Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Debates e discussões acerca das crenças, doutrinas e a história das Testemunhas de Jeová.
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Lourisvaldo Santana
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Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Lourisvaldo Santana »

Faz algum tempo que me questiono por que a Torre divide os pecados em duas categorias: os que podem incorrer em desassociação e os que podem implicar em o/a praticante ser considerada dissociado/a.

Sabemos que pecados tais como matar, roubar, mentir e fornicar são considerados atos passíveis de desassociação. Agora veja o seguinte trecho do livro Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, edição de 1991:
Visto que os verdadeiros cristãos dedicados ‘não fazem parte do mundo', se um membro da congregação impenitentemente se empenha num proceder que viola a neutralidade cristã, ele, desse modo, dissocia-se da neutra congregação cristã. (João 15:19; 17:14-16 ; w82 15/8 p. 31).

Caso se saiba de algo assim, os anciãos devem falar com quem planeja adotar tal proceder, visto que poderia estar agindo assim em ignorância. (Sal. 119:67; Gál. 6:1; 1 Tim. 1:13).

Se ele desprezar a ajuda oferecida e empenhar-se num proceder que viole a neutralidade cristã, a comissão deve enviar à Sociedade os fatos que justificam a dissociação nos formulários S-77-T e 5-79-T

Faz-se geralmente um anúncio à congregação de que a pessoa dissociou-se da congregação, e deve-se avisá-la oralmente de sua posição. Se por motivos atenuantes não se fizer nenhum anúncio, as pessoas na congregação que talvez sejam visitadas pela pessoa dissociada podem ser informadas em particular. A pessoa deve ser tratada da mesma maneira que um desassociado. Veja a Seção 5 (a), páginas 101-2 (Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, página 140, edição de 1991).
Observação: por violação da neutralidade cristã, subentende-se que se trata de se envolver na política, geralmente dando apoio a um partido e candidatando-se a algum cargo.

Agora note o que diz a revista A Sentinela de 15 de outubro de 1986, pagina 31.
Perguntas dos Leitores
Qual é a adequada reação da congregação quando alguém abandona a verdadeira fé cristã e adere a outra religião?

Os anciãos, ou pastores, da congregação talvez venham a saber de um cristão batizado, que deixou de se associar com o povo de Jeová, e que aparentemente se associou a outra religião. Em harmonia com as palavras de Jesus sobre preocupar-se com qualquer ovelha extraviada, os pastores espirituais devem interessar-se em ajudar tal pessoa. (Mateus 18:12-14; 1 João 5:16.) Mas, que dizer se os pastores designados para cuidar do assunto concluírem que ela nada mais quer com o povo de Jeová e que está decidida a permanecer numa religião falsa?

Eles simplesmente anunciarão à congregação que tal pessoa dissociou a si mesma, e assim não é mais Testemunha de Jeová. Tal pessoa ‘abandonou sua anterior lealdade’, mas, não é necessário tomar nenhuma medida formal de desassociação. Por que não? Porque ela já se dissociou da congregação. Provavelmente não tenta manter contato com seus ex-irmãos, para persuadi-los a segui-la. De sua parte, os irmãos leais não procuram companheirismo com ela, visto que ‘saiu do meio deles, pois não era dos deles’. (1 João 2:19)
O livro Organizado Para fazer a Vontade de Jeová diz, à página 155:
O termo "dissociação" se aplica a ação tomada por uma pessoa que, embora seja membro batizado da congregação, repudia deliberadamente sua posição cristã, rejeitando a congregação por meio de suas ações ou por declarar que não deseja mais ser reconhecido como Testemunha de jeová.
Pela interpretação bíblica da Torre, dois dos pecados mais abomináveis são promover a religião falsa e o sistema político; sua literatura está repleta de condenações a Babilônia, a Grande, como sendo o império mundial da religião falsa, ocasião em que geralmente recorre ao texto de Apocalipse 18:4, que alerta: “Saí dela, povo meu, se não quiserdes compartilhar com ela nos seus pecados". O sistema político, segundo a Torre, é retratado como sendo a fera de sete cabeças do capítulo 13 de Apocalipse, a qual, segundo a interpretação, está diretamente sobre a direção de Satanás, o Diabo.

Em razão desses fatores, eu questiono: por que uma Testemunha que entra na política ou muda para outra religião, pecados extremamente graves, é considerada dissociada, ao passo que quem mente ou rouba, pecados aparentemente banais, pode ser punido com a desassociação? Do meu ponto de vista, mais honra tem quem pode dizer que dissociou-se das Testemunhas de Jeová do que quem foi desassociado. A própria pessoa desassociada, muitas vezes o é em razão de pecados dos quais não resistiu aos impulsos, e talvez sofra desesperadamente por isso. Ao contrário, quem se dissocia, ou que assim o é declarado, geralmente está conformado com a situação e talvez até muito satisfeito.

Pelas minhas pesquisas na literatura da Torre, não consegui nenhuma explicação que me ajudasse a entender isso. Assim, pergunto aos foristas, caso alguém saiba: como a Torre justifica essa aparente discrepância?

Seria, por acaso, em se tratando dos casos abordados, por estar envolvidos ações asseguradas por organismos e instituições internacionais, como sendo um direito inviolável, e por conseguinte, muito difícil de se justificar para a opinião pública?

Para uso da moderação---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
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Mentalista
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Mentalista »

O anúncio é o mesmo: "Fulano [e Sicrano] não é/são mais Testemunha de Jeová."
Eles ferem a reputação do mesmo modo. A maioria julga logo que foi imoralidade sexual: adultério se casado, fornicação se solteiro.
Se a pessoa, no entanto, dizer o que pensa para outras TJs, aí essas vão espalhar que ela está apostatando. Daí, quando as pioneiras fofoqueiras estiverem no campo, vão contar o motivo, sem aumentar muito...
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TJCalado
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por TJCalado »

Acho que o motivo está na maneira que você [e também a maioria das TJs] entende o processo de desassociação/dissociação. Este é mais um caso em que um rótulo dá um significado diferente ao nome, coisa que acontece por causa dos anos que se passa mergulhado lá dentro.
Dissociar-se não é uma maneira mais leve de sair da organização. Quem deixa de ser TJ sendo expulso ou pedindo para sair são encarados da mesma maneira, tanto é que o tratamento dado a ambos é igual.
As palavras só descrevem COMO essa pessoa saiu.
O que ocorre é que quando a pessoa pede para sair ou então é considerada dissociada, os TJs e principalmente os anciãos sentem que a pessoa esnobou o último biscoito do pacote, a organização. Muitas vezes até procuram um motivo, procuram ver se não tem um pecado escondido que possam aproveitar para a pessoa ser desassociada.
Aí sim, eles sentem vitoriosos. Sentem que foram eles que controlaram a situação.
Por causa desse sentimento é que a desassociação é encarada como uma punição mais severa. Mas na doutrina oficial não.

Espero que eu tenha conseguido explicar o meu ponto de vista.
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Debora
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Debora »

Lourisvaldo Santana escreveu:
Em razão desses fatores, eu questiono: por que uma Testemunha que entra na política ou muda para outra religião, pecados extremamente graves, é considerada dissociada, ao passo que quem mente ou rouba, pecados aparentemente banais, pode ser punido com a desassociação? Do meu ponto de vista, mais honra tem quem pode dizer que dissociou-se das Testemunhas de Jeová do que quem foi desassociado. A própria pessoa desassociada, muitas vezes o é em razão de pecados dos quais não resistiu aos impulsos, e talvez sofra desesperadamente por isso. Ao contrário, quem se dissocia, ou que assim o é declarado, geralmente está conformado com a situação e talvez até muito satisfeito.

Pelas minhas pesquisas na literatura da Torre, não consegui nenhuma explicação que me ajudasse a entender isso. Assim, pergunto aos foristas, caso alguém saiba: como a Torre justifica essa aparente discrepância?
Desde quando a torre quer se entenda completamente seus ensinos ? Não é ela que prega que "mesmo que não entendamos certas ensinamentos...."
Achei bem interessante estas duas situações que você mencionou. Deveriam ser pesadas e analisadas de formas diferente. Porém, não podemos esquecer que tanto o di/desassociado recebem o mesmo tratamento de excluído do meio deles. É o fermento que leveda a massa toda. Algo a ser extirpado.
Sabe de denúncias de abuso sexual infantil dentro da organização das Testemunhas de Jeová? Envie dicas investigativas, informações e documentos sobre este tópico para o Ministério Público de São Paulo: avarc@mpsp.mp.br
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Lourisvaldo Santana
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Lourisvaldo Santana »

Mentalista, TJCalado e Debora: Entendo o raciocínio de vocês, mas considerem:

A Torre argumenta que as próprias ações da pessoa a coloca numa condição de dissociada. Considerando isso, por que alguém que, pela prática da fornicação, é desassociado, enquanto que alguém, pela prática da política, é considerado dissociado? Por que, nessa ótica, não se pode dizer que o fornicador dissociou-se?. Não são ações igualmente "erradas"?
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Mentalista »

1 Coríntios 5:11 diz para os cristãos não terem "convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem." Não é o acusado que deixa de ter convivência, mas a pessoa que soube do que ele faz.

No caso da dissociação, nenhum pecado daqueles é cometido, nem dá a bíblia base para isso. Por isso, é cômodo para eles considerarem que a pessoa se dissociou.

O interessante é que a Bíblia realmente não fala "cessai de ter convivência com qualquer que se chame irmão [ou não queira mais ser chamado assim], que for fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem."

Além disso, ela fala de convivência, não de cumprimentar, dar um bom dia etc. E tenho mais um ponto: o que torna alguém um fornicador? Se eu atirar uma flecha, já posso me considerar arqueiro? E mais outro: "cessai de ter convivência" indica uma disposição pessoal, não um anúncio e proibição para isso.
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DELTA
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por DELTA »

Minha curta opinião sobre o assunto e o real motivo do tratamento diferenciado:
Desassociados por fornicação,roubo,etc tendem a VOLTAR para a torre.
Desassociados por envolvimento com outra religião ou Dissociados tendem a NÃO VOLTAR para a torre.
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Soares »

DELTA escreveu:Minha curta opinião sobre o assunto e o real motivo do tratamento diferenciado:
Desassociados por fornicação,roubo,etc tendem a VOLTAR para a torre.
Desassociados por envolvimento com outra religião ou Dissociados tendem a NÃO VOLTAR para a torre.
Sim, é uma questão de rótulo dada pela postura do que sai por expulsão ou por iniciativa própria(chorando ou criticando severamente a religião), e a impressão percebida pelo comitê que julga a vítima. Acho que o Delta foi feliz nessa colocação, claro, somando-se a tudo o que foi dito, se trata mesmo uma questão de rótulo ou um código, para "marcar" o grau de pecado ou entendimento da pessoa.

Abçs a todos.
MAIS UM TIJOLO NO MURO. "[...]eu não entendi como a solidão de quem tem alguém, pode ser maior a de quem não tem ninguém[...]"
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TJCalado
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por TJCalado »

Esse tópico me fez pensar ainda mais sobre modelo de batismo das TJ. Agora entendo ainda mais como algo sem valor espiritual algum.
Lourisvaldo Santana escreveu:Mentalista, TJCalado e Debora: Entendo o raciocínio de vocês, mas considerem:

A Torre argumenta que as próprias ações da pessoa a coloca numa condição de dissociada. Considerando isso, por que alguém que, pela prática da fornicação, é desassociado, enquanto que alguém, pela prática da política, é considerado dissociado? Por que, nessa ótica, não se pode dizer que o fornicador dissociou-se?. Não são ações igualmente "erradas"?
Mas fornicação, adultério, etc, são pecados bíblicos. Nesse caso, segundo a doutrina TJ, eles podem julgar a pessoa com uma comissão e tal. Quanto ao fato de se filiar a outras organizações, lembre-se que toda TJ é considerada "associada" à Torre de Vigia. Associar-se com outra instituição é entendido como abandono. Como o adultério invalida o casamento, a associação a outra religião ou a algum partido político, desfaz o laço do associado com a Torre.
Tudo nas TJs sofre a influência do legalismo. Até o batismo, que não é somente religioso (nem sei se é religioso). As perguntas são claras (porém sutis), e o membro responde que naquele momento está se associando à Torre de Vigia, entendida como Organização de Deus.
Me parece que, enquanto a desassociação é aplicada em casos de pecado (e nesse caso eles ainda tentam recuperar o sujeito), a dissociação é uma ferramenta usada pelo membro em casos de desfiliação à Associação Torre de Vigia, e acredito que dissociados não são mais procurados pelos anciãos.
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Re: Dissociação: vejo cabelo nesse angu

Mensagem não lida por Mentalista »

TJCalado escreveu:e acredito que dissociados não são mais procurados pelos anciãos.
Pois os anciãos poderiam se "contaminar".
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