Origem:
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Em abril de 2008 foi noticiado que um americano havia se matado após receber o coração de suicida em um transplante há 13 anos, se matou da mesma forma que seu doador, afirmou uma reportagem do jornal americano Beaufort Gazette. Segundo o jornal, Sonny Graham sofria de insuficiência cardíaca congestiva quando recebeu, em 1995, o coração de Terry Cottle, que havia se matado com um tiro na cabeça.
Depois de um ano com o novo órgão, ele procurou a família de Cottle para agradecer pelo órgão e acabou se envolvendo e casando com a viúva de seu doador, Cheryl Cottle, em 2004. O jornal cita fontes da polícia e afirma que Sonny Graham tinha 69 anos, se matou com um tiro na garganta na garagem da residência do casal. Segundo os amigos do casal, Graham não aparentava estar deprimido.
O controvertido fenômeno da herança de traços da personalidade do doador em transplantados objeto de estudo por cientistas. Em 2002, a revista científica Journal of Near-Death Studies publicou uma pesquisa realizada pelo neuroimunologista Paul Pearsall sobre o assunto. Pearsall entrevistou cerca de 150 receptores de transplantes de coração ou de pulmão e afirmou que as células vivas do tecido do órgão transplantado tinham a capacidade de memória.
A teoria, conhecida como "memória celular", foi tema de um livro escrito por Pearsall e inspirou ainda a professora de dança Claire Sylvia a publicar um livro (A Voz do Coração). Claire havia sido entrevistada por Pearsall e descreveu sua experiência depois de ter recebido o coração de um jovem. Claire, que nunca havia bebido cerveja, acordou da cirurgia pedindo pela bebida preferida de seu doador. Apesar das pesquisas sobre a herança da personalidade dos doadores, vários especialistas em transplantes afirmam que ainda há pouca prova científica sobre esta relação (fonte: BBC Brasil).
Essa idéia é muitas vezes explorada na literatura, tentando misturar fantasia e realidade. Teria o transplante a capacidade de levar ao receptor algo da personalidade do doador? Como faz o médico Jacques Poulin no livro Le coeur de la baleine bleue (1987) aproveitando o fascínio que o transplante sempre exerceu no imaginário popular, principalmente o de coração, como algo capaz de ultrapassar a esfera biológica, levando vivências e traços de personalidade de um corpo para outro.
Hoje a ciência sabe que racionalmente isso não é verdade. No livro de Jacques Poulin, a maior preocupação da personagem Noel, candidata a um transplante de coração, não é com a compatibilidade orgânica, mas com a afinidade de personalidade. A preocupação aumenta quando ele descobre que o coração a ser transplantado pertencera a uma jovem do sexo feminino. Teme que o novo coração, órgão visto como a sede das emoções, possa trazer-lhe sentimentos femininos e juvenis que entrariam em conflito com seu corpo de homem de meia idade. Com efeito, a partir do transplante, Noel é invadido por uma grande doçura, característica geralmente associada ao sexo feminino (Luíza Beatriz Amorim Melo Alvim, 2000).
Co-morbidade psiquiátrica com os transplantes
A mistura de sintomas orgânicos e as mudanças psicológicas podem surgir em pacientes transplantados no período imediato e posterior à cirurgia. Geralmente o paciente sente grande alívio, porém, há sensações de insegurança e desproteção, há conflitos diante de novas possibilidades e habilidades. A possibilidade de satisfazer antigos desejos pode causar medo. Se por um lado há prazer e felicidade pelas novas possibilidades, por outro lado o medo da rejeição do órgão é um constante fantasma atrás da cortina. Por conta desse medo o comportamento exageradamente cauteloso acaba restringindo as atividades.
O acompanhamento psiquiátrico e psicológico tem sido fundamental no procedimento dos transplantes. Existem altas taxas de co-morbidades psiquiátricas em pacientes com disfunções orgânicas crônicas e/ou à espera de transplantes. Entre 18 e 45% dos pacientes com doença cardíaca possíveis de transplante tem depressão. Os candidatos a transplante pulmonar relatam histórico de transtorno psiquiátrico em até 50% dos casos (Craven, 1990).
Mundy e cols. (2000) concluem que a maioria das pessoas submetidas ao transplante de medula – que pode muito bem ser aplicado aos transplantados em geral – apresenta mais ansiedade, depressão e estresse no período de espera e preparação do que na fase de recuperação após o tratamento. Os autores sugerem que, possivelmente, isso ocorre porque antes do transplante os pacientes temem as possíveis complicações do procedimento.