Meu pai faleceu por causa da negativa a transfusão

[RexTJ]

Boa tarde jovens, vcs tem perguntas?

Esse mês faz um ano que meu pai teve um infarto e vou contar minha história triste acerca disso aqui. Meu nome é Ricardo, sou extj e deve ter alguma apresentação antiga minha aqui. Estou sumido do fórum a algum tempo pq deixou de ser necessário acompanhar os passos e novos entendimentos das TJs e percebi que precisava seguir sem eles na minha sombra. No entanto, se faz necessário um post sobre o caso do meu pai.

Ele teve um infarto no dia 14 de julho de 2020. Eu estava a meses sem vê-lo, a desculpa era a pandemia mas eu tava cansado e triste em ser tratado de uma maneira diferente por ter assumido minha posição apóstata a alguns anos, graças ao Fórum. Então, eu tinha um tratamento diferente por ser um apóstata e ele ancião. Minha mãe é pior que ele, ela é fria, gelada de sentimento, tem diversos problemas psicológico. Mas o assunto não é ela, é sobre ele. Falo dela so pra situar vcs na minha vivência.

Após ele se sentir mal, ela ligou para meu outro irmão pra ele ser levado a um hospital. Isso demonstra o quanto somos distantes. Eles foram ao PS, meu pai ficou internado e no outro dia os médicos o transferiram para um outro hospital, maior e mais equipado. Após uma semana de internação, ele fez uma limpeza nas artérias dele, esse procedimento é feito pra tentar evitar a operação de abrir o peito, expor o coração e o paciente a uma UTI e centro cirúrgico... mas depende da sua eficácia. Dando tudo certo, vida normal e alta em 3 dias. Eu achei estranho aquela demora, o único canal de informação era minha mãe e ela falava que ele estava super bem. Eu peguei o carro e fui até o hospital que ele estava internado, consegui conversar com os assistentes sociais e deixei meu telefone para os médicos me contatarem, afinal estávamos dentro da pandemia e eles não vinham falar com familiares como é o normal. Eu voltei para o trabalho e o médico que cuidava dele me ligou. Fiquei com muito medo - o médico disse exatamente assim: "Seu pai tem uma bomba relógio no peito, precisamos desarmar" Ele precisava operar urgente, precisava fazer a troca das coronárias porque o procedimento feito não foi suficiente. Naquele momento, caso ele aceitasse operar, o médico contava com 7% de chances de ser necessário a transfusão de sangue. De repente nem usasse...

Eu não tinha acesso ao meu pai, nem por telefone nem por outro meio. Nesse momento, fiz um grupo entre eu e meus irmãos (somos em 4 filhos, eu e 3 irmãos. Desses, somente o caçula é TJ ainda) e passamos a acertar os detalhes através desse grupo. Chegamos a conclusão que ele jamais aceitaria a transfusão de sangue como possibilidade de ter sua vida salva. Precisávamos correr! Consegui com meu irmão TJ o telefone de alguns membros do SR que meu pai se associava e era ancião e entrei em contato com ele. Elias o nome do maldito. Liguei pra ele e me identifiquei como filho do ancião Valmir Caetano que estava internado e precisávamos de orientações acerca de como proceder, uma vez que faríamos a vontade do meu pai sobre não utilizar transfusão de sangue. Nesse momento, eu era o único filho que não aceitava participar desse "suicídio" como eu chamava, mas ficaria triste comigo em ter o buraco entre nós aumentado por causa de fazer a minha vontade e não a dele. O tal do Elias falou comigo com nojo, sentia o nojo dele pelas palavras e forma de conversar comigo. Marcamos uma reunião online entre eu, meus irmão, o ancião Elias e o procurador do meu pai que assinava seu Cartão de Sangue e um membro da Colih chamado ALEX. Ficou combinado que o membro da Colih iria me encontrar no hospital no dia posterior, que conversaria com os médicos sobre o procedimento aceito pelas TJs e pelo meu pai. No entanto, no outro dia o tal do Alex simplesmente não apareceu e quando me respondeu no whatsapp disse: "por favor, não me chame mais." Aliás, esse é o trabalho da Colih: conversar com o médico e o ensinar que tem procedimentos e alternativas pra não usar sangue. Eu pensava que tinha médicos, equipes, um fundo monetário pra suprir essa necessidade - devo ter faltado nessa reunião.

No grupo dos meus irmãos eu chamei por eles e pedi atenção máxima, pedi ajuda máxima e disse que nosso pai ia morrer e não seria pelo SUS mas por descaso dos anciãos. Meu irmão TJ acionou um primo nosso, TJ também, e ligaram para uma infinidade de irmãos TJ pedindo ajuda e direcionamento. Conseguiram o telefone de um médico no interior de SP (moramos na região do ABC paulista, em torno de 150km de distancia) que topava fazer a operação, mas precisava ter um panorama do estado de saúde do meu pai e o quão extenso foi o infarto. Consegui o relatório médico, meu irmão buscou a noite comigo e foi falar com o médico. Daí pra frente, eles represavam as informações, compartilhava com a gente somente o que eles achavam necessário. O médico deu a direção para meu irmão de como seria feito o procedimento e as formas de pagar o valor, inclusive a previsão de custo e porcentagem de cura dele. Porcentagem eu não lembro agora mas foi algo em torno de 70% de chances de cura e vida normal e algo em torno de 20% de chance de alguma sequela. Os outros 10% era de complicações e evolução para óbito.

Nesse momento, meu irmão disponibilizou dinheiro, meu outro irmão colocou a moto importada a venda, eu e meu outro irmão mais novo colocamos cartões de crédito a disposição porque o valor era altíssimo para nós, em torno de 70 mil reais. Iniciamos uma campanha de arrecadação nas redes sociais, apenas alguns TJs ajudaram porque minha mãe e meu irmão não queriam pedir ajuda para seus irmãos TJs, não era culpa deles. Quem ajudou foram em maiorias amigos dos filhos não TJs.
Com alguma dificuldade em liberarem a transferência devido ao estado de saúde do meu pai, conseguimos mandar ele de ambulância com UTI para o hospital que faria o procedimento. Nesse momento de muita esperança, os médicos autorizaram um acompanhante no pré e pós operatório, minha mãe o acompanhou. Ele precisava se preparar para operação, segundo os médicos era necessário ele tomar um remédio para inflar o número de glóbulos vermelhos e depois iriam adicionar somente a parte líquida e reutilizar o próprio sangue dele na operação, não tinha como dar errado.

Se a comunicação era difícil com minha mãe por causa de tudo que vivemos até então, agora estava extremamente difícil. Ela só dizia que ele estava bem, que não precisava se preocupar, que ele estava pregando para médicos e enfermeiros e etc. Após a semana de preparo, ele foi operado e voltou para o quarto, segundo minha mãe só sonolento. Após 2 dias, ela veio embora e meu irmão mais velho ficou com ele. Ele operou numa segunda feira, a previsão de alta era no outro dia. Porém, ele não reagiu como esperado, os drenos expeliam muita sujeira, muito pus proveniente de inflamação. Pra gente, essa semana foi a que tivemos um BBB porque tínhamos acesso a todas informações em tempo real. Meu pai já estava a quase 30 dias internado, ele já estava cansado de não dormir, com saudades da casa dele, cansado de remédio e injeção, exames e etc... Meu irmão dizia que ele não queria fazer exercícios, o único momento melhor dele era quando ele recebia algum áudio o encorajando a perseverar. Meu irmão desmarcou alguns compromissos porém no sábado ele precisava vir pra casa e eu relutava ir ficar com ele. Tinha medo do que ia ver, tinha medo do que podia acontecer, mas tinha mais medo em como ele ia me receber. Mas fui, peguei um carro e viajei ate ele.

Quando entrei na sala, ele deu um sorriso e disse: "meu filho, que bom que você veio. Estava com saudades" Eu fiquei extasiado por vê-lo mas fiquei em choque quando fui percebendo seu estado geral, de fralda, debilitado, cansado mas querendo se mostrar bem. Conversamos, ele dormiu tarde, eu também e na madrugada ele passou muito mal. Chamei os enfermeiros e elas gritavam por ele, pra ele "acordar": ele estava em choque devido a um novo infarto. Não era possível colher sangue dele pra fazer exame pq não tinha. Esse infarto após a operação era previsto pelos médicos mas não nesse momento mais pois ele já teria tido alta. Após a operação era previsto um novo infarto enquanto tivesse se recuperando, dentro de até 24hs depois da operação. Isso ia determinar sequelas ou não... O médico responsável pelo plantão me chamou fora da sala e disse que estavam se esforçando para manter o desejo do meu pai em não usar sangue, mas a última palavra seria do acompanhante. Eu então orei e pedi a Deus que se evoluísse pra isso que eu não fosse responsável por escolher isso.

Enfim, ele passou o domingo sonolento. O pouco que esteve acordado sentia ele muito debilitado, definhando. Chamei meus irmão varias vezes e informei sobre o estado e sobre a conversa do médio pela manhã. No final do dia, domingo, meu irmão foi trocar comigo pois na segunda cedo eu iria trabalhar. Na segunda as 10hs começaram me ligar insistentemente, desliguei as ligações porque trabalhava com atendimento telefônico. Eu achava que era porque precisava de alguma coisa para a alta e eu não podia ajudar naquele momento, pensei que mandariam mensagem...
Por volta das 13hs um tio meu me ligou e eu atendi falando pra ele falar rápido. E ele falou: "Seus irmãos estão tentando te ligar e você não atende. Fala com algum deles, parece que seu pai não resistiu" Na hora, pensei em ir até a varanda e pular do 33º andar do prédio que trabalhava... Ele foi enterrado no outro dia, uma terça feira. Não consegui vê-lo no caixão, não entrei na sala do velório e não o carreguei pela última vez.
Causa mortis: histórico pregresso de nicotina (ele fumou a mais de 30 anos atrás) e choque hipovolêmico (falta de sangue no organismo)
A divida do hospital foi revista e hoje beira a R$ 120.000,00 e é nossa, as Tjs não tem nenhum compromisso em pagar isso.

[Niilista]

Admiro muito a coragem que você teve em se assumir apóstata, mesmo tendo pais crentes.

E sinto muito mesmo pelo seu pai e pelo que você passou...

Existem situações em que transfusões não são garantia de cura. Mas esse não parece ter sido o caso do seu pai, vítima de uma doutrina sem sentido, e isso é muito triste mesmo...

Te mandei uma MP. Olha lá.

[Tsubasa]

Antes de tudo, meus sinceros sentimentos a vc e sua família.
Como disse o Niilista, parabéns pela coragem em se assumir apóstata mesmo tendo pais e outros parentes TJs. Queria eu ter sua coragem.
Falando sobre toda a situação, todo o trabalho que vcs tiveram em tentar salvar seu pai e ao mesmo tempo respeitando a vontade dele, dívidas médicas e praticamente zero ajuda de irmãos, me faltam até palavras pra eu me expressar.
É um absurdo o que essa seita faz com as pessoas. Fazem uma lavagem cerebral nelas e quando elas precisam de ajuda prática, a única coisa que vem é algum "encorajamento espiritual".
É um misto de tristeza com revolta que isso me dá.

Forças irmão! De coração.

[feliciapink]

Sinto muito por seu pai Minha história é um pouco parecida. Minha mãe tj, tbm precisou de sangue, estava com câncer agressivo de pâncreas, foi uma luta, e ela faleceu e tbm ficou uma dívida enorme para nós, os familiares pagarem. Colih nada fez.
Li seu relato e ficou passando um filme na minha cabeça, relembrando tudo, de todo horror e desespero que passei na época.

Fica bem. Que consiga superar.

[RexTJ]

Admiro muito a coragem que você teve em se assumir apóstata, mesmo tendo pais crentes.

E sinto muito mesmo pelo seu pai e pelo que você passou...

Existem situações em que transfusões não são garantia de cura. Mas esse não parece ter sido o caso do seu pai, vítima de uma doutrina sem sentido, e isso é muito triste mesmo...

Te mandei uma MP. Olha lá.

Agradeço pela Mp, é de encorajamento rs

Sobre assumir ser apóstata eu fui arrancado do armário da apostasia pela mãe do meu filho - ela ficou magoada que após me separar dela eu fiquei com uma ex namorada, orgulho ferido. Como retaliação me expôs, eu também não neguei pq tava de saco cheio de viver se enganado. Essa doutrina do sangue realmente mata pessoas, uma doutrina genocida. O caso dele era uma segurança para equipe médica, se precisar (7% de chances, no máximo) eles queriam ter a oportunidade de usar.

Na MP de resposta mandei meu whatsapp, fique a vontade em chamar ou não, coo preferir. Grande abraço e obrigado pelo conforto

[RexTJ]

Antes de tudo, meus sinceros sentimentos a vc e sua família.
Como disse o Niilista, parabéns pela coragem em se assumir apóstata mesmo tendo pais e outros parentes TJs. Queria eu ter sua coragem.
Falando sobre toda a situação, todo o trabalho que vcs tiveram em tentar salvar seu pai e ao mesmo tempo respeitando a vontade dele, dívidas médicas e praticamente zero ajuda de irmãos, me faltam até palavras pra eu me expressar.
É um absurdo o que essa seita faz com as pessoas. Fazem uma lavagem cerebral nelas e quando elas precisam de ajuda prática, a única coisa que vem é algum "encorajamento espiritual".
É um misto de tristeza com revolta que isso me dá.

Forças irmão! De coração.

Opa, muito obrigado pelas palavras de conforto! Pra mim foi como engolir um gato de ré, vc não tem noção de como foi difícil fazer algo que não concorda! Sobre os TJs eu não considero ajuda, o que fizeram não adiantou muito porque meu irmão e primo perderam dias se dedicando a ligar e indo atrás. Dei uma boa resumida senão os foristas iam esperar meu relato virar filme hehehe

Eu ainda estou digerindo tudo isso. Todo dia penso nisso, todo dia me revolto um pouco. Um anos depois que consegui fazer um post aqui, tamanha mágoa, revolta e etc com essa seita maldita.

[RexTJ]

Sinto muito por seu pai Minha história é um pouco parecida. Minha mãe tj, tbm precisou de sangue, estava com câncer agressivo de pâncreas, foi uma luta, e ela faleceu e tbm ficou uma dívida enorme para nós, os familiares pagarem. Colih nada fez.
Li seu relato e ficou passando um filme na minha cabeça, relembrando tudo, de todo horror e desespero que passei na época.

Fica bem. Que consiga superar.

Ola minha amiga, lamento pela sua perda também, meus sentimentos. Meu caso era urgente, com tantos avanços na medicina ele tinha grandes chances de viver com a mais absoluta normalidade. Acho que assim como você eu sentia o apavoro de perder meu pai e a impotência, a pequenez diante de um fato totalmente mutável. Eu me revolto com isso todos os dias, preciso administrar para não ter crises de ansiedade. Obrigado pelas palavras

[marianavieira]

Nossa que Triste! Meus Sentimentos sinceros pelo seu pai!

Uma dúvida.

Eles não dizem que a Colih tem alternativas do tipo injeção de Eritropetina e outras coisas? Eu sei que cada caso é um caso, mas a injeção por exemplo é um método mais rápido até que outras medidas possam ser implantadas. A não ser que ele não pudesse tomar essa injeção.

Mas eu tô chocada com a postura da Colih. Aqui na minha região já teve ajuda de alguns casos em que a equipe da Colih resolveu as coisas direitinho.

[RexTJ]

Então Mariana, eu acho que nunca fui tj na verdade pq desde sempre questionei o papel da Colih, pra piorar eu tinha a crença que eles eram uma equipe preparada que reúne hospitais, médicos e equipe de enfermagem, além de todo preparo financeiro pronta para agir caso necessário. Mas além de não ter tido nenhum tipo de assistência deles nem do membro, eu tb percebi que eles agem de acordo com território e um não invade o terreno do outro. Além da própria crença em si ser um absurdo, esses protocolos dificultaram muito o que poderia ter sido feito.

Posso encher a boca e acusar o ancião Elias que era do salão do meu pai como o tal do Alex que não fizeram nada.

[AntonioMadaleno]

Lamento saber do falecimento do seu pai. É provavelmente mais uma das vítimas desta doutrina assassina e insana que já tive oportunidade de desmascarar diversas vezes. Já agora, a Eritropetina demora tempo a atuar e são precisas semanas para surtir efeito segundo pesquisei.