Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Debates e discussões acerca das crenças, doutrinas e a história das Testemunhas de Jeová.
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Alexei Karamazov
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Alexei Karamazov »

Victini escreveu:
Alexei Karamazov escreveu: Nós não simplesmente abandonamos uma religião: nós a superamos.
Como realista, minha preocupação é um pouco maior, pois efetivamente superar os esquemas de culpa e medo implantados pela lavagem cerebral daquela forma de cristianismo, tudo isso toma tempo.
A liberdade não se alcança sem luta, muito menos se mantém sem vigilância.
Gostei muito da profundidade desse raciocínio. Especialmente a última frase.
Mas sinceramente não entendi as seguintes palavras, nesse contexto:

"Como disse em outra conversa, EX-TJ é inferior a X-TJ.
Somos mais."

Faria o favor de explicar?
Pois é, Victini, o Pascoal explicou.
A ideia se relaciona com a força das palavras: "X" é mais. É superação. É extraordinário. É excelente.
Por outro lado, confesso que ainda me assusto como alguns dissidentes aceitam a pecha de inferioridade dada pela Torre.
Assusto-me mais ainda como se pode, depois de livre da rotina de reuniões-assembléias-congresso-lançamentos-comemoração-campo-visitaSC-tudodenovo, continuar pejado àquilo e, de fora, ficar fiscalizando a mesma rotina que se rejeitou.
De fato, a pessoa traça seu destino: ser um apóstata, eternamente vinculado aos grilhões que a prendiam.
É como o prisioneiro que, depois de libertado, fica parado diante da prisão a contemplar sua rotina, o entra-e-sai de carcereiros, os eventos e as visitas de autoridades que recebe, os novos presos, os fugitivos, os reincidentes...
Na verdade, a pessoa permanece cativa, exatamente como intencionado pelo programa de lavagem cerebral a que foi submetida.
Tú que consideras al hombre tanto dios como oveja—,
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Victini
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Victini »

Alexei Karamazov escreveu:.
Na verdade, a pessoa permanece cativa, exatamente como intencionado pelo programa de lavagem cerebral a que foi submetida.
Agora estou com o tempo muito contado... pretendo "beber" melhor esse raciocínio.
Mas chamar a coisa de "programa" foi soberbo. Eu volto a este tópico... mais tarde. O dia tá puxado.
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Mentalista »

É bem isso mesmo, Alexei. Eu fazia isso até pouco tempo atrás: ficar pensando, sem querer querendo, nos assuntos torreanos. O interessante é que agora isso pouco me passa pela cabeça. Só penso na organização nos dias de reunião - de qualquer jeito, acho muito. Durante as reuniões minha atenção é tão pequena que eu posso honestamente dizer que não me lembro do que foi dito em qualquer reunião nestes últimos meses. Esqueci um monte de versículos tipicamente usados pelas TJs no campo. Com a nova bíblia, nem mencionar o conteúdo deles eu saberei, algo que ainda consigo. A única coisa que ainda me liga a esses assuntos é o fórum. Mesmo assim, tenho participado pouco em tópicos com debates sobre doutrinas ou coisas assim. Tenho mais interesse na exposição da Torre como uma seita fundamentalista.
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por pascoalnaib »

Mentalista cita:
Tenho mais interesse na exposição da Torre como uma seita fundamentalista.
E essa precisa com certeza ser combatida. E não existe pessoa melhor para esse trabalho que que a gente...ex-TJs.
Se ficamos presos tanto tempo...por que não doar um tempinho para ajudar mais pessoas que lá se encontram?
A dissidência também precisa ver essas questões com carinho.
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Herege Aprisionado »

pascoalnaib escreveu:Mentalista cita:
Tenho mais interesse na exposição da Torre como uma seita fundamentalista.
E essa precisa com certeza ser combatida. E não existe pessoa melhor para esse trabalho que que a gente...ex-TJs.
Se ficamos presos tanto tempo...por que não doar um tempinho para ajudar mais pessoas que lá se encontram?
A dissidência também precisa ver essas questões com carinho.

Pra falar bem a verdade, se eu saísse completamente, tanto no sentido mental como também físico da torre, eu nunca mais iria pensar nem em religião, nem em bíblia, nem em ancião e em mais nada relacionado á isso.
Mas eu ainda estou lá, e querendo ou não, a lavagem cerebral é poderosa...Eu preciso me alimentar e ás vezes desabafar aqui no fórum!
Se eu não recebesse a ajuda de tantos dissidentes, direta ou indiretamente, não sei se estaria tao decidido a fugir de lá.

Obrigado a todos por me ajudarem e ajudarem a tantos outros!
A Fé não dá respostas , só impede perguntas.
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pascoalnaib
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por pascoalnaib »

Herege Aprisionado cita:
Se eu não recebesse a ajuda de tantos dissidentes, direta ou indiretamente, não sei se estaria tao decidido a fugir de lá.

Obrigado a todos por me ajudarem e ajudarem a tantos outros!
É por esses depoimentos que continuo essa luta e convido a todos a fazerem o mesmo.

Não precisa postar textos elaborados, não precisa viver acessando aqui ou mesmo só pensando em dissidência. Seria uma loucura propor isso. Mas, curtir, compartilhar e até divulgar nosso Fórum para mais pessoas já é um belo começo. ;)
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Victini
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Victini »

Alexei Karamazov escreveu: De fato, a pessoa traça seu destino: ser um apóstata, eternamente vinculado aos grilhões que a prendiam.
Por favor, compare as palavras a negrito, na sua citação a cima, com as da citação abaixo:
Alexei Karamazov escreveu:Na verdade, a pessoa permanece cativa, exatamente como intencionado pelo programa de lavagem cerebral a que foi submetida.
Se a pessoa foi submetida a um programa de lavagem cerebral é difícil desvincular a ideia de pessoa cativa de pessoa que traça seu destino.

Eu acredito que sou uma dissidente que traça seu próprio destino dentro das circunstâncias que se me apresentam. Mas também acredito que nenhum de nós está totalmente liberto da totalidade dos fantasmas tejoteanos, visto ainda não termos respostas existenciais conclusivas.

Às vezes pode parecer que o ateísmo, ou o agnosticismo, são a única forma, ou a forma mais completa de libertação da lavagem cerebral... mas de que adianta se libertar do conceito de "Jeová" ou "Deus" se intimamente a pessoa não se libertar de padrões de comportamento e ideológicos bem característicos da "moralidade" TJ?
É um trabalho íntimo permanente. Mais do que se libertar de Deus, há a necessidade de libertar a mente. E sou absolutamente tolerante com o ateísmo, desde que o compreendi de forma mais ampla. Mas daí a aceitá-lo como verdade única, não. Eu não acredito em verdade absoluta. Acredito em verdade progressiva. Quem sabe um dia eu ainda encontre um entendimento que me explique tudo sem Deus?
E quem sabe os ateus ainda encontrem um entendimento sobre Deus? Verdade progressiva. :7
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Alexei Karamazov
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Alexei Karamazov »

Victini escreveu:
Alexei Karamazov escreveu: De fato, a pessoa traça seu destino: ser um apóstata, eternamente vinculado aos grilhões que a prendiam.
Por favor, compare as palavras a negrito, na sua citação a cima, com as da citação abaixo:
Alexei Karamazov escreveu:Na verdade, a pessoa permanece cativa, exatamente como intencionado pelo programa de lavagem cerebral a que foi submetida.
Se a pessoa foi submetida a um programa de lavagem cerebral é difícil desvincular a ideia de pessoa cativa de pessoa que traça seu destino.
Entendi: se a pessoa foi programada, como pode exercer escolha?

O programa de ensino da Torre não é uma lobotomia, em que a pessoa fica privada da vontade pessoal e autonomia. É um programa de regulação mental. A vontade não está de todo sufocada. Uma pessoa submetida a um programa de lavagem cerebral pode se recuperar, mas é necessário persistência no exercício da vontade.

A pessoa, depois de sair, por vezes não consegue se libertar. Sair é um ato de liberdade, de autonomia, um exercício de vontade, mas é também uma violência contra seus hábitos, sua "zona de conforto". Assim, nem todos conseguem romper a programação. Ao invés de assumir sua posição como dissidente, aceita a pecha de apóstata dada pela Torre e permanece em sua fronteira. Nesse sentido é que traça seu destino. É como o prisioneiro que se acostumou às grades e, depois de liberto, volta ao sistema prisional.

No livro 1984, de Orwell, a resistência era só mais um desdobramento do poder do Grande Irmão. Do mesmo modo, a Torre, ao nominar "os apóstatas" - termo que não é usado nas Escrituras - tenta se apropriar do fenômeno da dissidência, alegadamente visando a proteção do "rebanho". Na verdade, visa sua alienação e domínio. Voltam-me a mente as lágrimas de Winston Smith ao se emocionar com o discurso do Grande Irmão, após sua "recuperação". Quão similar ao retorno dos desassociados! .

Concordo com o que você diz: ninguém se liberta totalmente dos fantasmas. Mas de que adianta sair da religião e fazer a vida girar em torno de sua antiga rotina?

Não sou ateu, embora esteja próximo do agnosticismo. Meu pensamento sobre Deus se coaduna com as visões de Giordano Bruno, Dostoiéviski e Nietzsche, e ainda me encanto com os ensinos morais do hinduísmo. Não desenvolvi essas perspectivas depois de sair da Torre, mas durante minha estadia ali. Esse desenvolvimento, em si, foi o meu caminho da liberdade. Existem muitos outros... :7
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Victini »

Alexei Karamazov escreveu:
Entendi: se a pessoa foi programada, como pode exercer escolha?

V - Exato, esse era o ponto.

O programa de ensino da Torre não é uma lobotomia, em que a pessoa fica privada da vontade pessoal e autonomia. É um programa de regulação mental. A vontade não está de todo sufocada.

V - Com certeza, mas continua a ser uma vontade condicionada. Não é uma escolha livre total.

Uma pessoa submetida a um programa de lavagem cerebral pode se recuperar, mas é necessário persistência no exercício da vontade.

V - E bote persistência nisso. E quando a pessoa sai mas mantêm contacto com TJs, de alguma forma, o exercício da vontade é uma questão de luta pela sobrevivência da sua identidade, por todo o tempo que se "revestiu da nova personalidade".

A pessoa, depois de sair, por vezes não consegue se libertar. Sair é um ato de liberdade, de autonomia, um exercício de vontade, mas é também uma violência contra seus hábitos, sua "zona de conforto". Assim, nem todos conseguem romper a programação. Ao invés de assumir sua posição como dissidente, aceita a pecha de apóstata dada pela Torre e permanece em sua fronteira. Nesse sentido é que traça seu destino. É como o prisioneiro que se acostumou às grades e, depois de liberto, volta ao sistema prisional.

V - Mas a par da lavagem cerebral caminha um outro fator que condiciona a sua libertação mental: o fundamentalismo.
Como suposto "povo de Deus" (aos próprios olhos, claro) as TJ sentem-se no direito de executar um tipo de "guerra teocrática" contra aqueles que isolados não aceitam a totalidade das suas ideologias. É uma luta desigual...


No livro 1984, de Orwell, a resistência era só mais um desdobramento do poder do Grande Irmão. Do mesmo modo, a Torre, ao nominar "os apóstatas" - termo que não é usado nas Escrituras - tenta se apropriar do fenômeno da dissidência, alegadamente visando a proteção do "rebanho".

V - Eu penso que o conceito de apóstata é sim usado nas escrituras, mas de forma diferenciada, e descontextualizada, do modo como as TJs fazem.

Na verdade, visa sua alienação e domínio.

V - "Não pode ler esse livro". "Não pode assistir aquele filme". "Não pode escutar aquela música". "Não pode falar com os opositores". Enfim: "não deve pensar nem respirar nada que não seja Watchtower".

Voltam-me a mente as lágrimas de Winston Smith ao se emocionar com o discurso do Grande Irmão, após sua "recuperação". Quão similar ao retorno dos desassociados! .

V - Falta de tempo para conhecer esse Grande Irmão. :D

Concordo com o que você diz: ninguém se liberta totalmente dos fantasmas. Mas de que adianta sair da religião e fazer a vida girar em torno de sua antiga rotina?

V - E o que seria fazer a vida girar em torno da sua antiga rotina?
O que as TJ mais desejavam era que os dissidentes se esquecessem que um dia foram TJs, numa aceitação passiva daquilo que discordaram lá dentro.
Eles queixam-se que sofrem preconceito, mas esquecem-se que são os primeiros a demonstrar preconceito com a diferença. E aqueles que não são preconceituosos enquanto TJs - eu não era! - são forçados a posturas que os tornam hostilizantes e hostilizados.


Não sou ateu, embora esteja próximo do agnosticismo. Meu pensamento sobre Deus se coaduna com as visões de Giordano Bruno, Dostoiéviski e Nietzsche, e ainda me encanto com os ensinos morais do hinduísmo. Não desenvolvi essas perspectivas depois de sair da Torre, mas durante minha estadia ali. Esse desenvolvimento, em si, foi o meu caminho da liberdade. Existem muitos outros... :7

V - Eu não posso dizer que as minhas ideologias atuais foram fomentadas durante o meu período de Torre, mas de fato foram lançadas sementes nos meus momentos de abstrações.
A lavagem cerebral nunca conseguiu atingir a essência de certos pensamentos meus... e um dia eu escapei como uma enguia. E escapei de novo. E escaparei sempre.
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Re: Apóstatas ou dissidentes? Uma consideração.

Mensagem não lida por Alexei Karamazov »

- E o que seria fazer a vida girar em torno da sua antiga rotina?
Simples: não perder um lançamento, manter-se em dia com A Sentinela e a Despertai!, o último congresso, a última assembléia, o memorial, ou mesmo não deixar que sarem as cicatrizes... Sem esforço, o vazio na rotina pode ser facilmente preenchido por isso. A "cura" é também um processo, mas tem de ser contínuo. Do contrário, não é efetivo.
O que as TJ mais desejavam era que os dissidentes se esquecessem que um dia foram TJs, numa aceitação passiva daquilo que discordaram lá dentro.
Hummm... sei não! Acho que desejam o contrário: que tenhamos saudades de lá, para que voltemos como gado obediente ao curral, pastar a grama reciclada e processada que servem ali, e sermos tosquiados como de costume... em reconhecimento de que as TJs estão certas.

Quanto ao termo apóstata, não é usado para dar nome a ninguém. Paulo se refere aos que se afastaram, mas não os rotula, nem cria uma categoria, como fizeram as TJs.
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