de Jeová. Ora, se for mesmo um assassinato destruir um óvulo ele deve ser coibido por lei. Os que têm essa convicção estão corretos quando lutam para convencer e impor isso à sociedade. Já as testemunhas de Jeová recusam o sangue doado por pessoas vivas que continuam vivas depois, são elas as que as vezes morrem. Mesmo que numa situação hipotética elas desistissem de sua "neutralidade política" não poderiam impor legalmente essa recusa para toda a sociedade. O adulto que recusa conscientemente o sangue está exercendo o seu direito à auto-determinação, concordemos ou não com os motivos dessa decisão.
O Dráuzio Varella apresenta logo de cara os que pensam diferente dele como estando errados e por isso considera uma ousadia que os mesmos tentem por meios legais imperdir esses procedimentos envolvendo óvulos humanos. Não é bem assim. Se essas pessoas consideram o ato um atentado contra a vida podem e devem tentar de todas as formas legais uma solução para o caso, até propondo alternativas já que além dos óvulos existem outras "fontes" de células-tronco.
O pensamento é o ensaio da ação.
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JOSÉ FACCIOLI JR
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Re: Dráuzio Varella fala sobre células tronco e T. de Jeová

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André Felix escreveu:
Para deixar clara minha posição, defendo o direito de acesso ilimitado aos benefícios que essas pesquisas trarão. Os que, por razões religiosas, são contrários a elas, por julgarem que descongelar óvulos fecundados, inúteis, que nunca serão implantados em útero algum, é assassinato, merecem todo respeito. A eles deve ser assegurado o pleno direito de recusar submeter-se a esse tipo de tratamento (quando estiver disponível), tal como Testemunhas de Jeová recusam transfusões de sangue, mas não o de criar dispositivos legais para impor ditatorialmente suas convicções aos que não pensam da mesma forma.
Eu discordo da comparação. O sangue é bem mais "impessoal" do que um óvulo humano. Os que condenam o uso de óvulos humanos descongelados para fins de pesquisa ou tratamento médico consideram o procedimento um tipo de assassinato. Consideram o óvulo como sendo um ser humano em potencial. Não pretendo aqui dizer se estão certos ou não os que pensam dessa forma. Apenas acho que a posição desses é diferente da posição das testemunhas de Jeová. Ora, se for mesmo um assassinato destruir um óvulo ele deve ser coibido por lei. Os que têm essa convicção estão corretos quando lutam para convencer e impor isso à sociedade. Já as testemunhas de Jeová recusam o sangue doado por pessoas vivas que continuam vivas depois, são elas as que as vezes morrem. Mesmo que numa situação hipotética elas desistissem de sua "neutralidade política" não poderiam impor legalmente essa recusa para toda a sociedade. O adulto que recusa conscientemente o sangue está exercendo o seu direito à auto-determinação, concordemos ou não com os motivos dessa decisão.
O Dráuzio Varella apresenta logo de cara os que pensam diferente dele como estando errados e por isso considera uma ousadia que os mesmos tentem por meios legais imperdir esses procedimentos envolvendo óvulos humanos. Não é bem assim. Se essas pessoas consideram o ato um atentado contra a vida podem e devem tentar de todas as formas legais uma solução para o caso, até propondo alternativas já que além dos óvulos existem outras "fontes" de células-tronco.

É por aí André,

Tanto as TJ como qualquer outro grupo religioso, tenta impôr suas convicções, seja por meio legal ou não, o aborto é uma questão que serve de exemplo, há anos que nem a igreja e nem o Estado chega numa conclusão, não é diferente com a questão das células tronco. Seja a questão do sangue 'impessoal' ou não, tanto o sangue como qualquer outra coisa, seja, transplante ou pesquisa de células, a tendência é a mesma:
Grupos radicais se opõe terminantemente.
"Quando nós adotamos cegamente uma religião, um sistema político, um dogma literário, nós nos tornamos autômatos, paramos de crescer" - Anaïs Nin (1914-1977)

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