IMORTALIDADE: Concepções em Contraste
Vários Conceitos Sobre a Morte
Os egípcios mumificavam os corpos de seus mortos importantes para não ficarem sem um “referencial” para o elemento imaterial que abrigaria durante a vida e de que se separaria na morte. Os hindus desenvolveram idéias de uma evolução constante do espírito, refinado por repetidas reencarnações através de vidas em vários estágios, passando pela forma de bactérias, insetos ou animais inferiores, chegando ao elemento humano, sempre num ideal de superação contínua das tendências malévolas. Ainda hoje não são poucos os que mantêm tais pontos de vista, mesmo fora do âmbito das religiões do subcontinente, tornando-se estes conceitos bem popularizados no hemisfério ocidental. Todavia, os que os adotam entre nós quase nunca se preocupam com um aprofundamento filosófico-teológico da questão. Apenas crêem assim por parecer-lhes uma explicação razoável e justa do “mistério” do além. Não é incomum, em programas de entrevistas e outras ocasiões no rádio ou TV, alguém famoso ser indagado se crê na reencarnação, com respostas positivas expressas com freqüência.
Influência Grega
Os gregos, sob influência de Platão, desenvolveram uma teologia dualística segundo a qual o homem se compõe de dois elementos--o material, representado pelo corpo, e o imaterial, pela alma, ou espírito. As idéias de Platão encontravam paralelo entre as crenças dos demais povos pagãos em geral. Eram apenas sendo expressas em linguagem mais refinada e num contexto mais filosófico.
Já ao tempo da formação da igreja cristã, nos primeiros séculos de nosso calendário, as idéias platônicas foram desenvolvidas pelos adeptos do gnosticismo—heresia filosófica-teológica dos primeiros séculos da Era Cristã—que atribuíam à matéria a origem da maldade. O corpo, portanto, representava a corrupção, enquanto o espírito, que devia ser aprimorado, era o elemento divino que habitava o homem e que um dia haveria de retornar ao seio da divindade, sua origem. O corpo, pois, era visto como inimigo do espírito e não importava tanto. Inspirado em tais conceitos, e para que se desse o refinamento espiritual, o indivíduo precisaria submeter o corpo a constante sujeição. Daí derivaram-se práticas muito comuns entre os pagãos, e mesmo entre alguns cristãos, como autoflagelação, penitência, ascetismo, etc.
A Revelação Divina
Contudo, durante todo o tempo em que os gregos desenvolviam sua filosofia que tanta influência exerceu sobre o mundo culto, e mesmo sobre o cristianismo nos primeiros séculos, o povo hebreu dispunha da revelação divina sobre a real condição dos mortos e a natureza do homem.
O israelita tinha uma visão holística (ou integral) do homem. Antes que ser uma massa de matéria perecível contendo um elemento imaterial e “não perecível”, o homem era, para o hebreu conhecedor da Palavra de Deus, um ser completo, uma “alma vivente”, pois assim foi como saiu das mãos do Criador (Gên. 2:7). Por outro lado, a matéria não era encarada como algo mau e perverso, pois Deus a criou para o benefício e desfrute do homem (Gên. 1:28 e 31). O mundo foi criado para a glória de Deus (Salmo 19:1) e o objetivo último da Criação é glorificar e louvar o Criador (Salmo 98:7-9).
Contrariamente à concepção de gregos e outros de que na morte parte-se para o convívio de seres celestiais descartando a prisão corporal e alçando às alturas com alma refinada, os hebreus, firmados na revelação da Palavra, entendiam que o pecado humano foi exatamente motivado pelo desejo do homem de tornar-se igual ao Criador (Gên. 3:5). Em vez de a matéria má corromper o espírito, os hebreus entendiam que o pecado é que afetou toda a ordem criada (Gên. 3:17-19; Rom. 8:22).
Restituição total
Finalmente, na concepção bíblica, redenção não significa livrar-se o homem de sua condição física de ser criado por Deus, pois essa condição lhe é elemento permanente e essencial. O homem e a Criação pertencem à mesma ordem. Salvação não é o vôo da alma em direção à habitação da Divindade, num escape do corpo físico e mau. Antes, inclui todos os elementos que compõem o homem e seu ambiente no qual e para o qual Deus formou o par original. Dar-se-á a ressurreição dos corpos e a restauração do meio físico: Isaías 25:8; Daniel 12:2; Isaías 65:17, 66:33; Amós 9:13-15.
A visão cristã do além-túmulo
Ao contrário dos gregos, para os hebreus a realidade máxima é encontrada em Deus que se faz conhecido no fluxo e refluxo da história humana por Seus atos e palavras—um Deus que se comunica com o homem e lhe expressa Sua vontade e planos.
Se o hebreu já tinha tão elevada visão do além-túmulo, com a esperança de viver eternamente focalizada sobre a promessa da ressurreição dos mortos, o cristão tem razões de sobra para firmar-se em tal perspectiva. A afirmação do Mestre, acima transcrita, somar-se-á à clara instrução do apóstolo Paulo sobre a restauração final à vida daquele que conhece a verdade de que “Cristo ressuscitou”, servindo tal fato de “garantia de que os que estão mortos também vão ressuscitar” (1 Cor. 15:20; ver todo o capítulo).
Tanto para o hebreu quanto para o cristão, a salvação consiste em comunhão com Deus, não pelo abandono da matéria, e sim em meio a essa matéria reestruturada. Significará, por fim, a redenção do homem integral (corpo, alma e espírito) e a constante presença divina nos “novos céus e nova Terra” (Apo. 21:1-4).
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